Maristela Heck *
Hoje o Governador José Ivo anunciou as medidas de seu pacote nomeado: “um novo Estado, um novo futuro”.
É a Ponte para o futuro dos pampas anunciado pelo Governador que provincianamente citou em sua manifestação Margareth Thatcher, afirmando que o Estado deve ter o tamanho que a sociedade suporta. Os países centrais ao pensarem em suas políticas perguntam: qual deve ser o tamanho do Estado que a Sociedade necessita?
O Pacote de Sartori, extingue nove fundações públicas de direito privado, entre as quais cito em particular três:
- FZB – Fundação Zoobotânica, uma das mais importantes Fundações da sua área no País, com expertise em pesquisa de preservação da flora e da fauna.
- FEE – Fundação de Economia e Estatística, importantíssima Fundação, responsável por pesquisas sócio-econômicas, pesquisa de emprego e renda, questões relativas à segurança pública, entre outras.
- CIENTEC – Fundação de Ciência e Tecnologia, responsável por pesquisas nas áreas de Química, Alimentos, Meio Ambiente, Geotecnia, Incubadoras e Extenção Tecnológica, Tecnologia Metal Mecânica, Engenharia de Edificações.
- Fundação TVE – Fundação TV e Rádio Educativas, que por ser público pode se permitir formatar programas educativos e culturais de qualidade.
O quadro de pessoal das Fundações acima citadas é composto de profissionais altamente qualificados, pesquisadores, muitos deles Doutores.
Dentre as Fundações Públicas de Direito Público, destaco a FEPS – Fundação de Estudo e Pesquisa em Saúde, responsável pela fabricação de medicamento para H1N1, para HIV/AIDS e que detém expertise na realização de exames de DNA que são prestados por solicitação do Judiciário Estadual.
Fosse isto, já seria muito. O pouco de Estado de Bem Estar Social ficará a mercê de interesses mercantis nefastos e perversos. O Estado empobrecerá pois estará extinguindo Fundações essenciais à Pesquisa, fundamental ao desenvolvimento de qualquer sociedade.
Ainda há mais, a Secretaria da Cultura agregará as Secretarias do Esporte e Lazer e da Secretaria do Turismo. Possivelmente a verba orçamentária será mesma. Nestas condições os Projetos e Equipamentos Culturais tendem a desaparecer. Pra que cultura?
Ao todo haverão em torno de 1.200 demissões, ou desligamentos como prefere o Governo.
Penso, onde conseguirão empregos os demitidos que tem em média idade superior a 45 anos sendo que muitos jamais trabalharam em outro local que não seja o setor público.
Mas, este é somente mais um detalhe macabro. Afinal como diz José Ivo: “Não se faz justiça social sem equilíbrio das contas, e quem diz o contrário está mentindo para a população.”
Aumentará a contribuição dos servidores para a previdência social.
Os servidores perderão os adicionais de 15% e 25%, além da licença prêmio que será convertida em licença capacitação.
O pacote ainda propõe que se acabe com a necessidade de realização de plebiscito para a venda de estatais como CEEE, SULGÁS e outras.
Abriu-se a temporada de liquidação na pobre província de São Pedro, que mais pobre ficará.
O pacote é tão macabro que é impossível descrevê-lo na integra.
A tarde, ouvindo pelo rádio, o pronunciamento do Governador e de seus Secretários fui entrando em estado de choque.
Saí do trabalho e fui à Farmácia comprar medicamentos para dores no corpo. Após decidi passar na Praça da Matriz. Cheguei à Praça e havia em torno de 50 pessoas, a maioria de funcionários da Fundação TVE e alguns representantes da Direção do SEMAPI.
Um homem que ali estava quando me viu, veio em minha direção dizendo: quantas saudades sinto de ti.
Eu lhe respondi: Pois é, lembro muito bem no primeiro ano da Gestão Tarso Genro quando estávamos em processo de negociação. Um dia ao sair de uma destas reuniões que aconteciam na Sede do SESCON, chovia torrencialmente e ventava. Mal conseguia segurar minha sombrinha. Os trabalhadores estavam do lado de fora, e saí ouvindo os brados: “Xô, xô, volta Yeda!”. Lágrimas corriam pelo meu rosto e se misturavam a chuva. Parei em baixo de uma marquise enquanto ouvia os brados: “Xô, xô, volta Yeda.” Chorava de dor, revolta e indignação, mas chorava sobretudo, por não entender como alguém podia comparar os nossos métodos e práticas com os de Yeda Crusius? Como um servidor público podia pedir a volta de Yeda? Era uma ode a intolerância. Não entendia. Continuo não entendendo.
Na última reunião de negociação que fiz com esta categoria em 22/09/2014, poucos dias antes do 1º turno das eleições do dia 05/10, fiz um discurso político. Era meu direito enquanto cidadã comprometida com as lutas populares e com as reformas democráticas e meu dever como representante do Governo na mesa de negociação. Destaquei as conquistas obtidas por aqueles trabalhadores no Governo Tarso Genro e chamei-os a reflexão acerca dos projetos que estavam em disputa nas eleições a serem realizadas.
No dia seguinte, meu nome estava no jornaleco do escroque do Políbio Braga sob o título: “Começou a choradeira de despedida dos representantes do atual governo” (procurem no Google). Este jornalistazinho, representante dos interesses mais nefastos dizia que havia me debulhado em lágrimas (uma inverdade, não choro diante de pessoas sádicas), e que há alguns meses não me portava desta forma, já que havíamos imposto autoritariamente mudanças nas estruturas organizacionais das Fundações.
Na época quando li a matéria fiquei furiosa por duas razões. A primeira por ver o meu nome jogado na lama por um jornalistazinho de merda e a segunda por constatar que os trabalhadores são afeitos a um chicote.
Hoje na Praça lembrava disto e dizia: gostaria de não ter memória.
Mas, hoje como no passado choro. Por mim? Não! Pessoalmente serei pouco atingida pelas medidas do famigerado pacote de José Ivo. Pagarei 0,75% a mais a título de contribuição previdenciária. Não perderei as minhas Licenças Prêmio e nem os adicionais de 15 e 25%.
Porque choro? Choro pelos homens e mulheres que perderão os seus empregos porque preferiram o discurso fácil à construção democrática de soluções para o Estado e a Sociedade que propúnhamos.
Choro pelos gaúchos e gaúchas que votaram no discurso vazio em nome do ódio ao PT e que agora ficarão cada vez mais empobrecidos e sem políticas públicas.
Hoje choro por mim. Hoje choro por todos e todas nós.
Antes de sair da Praça, olhei em frente e para o céu, vi a Catedral, achei bonito, bati uma foto. Em algum lugar há de se encontrar beleza, que seja na arte e na poesia, porque o cotidiano tornou-se pesado como chumbo
(*) Historiadora e Funcionária Pública do Estado do RS