"Eu realmente não sei de onde tirei tanta força naquela hora, mas eu precisava salvar meus amigos, meus parceiros". Em meio a muita emoção, o bombeiro Nelson Ferreira Pinto, de 59 anos, relembrou os momentos de angústia depois que ele e outros dois colegas foram atingidos por uma árvore em Mairinque (SP).

Os três faziam a poda de um eucalipto de aproximadamente 40 metros de altura quando a árvore caiu sobre eles, na sexta-feira (23), no Jardim Vitória.

Jonas Campos morreu após ficar gravemente ferido. Durante o enterro, colegas fizeram um cortejo pelas ruas da cidade, como forma de homenagear o profissional. Já José Euclides Pereira foi socorrido com ferimentos graves e segue internado na UTI do Hospital Regional de Sorocaba (SP).

Amigos e familiares do servidor iniciaram uma campanha nas redes sociais para conseguir doadores de sangue tipo O positivo que possam ajudar José.

Ao G1, Nelson contou o que aconteceu no dia do acidente. Em quase 40 anos de profissão, o bombeiro nunca havia presenciado um trauma como este.

"Estávamos os três quase que abraçados, porque era muito grande. Quando nós tombamos uma árvore desse porte, sempre nos protegemos atrás do tronco, do lado oposto de onde ela vai cair. Mas, não sei como, essa árvore mudou a direção e veio para cima da gente", conta.

Segundo o bombeiro, a árvore apresentava risco para os moradores da região e, por isso, o serviço de poda foi realizado. No entanto, o local fica em uma área de mata de difícil acesso.

"Ali não tinha para onde correr. Então, eu só me ajoelhei atrás do tronco e fechei os olhos. Não ouvi gritos, não ouvi nada além do barulho da árvore caindo. Quando abri os olhos, vi meu parceiro Jonas caído bem do meu lado e bastante machucado", lembra.

Nelson contou ao G1 que, logo que percebeu o que havia acontecido, correu para ajudar os colegas. "Tirei o capacete do Jonas e chamei os outros da nossa equipe para ajudar. Nisso, ouvi o Euclides me chamando", diz.

José Euclides ficou preso embaixo de um dos galhos da árvore e também foi ajudado pelo amigo. "Pedi a serra para o pessoal e cortei um pedaço da madeira, depois consegui tirar de cima dele. Estava com a adrenalina alta e não tinha nem percebido que eu também tinha sido atingido na cabeça", diz.

Nelson ainda limpou o caminho para que a equipe de resgate pudesse chegar até Jonas e José Euclides. Depois, ele também foi socorrido e levado para o hospital.

'Meu coração não aguentou'

Logo depois que a árvore caiu, a primeira reação de Nelson foi procurar pelos colegas. Como estava em estado de choque, o bombeiro não percebeu que também havia sido atingido. No entanto, alguns momentos depois, o servidor afirma que "caiu em si".

"Depois que abri o caminho para o resgate passar, me dei conta do que havia acontecido e desabei. Meu coração não aguentou. Há 40 anos eu lido com tragédias, mas ver um colega que é como um irmão morrer dessa forma deixa a gente muito abalado", afirma.

Agora, já de volta ao trabalho, Nelson agradece pelo livramento que recebeu e torce pela melhora do colega internado. "O Jonas faz muita falta para a gente, era nosso amigo mesmo. Mas agora é seguir em frente, a vida não pode parar", diz.

De acordo com o bombeiro, o José Euclides apresentou melhoras e voltou a mexer as pernas, que estavam paralisadas desde o acidente. "Vamos rezar pela melhora dele, que logo o Euclidão possa estar de volta com a gente."

Ao ser questionado a respeito da continuação dos trabalhos de poda, Nelson afirma que não tem medo de voltar ao local onde aconteceu o acidente e que vai continuar se esforçando na profissão.

"Eu não tenho medo, não posso ter. Infelizmente, não conseguimos salvar a vida do nosso irmão, mas isso não pode me deixar de tentar salvar outras vidas. Tenho que continuar trabalhando para a população", finaliza.