Coronel do Corpo de Bombeiros, a militar Helen Ramalho, de 46 anos, acumula experiências de uma jornada dupla. Mãe de quatro filhos, sendo dois gêmeos, ela é a primeira mulher a ocupar o posto mais alto da corporação no Distrito Federal. A cerimônia que selou a conquista ocorreu na última quarta-feira (5), na Residência Oficial de Águas Claras.
A nova patente foi concedida por antiguidade e merecimento. A promoção também considera critérios como tempo de serviço, resultados apresentados e comprometimento com a instituição.
"A presença da mulher nesse posto [de coronel] é uma espécie de desbravamento, junto com mudanças que vieram para ficar. O Corpo de Bombeiros está no processo de amadurecimento, de evolução. E, nós, mulheres, estamos conseguindo galgar esses espaços."
Em ocasião do Dia das Mães, celebrado no domingo (9), a coronel conversou com a reportagem sobre os desafios e conquistas da carreira que, nas palavras dela, "se complementam" com a maternidade.
"É tudo junto e misturado. Não dá para desassociar, mas, lidar com carreira e maternidade exige um equilíbrio que a gente precisa buscar a todo momento."
Pioneirismo
Pioneira desde a juventude, a coronel Helen também fez parte da primeira turma dos bombeiros em Brasília que admitiu mulheres na corporação, em 1993, aos 18 anos. Também aprovada em um concurso da Câmara Legislativa (CLDF), ela optou pela carreira militar, decisão que, segundo contou ao G1, "nunca a fez olhar para trás", mas exigiu esforços.
"Pelo fato de ser pioneira, tive que provar muita coisa. Não apenas eu, pois esta é uma conquista de todas as bombeiras, que vêm fazendo um trabalho muito grandioso e de reconhecimento."
No posto mais alto do Corpo de Bombeiros, hoje, a coronel Helen é responsável pela supervisão da central de operações integradas do Distrito Federal. A militar acompanha ocorrências das forças de segurança da capital e faz a articulação entre os órgãos.
Ao longo da carreira, a coronel também pesquisou meios de combate a incêndio urbano com espuma, em estudo pioneiro no país, em 2007. Formada em Engenharia de Segurança contra Incêndio e Pânico, a militar se especializou em perícia de incêndio de explosão e em combate a incêndios e salvamento em aeroportos, para atuar no socorro às vítimas em caso de quedas de avião.
Militar, coronel e mãe
Em casa, a dedicação é a mesma com a família e os quatro filhos. Mãe pela primeira vez aos 33 anos, a bombeira afirma que as crianças vieram para somar e que, desde então, tem recebido o apoio da corporação.
"Sempre quis ser mãe. Quando vieram os filhos, me senti muito realizada. Conciliar carreira com maternidade é um desafio e, como militar, tive o amparo e cuidados [necessários] para desenvolver a missão [militar] e conciliar as duas coisas."
À reportagem, a coronel Helen também contou que, com os quatro filhos, uma menina de 12 anos, os gêmeos de 11 e o caçula de 9 anos, vê a necessidade de trazer a organização e ordem para dentro de casa, "assim como acontece no quartel".
"Quero que minha tropa se sinta amparada e cuidada como meus filhos se sentem. Não sei dizer onde começa uma e termina outra [mãe e militar]. Meu objetivo é que todos estejam bem."
Rotina no quartel
Para a coronel, além da capacidade de liderança, outras característica femininas e habilidades aperfeiçoadas desde a maternidade ajudam a lidar com as funções exigidas pela carreira militar.
Ela destaca a sensibilidade da mulher de "olhar o todo e de trazer um ambiente mais ameno". Como exemplo, a coronel lembra de uma ocorrência em que uma sargento ajudou no socorro a vítimas de um acidente de trânsito. À época, havia crianças no veículo, e os pais ficaram machucados. Já os meninos, estavam conscientes no momento do socorro e não se feriram.
"Essa bombeira teve o olhar de amparar as duas crianças que, apesar de sem ferimentos, viram os pais machucados. Esse tipo de atitude faz a diferença, o olhar de cuidado", explica.
Na rotina, a coronel conta que também já atendeu diversas ocorrências de rua. Entre as mais marcantes, uma em que ajudou no socorro a um homem preso às ferragens de um acidente. Para isso, foi preciso percorrer uma ribanceira, de 30 metros de altura, carregando os equipamentos de resgate.
"É importante dizer que nós [mulheres] não queremos tomar o espaço de ninguém, mas ocupar espaços pelo nosso próprio mérito. Exercemos as mesmas funções e atividades que os homens. Para mim, isso é motivo de muito orgulho."