Depois de quase sete horas de trabalhos, o Corpo de Bombeiros resgatou o operário que estava soterrado em uma obra localizada na Rua Palmira, no Bairro Serra, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Segundo os militares, um “milagre” salvou a vida dele. A vítima está estável e foi levada ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. Outro homem morreu logo que o acidente aconteceu, por volta das 14h desta terça-feira (21).

“Era um espaço vital mínimo. Podemos dizer que a chance de sobreviver a um soterramento como esse é muito pequena. Um deles teve a sorte de ter a parte do rosto preservada, que por onde ele conseguiu respirar”, explica o capitão Tiago Costa, do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres do Corpo de Bombeiros.

O homem foi retirado dos escombros por volta das 20h40. Nas redondezas da Rua Palmira, moradores aplaudiram o salvamento realizado pelos bombeiros.

“Primeiramente, a gente fez a estabilização da cena. Depois, a gente criou uma espécie de rampa para conseguir acessar os membros inferiores da vítima. Também criamos um ponto de ancoragem suspenso para termos a possibilidade de um içamento em caso de um novo deslizamento”, relatou o capitão Tiago Costa, ressaltando que o buraco era de aproximadamente quatro metros.

Mais cedo, a corporação confirmou a morte do outro operário que estava soterrado. O corpo dele foi retirado por volta das 22h.

De acordo com a Florença Construtora, responsável pelos trabalhos, havia seis funcionários no momento do incidente, por volta das 14h. A empresa não divulgou o nome das vítimas, por orientação de bombeiros que estavam na ocorrência, para preservar os familiares. 

Os trabalhadores cavavam uma vala para receber fundação do prédio. O edifício residencial seria de nove andares e teria começado em outubro. De acordo com o tenente-coronel Winderson Alan Moura, risco à segurança da operação dificultou o resgate.

"É um trabalho minucioso, a gente precisa trabalhar com técnica tanto pela segurança das vítimas quanto dos militares que estão empenhados. A dificuldade maior é a instabilidade do terreno", disse o militar.

Vizinhos lamentam acidente

A gerente-geral Maria do Socorro Vasconcelos, de 58 anos, trabalha ao lado da obra e escutou um barulho por volta das 14h. "Fez 'bum', como se algo tivesse caído. Depois eles começaram a gritar", contou. "Para a gente, que convivia (com os operários) aqui é muito triste. Eles trabalhavam muito alegres. Parecia tudo normal e de uma hora pra outra aconteceu isso", lamenta.

O servente de pedreiro Clarison Rodrigues, de 31, trabalhava em outra obra próxima ao local e correu para tentar socorrer os trabalhadores. "A gente escutou os gritos, os colegas gritaram muito e corremos pra ajudar", contou. "Tem cena que a gente vê e não consegue nem falar sobre. Pra gente que trabalha com isso, é um acidente ninguém quer ver."

A vizinha Joana Darc, disse ficar assustada com o soterramento tão próximo de sua casa. "Passei por volta de 13h50 e estava tudo tranquilo. Na hora que voltei já estava cheio de viaturas", disse a dentista. Segundo ela, há pouco tempo havia uma casa no local. "Tem pouco tempo que começaram a demolir a casa e não tinha muito movimento não, era raro ter o portão aberto", conta. "A sorte é que não tinha muitos trabalhadores", acrescentou.

Resgate sem hora pra acabar

Na noite desta terça-feira, os militares se prepararam com toldo em caso de chuva que estava prevista para a madrugada. "Isso é tentar assassinar os empregados", disse Vilson Valdez, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção. Segundo ele, o sindicato havia visitado a obra em outubro e viu irregularidades. "Tinha cinco trabalhadores sem equipamento de segurança. Muita sujeira, material espalhado e falta de técnico responsável", disse.

A obra está em fase inicial de construção. De acordo com o vice-presidente do sindicato, a empresa foi convocada, mas não compareceu. "Quando falamos com os operários, deixamos panfletos e dissemos que quando começasse a escavação tinha que ter escoramento e um responsável acompanhando, mas parece que isso não aconteceu", contou Valdez.

Já Luiz Fernando Côrtes Caravita, advogado da Florença Construtora, sustenta que a obra estava regular e que os operários usavam equipamentos de segurança. Representantes da Prefeitura de Belo Horizonte compareceram ao local, mas não falaram com a imprensa sobre licenciamento da construção.

Nota da construtora

A Florença Construtora, responsável pela obra que soterrou dois funcionários na Rua Palmira, divulgou uma nota um dia após o incidente lamentando o ocorrido e informando que presta atendimento aos familiares das vítimas. Confira na íntegra:

"A Florença Construções informa a ocorrência de um acidente na obra da Rua Palmira, Bairro Serra, em Belo Horizonte, onde iniciava a construção de um edifício residencial. Na tarde de ontem (21/01/2020), às 14:00, houve um deslizamento de terra durante a realização de um procedimento para a preparação da estrutura de contenção prévia da divisa, soterrando dois trabalhadores. O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil foram imediatamente acionados, compareceram ao local e trabalharam incessantemente no resgate às vítimas. Uma delas foi resgatada com vida, encaminhada ao Hospital João XXIII e está em boas condições de saúde, porém em observação. A segunda vítima, infelizmente, não resistiu e faleceu. A família está recebendo todo o suporte da empresa, inclusive apoio psicológico e para o funeral.

Por sempre prezar pela segurança de seus colaboradores e clientes em 29 anos de atuação no mercado, a Florença Construções jamais enfrentou qualquer situação semelhante e lamenta profundamente o ocorrido. Os motivos do acidente estão sendo apurados pelas autoridades com total colaboração da empresa. Todas as providências de segurança no local estão sendo tomadas e as solicitações das autoridades devidamente atendidas. Novos esclarecimentos serão trazidos assim que tivermos os laudos das entidades competentes".

 

*Estagiária sob supervisão da redação do Estado de Minas