Norberto Garrido nasceu em 4 de abril de 1843, na cidade do Porto, em Portugal. Nos registros eleitorais desse luso-brasileiro, consta que era branco, operário e filho de Antônio Garrido da Silva. O documento não revela o nome da mãe.

No jornal A Federação encontramos “101 ocorrências” relacionadas à sua pessoa, envolvendo fatos profissionais e particulares, como embarques em vapores, congratulações, agradecimentos, representações, registros sociais e duas inusitadas prisões.

Ainda moço, Norberto Garrido veio morar no Brasil, e sua entrada em solo brasileiro deu-se pela cidade do Rio de Janeiro. Não se tem notícia de sua naturalização, mas é muito provável que ela tenha ocorrido, pois foi eleitor cadastrado e concorreu a cargos públicos por voto indireto.

Pode ter se tornado cidadão brasileiro por dois caminhos. Um, pela mão do Presidente da Província, que detinha o poder de naturalizar estrangeiros, com base no artigo 14 da Lei n° 3.140, de 30 de outubro de 1882. Outro, o mais provável, é que ele tenha recebido o benefício do Decreto n° 58-A, de 14 de dezembro de 1889, editado pelo Governo Provisório. A primeira lei republicana naturalizou, automaticamente, todos os estrangeiros residentes na recém proclamada república.

Casou-se com a senhora Ricarda Garrido da Silva e, em 1866, veio ao mundo o seu primogênito, Antônio Garrido da Silva. Em 1869 nasce o seu segundo filho, Joaquim. Os irmãos seriam os futuros comandantes das duas seções de bombeiros, com atuação entre os anos de 1895 e 1910.

Registra-se que, em 1886, residia com a sua família na Rua Riachuelo, n° 289, e ali ficaria estabelecido até a sua morte.

Em 13 de julho de 1886, numa terça-feira, é noticiado aquele que pode ser considerado o seu primeiro incêndio. Foi na Rua dos Andradas esquina com a Travessa Paissandu (Beco do Fanha), num prédio de dois andares. Na ocasião, ele é tratado como encarregado do serviço da Sociedade de Seguros Porto-Alegrense, a precursora da Cia Bom PA.

Em 1887 foi escolhido para presidir a Sociedade Dramática Filhas de Thalia, uma badalada trupe teatral. A veia artística da família Garrido era pujante, tendo como expoente o conceituado comediógrafo Eduardo Garrido. Norberto teve participação ativa em várias entidades culturais e filantrópicas, entre elas, o Amparo das Famílias.

Acionista da Companhia Hidráulica Guaibense, manifestou-se em sessão da empresa, do dia 20 de agosto de 1891, dizendo que o terreno da Rua Dr. Ramiro Barcellos nunca deveria ser vendido abaixo do seu custo. A proposta foi aprovada por todos os presentes na sala principal do Teatro São Pedro, sob a presidência do Dr. Alfredo Augusto Azevedo, futuro intendente.

Além de bombeiro, Garrido também desempenhou com sucesso a função de policial. O Anuário da Província (1885/1891) revela que, em 6 de fevereiro de 1888, foi subdelegado de polícia do 1° Distrito. O jornal republicano A Federação narra várias ocorrências em que ele prendeu ladrões de joias, acompanhou corpos de delito de suicidas e acabou com a desordem de baderneiros.

Em 1892, voltou a ser titular da Vara da Delegacia de Polícia, após figurar várias vezes como suplente. Nesse mesmo ano, sofreu um acidente durante um incêndio, ficando afastado do serviço.

No ano seguinte, viveu uma experiência constrangedora para um ex-policial. Passou quatro dias numa cela sob a acusação de boateiro, provavelmente oriundas de querelas políticas. Levado à frente do juiz, a prisão foi convertida em multa. Em 1894 é novamente preso, mas logo é solto. O boletim da Grande Oriente do Brasil informa que ele e mais dois irmãos maçônicos foram encarcerados injustamente por suspeita de serem cúmplices da Revolução Federalista.

Essas duas detenções não foram suficientes para ofuscar a sua ficha, nem sua nomeação, em 1895, quando tornou-se o primeiro comandante da Companhia de Bombeiros de Porto Alegre.

Ao longo da sua carreira teve alguns reconhecimentos públicos, a exemplo do mimo ofertado pela Federação de Bombeiros Portugueses. Em dezembro de 1900, a entidade lusitana enviou-lhe uma fivela de ouro da Ordem da Cruz Branca como prêmio pelos relevantes serviços prestados à cidade de Porto Alegre.

No seu uniforme eram ostentados dois galardões. Um trata-se da medalha de ouro deferida em 13 de novembro de 1887 pela Câmara de Comércio, em reconhecimento aos seus ótimos serviços. A outra comenda era uma Medalha de Distinção 2ª classe, concedida pelo Ministério da Justiça, recebida em outubro de 1901, outorgada com base no Decreto n° 58, de 14 de dezembro de 1889, por ocasião de um incêndio na Rua da Alegria.

O decreto imperial distinguia pessoas que promovessem serviços extraordinários prestados à humanidade por ocasião de naufrágios e riscos marítimos, quer em casos de incêndios, de peste ou de qualquer calamidade. O agraciado deveria ter demonstrado dedicação incomum pela humanidade e prestado serviços pessoais tão importantes ao ponto de serem dignos de especial consideração.

Sem conseguir precisar a data, mas entre junho de 1901 e julho de 1902, fica viúvo e assim permanece até a sua morte. 

Depois de cumprir com dedicação os seus 15 anos como comandante da Companhia de Bombeiros, aposentou-se em meados de janeiro de 1910, aos 67 anos de idade. No período seguinte, foi nomeado presidente do Conselho Kadosh da Grande Loja da Maçonaria do Grande Oriente do Rio Grande do Sul.

Pouco mais de um ano do seu afastamento do serviço ativo, no dia 08 de maio de 1911, aos 68 anos de idade, faleceu repentinamente na sua residência, em Porto Alegre. A hemorragia cerebral foi a causa mortis atestada pelo Dr. Luís Masson. Deixou saudade eterna aos seus três filhos, Joaquim, Antônio e Luíza Maria Garrido Barcellos, além dos netos.

A imprensa registrou um funeral muito concorrido, revelando o seu prestígio junto à sociedade porto-alegrense. Ao ativo obreiro da Loja Grande Oriente e maçom outorgado com grau máximo da ordem (33°) são prestadas as últimas homenagens pelos irmãos da Loja Maçônica Regeneração.

Seus restos mortais repousam no jazigo perpétuo, divisão do quadro n° 2, catacumba n° 442 do Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, o mais antigo de Porto Alegre.

 

(Do livro de autoria de Daniel da Silva Adriano “Companhia de Bombeiros de Porto Alegre - Resgate de uma História /1895-1935”, p. p. 383 a 387 - Editoria Rio das Letras/ 2022)

 

 

 

 

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