Há dois meses os incêndios florestais na região da Chapada Diamantina queimaram 3.427 hectares entre as cidades de Mucugê e Andaraí. A informação, segundo as secretarias de Turismo e Meio Ambiente das cidades, de brigadistas e do Corpo de Bombeiros, é do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio).

O ICMBio informou ainda às prefeituras que a área total afetada pelo incêndio foi de 5.750 hectares, que inclui a área queimada e a região que não chegou a ser tomada pelo fogo, mas que de alguma forma foi impactada, seja por causa do calor das chamas ou porque teve seus acessos afetados.

O fogo se espalhou por áreas da Chapada como Parque Nacional, Capa Bode, Parque Municipal de Andaraí e Parque Municipal Sempre Viva, em Mucugê. De acordo com o brigadista, guia e geógrafo Rogério Miranda, algumas áreas queimadas estavam preservadas havia cerca de 30 anos, sem registro de queimadas.

Apesar de indícios de que poderia ser crime ambiental, ainda não há comprovação do que pode ter provocado o incêndio que começou no dia 6 de outubro, em Andaraí, e só foi considerado extinto no dia 12 de outubro, já na região de Mucugê. Uma perícia já foi realizada, mas ainda não foi apresentado o relatório final do caso.

"Todo incêndio pode ser acidental ou proposital, mas isso é a perícia que vai dizer", diz o secretário de Meio Ambiente e Turismo de Andaraí, Emílio Tapioca.

Os bombeiros e brigadistas controlaram as chamas no dia 11 e ainda monitoravam as áreas, quando a chuva resolveu concluir o trabalho humano e caiu entre a noite do dia 11 e madrugada do dia 12. Foram cerca de 53 mm de chuva.

Turismo

Durante o incêndio, Andaraí e Mugugê continuaram recebendo turistas. Conforme relatos de moradores e representantes do poder público, as pessoas não deixaram os municípios por causa das chamas. Não há informações do número de turistas que tenham cancelado as viagens ou antecipado a saída da cidade por causa do incêndio.

João Pedro Borba foi um dos turistas que esteve na região durante as queimadas. Ele estava preocupado, mas tinha passeios agendados e não quis deixar de ir a lugares que estavam liberados para visitação e sem fogo. Em entrevista ao G1no dia 8 de outubro, ele informou que deixaria a cidade no dia seguinte, mas isso porque já estava programada a viagem.

O secretário Emílio Tapioca informou que os impactos no turismo poderiam ocorrer após o incêndio, mas ainda assim, é algo que pode ser recuperado.

"Tivemos uma perda dessa biodiversidade, e isso gera um pouco de impacto, mas nada que não seja recuperado. Toda a natureza deverá se recompor. Apesar do impacto que isso possa vir a ter, não é tão alarmante", disse.

A visitação aos parques está suspensa em alguns trechos, mas não está condicionada ao incêndio e sim à pandemia da Covid-19.

"O Parque Municipal Rota das Cachoeiras em todo o período da pandemia manteve-se fechado, mesmo porque o mesmo está sob processo de regulamentação e acompanhamento do MPE [Ministério Público Estadual] quanto à elaboração do plano de manejo da unidade de conservação. No entanto, por se tratar de áreas contíguas e limites intermunicipais (Itaetê/Mucugê) as vias de acesso que possibilitam visitações esporádicas das comunidades do entorno", disse o secretário.

A preocupação maior foi de quem reside em Mucugê. A enfermeira Priscila Ruvenal, que mora no município há 4 anos, destacou que esse foi o pior incêndio na região que ela já presenciou. Ela via o clarão das chamas pela varanda e, assim como os demais moradores, relatou apreensão ao ver a cidade tomada pela fumaça.

Priscila e outros moradores que não têm experiência no combate a incêndios quiseram ajudar, mas não podiam ir para o meio do fogo, então ela decidiu colaborar de outra forma.

"Arrecadamos água e comida para levar para os brigadistas. As pessoas se prontificaram a cozinhar, ajudar de alguma forma", disse.

Sensação de gratidão

Quem participou do combate relembra início das chamas e o trabalho para conseguir preservar o local que é rico em belezas naturais.

"O incêndio se iniciou às margens do Rio Piaba, em Andaraí, e foi extinto na região do rio Cumbucas, Mucugê. Ele foi identificado por pessoas que passavam às margens do rio", conta o brigadista, guia e geógrafo Rogério Miranda.

O capitão do Corpo de Bombeiros, Murilo Rocha, comandante da operação, contou sobre as dificuldades encontradas, mas destacou a importância do trabalho em conjunto entre brigadistas, bombeiros, ICMBio e sociedade civil.

"Nós tivemos um período de dificuldade logo no início. Temperaturas muito altas e os ventos mudavam constantemente, não tinha uma predominância de vento, e isso dificulta um pouco trabalho. E também pelo fato de estar próximo de alguns pontos específicos, como um hotel e um condomínio. Foi uma ação rápida, uma ação conjunta, mas todos estavam imbuídos naquela missão", relembra o capitão.

O trabalho contou com o empenho de 37 bombeiros militares e mais de 200 brigadistas ligados a órgãos ambientais e voluntários. O Governo do Estado viabilizou o envio de seis aviões air track e um helicóptero do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer) para auxiliar na contenção das chamas.

"Foi um misto de sensação. Um pouco de impotência ao ver a dimensão que aquilo estava tomando e depois o de dever cumprido. Foi uma sensação de gratidão também que presenciei. As pessoas vinham falar conosco, dar apoio, agradecer", disse o bombeiro.

Surpreso, o brigadista Rogério Miranda revela que durante os 25 anos que ele atua no combate a incêndios florestais, ele nunca tinha visto uma organização comunitária como ocorreu na situação desse incêndio.

"Empresário, sociedade civil, a comunidade e prefeitura se organizaram para que os combates tivessem mais eficiência. A população se organizou com arrecadação de alimentos, fazendo a refeição para quem estava lá combatendo o fogo, todos os tipos de voluntários chegaram na escola onde estava sendo a nossa base para nos ajudar de alguma forma", concluiu.

Foto: Paula Fróes/GOVBA