Uma mulher de 43 anos e dois filhos dela, de sete e 19 anos, sobreviveram depois de 12 horas boiando no Guaíba e mais dois dias em uma praia de Barra do Ribeiro, após o naufrágio de uma embarcação na última quinta-feira (2) na região entre o Guaíba e a Lagoa dos Patos. Outros dois familiares que estavam no pequeno barco não tiveram a mesma sorte e foram encontrados sem vida nesta segunda-feira (6).

De acordo com a  Capitania Fluvial de Porto Alegre, os sobreviventes foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros no domingo (5) por volta de 18h30min, na Praia da Serrinha, que fica na Lagoa dos Patos. 

— É um milagre (o resgate dos três), não tem outra explicação — afirmou o sargento Alexandre Guedes, que participou da coordenação das buscas. — A gente fica 40 minutos na água e já congela, imagina 12 horas? – questiona-se o experiente bombeiro.

Um pescador foi quem encontrou Roselaine Denise Silvestre de Vargas, 43 anos, Pâmela Silvestre de Vargas, 19 anos, e Luan Silvestre de Vargas, sete anos, na Praia da Serrinha, na região da Ponta Escura, que pertence à Barra do Ribeiro. Os três se salvaram porque usavam coletes salva-vidas.

— Como uma criança de sete anos sobreviveu é o mais impressionante. O guri é pequeno, quase não tem gordura para suportar o frio. Para alguém grande e gordo já seria difícil — aponta Guedes.

O pescador e a família foram localizados por um helicóptero da Companhia Especial de Busca e Salvamento (Cebs) do Corpo de Bombeiros no final da tarde de domingo (5).

As buscas haviam começado somente uma hora antes, quando outro filho do casal, 

que não teria ido ao passeio para visitar a namorada, voltou para casa e se deu conta do desaparecimento. O jovem teria ido até a Praia do Lami, localizou o táxi do pai e então avisou aos bombeiros, por volta das 17h de domingo.

— Eles ficaram três dias tomando apenas a água podre do Guaíba. Mas isso não é o pior. O pior é o frio, terem ficado sem comer nada por três dias e (sendo) atacados por mosquitos — comenta o sargento.

Além de sinais de hipotermia e marcas de picadas pelo corpo, Roselaine, Pâmela e Luan tinham escoriações no pescoço, provocadas pelo movimento do colete salva-vidas durante as 12 horas que ficaram boiando na água.

Temporal e problema em bomba

De acordo com o capitão Rafael Barcelos Venturella, que está à frente do Cebs, a família Vargas fazia costumeiramente esse passeio com objetivo de pescar – saem do Lami e vão acampar na Ilha da Ponta Escura. Para o comandante, dois podem ter sido os motivos do naufrágio: um temporal que atingiu a região ou um problema na bomba de porão – que retira água que eventualmente entra no barco.

— É uma embarcação relativamente pequena para condições adversas do tempo — afirma Venturella, acrescentando que o barco da família, feito de fibra, tinha seis metros de comprimento e motor de 40 HP.

Conforme informações de Roselaine aos socorristas, o marido, Daniel Silvestre de Vargas, 50 anos, ao notar que a embarcação afundava, começou a colocar os coletes salva-vidas na mulher, nos filhos e na sogra, Nair Guedes, 70 anos. A suspeita é de que não tenha dado de tempo de colocar em si mesmo – um colete foi localizado pelos resgatistas no domingo. Por isso, Vargas teria se agarrado a um tonel, possivelmente de combustível.

Ele também teria ficado cuidando da sogra, já que ela era idosa. Os corpos dos dois foram localizados somente na manhã desta segunda-feira (6) por equipes do helicóptero dos bombeiros.

Ainda conforme a Capitania Fluvial de Porto Alegre , até o momento, a embarcação usada por Daniel e sua família não foi localizada. Não há informações sobre a causa do naufrágio. Um inquérito irá investigar o caso. 

Fonte: GauchaZH - VANESSA KANNENBERG