A tragédia que marcou a capital da República na sexta-feira (9/12), onde dois adolescentes e uma criança morreram ao serem atingidas por um cabo de alta tensão, em Ceilândia, não é um caso isolado. Somente em 2022, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) atendeu 1 ocorrência de choque elétrico a cada 38h, totalizando, até o momento, 218 atendimentos.
Diretor executivo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), o engenheiro eletricista Edson Martinho explica que as queda de fios são mais comuns em períodos chuvosos.
“É mais comum, principalmente, em épocas de tempestades, chuvas fortes e ventanias. Na maioria dos casos, impulsionados por pipas com cerol que cortam os cabos do fio, os quais ficam vulneráveis. Quando acontece a ventania, tempestade, queda de árvore, acaba tocando na rede e ela caí”, aponta.
“A primeira coisa a ser feita é não chegar perto e ligar para a concessionária de energia imediatamente, dizer o endereço, porque ela consegue desligar remotamente, ao dizer que ocorreu um acidente. Na sequência, os bombeiros são acionados para fazerem o resgate e tentarem reanimar”, completa o especialista.
“Os acidentes com rede de distribuição, hoje, são a maior causa. A segunda maior é dentro de casa, com pintores, pedreiros ou instaladores de internet, por exemplo”, explica Edson.
Últimos casos
Conforme apontou o diretor da Abracopel, os casos com trabalhadores são comuns. O mais recente aconteceu nessa quinta-feira (15/12), quando um homem de 31 anos precisou ser socorrido depois de ser eletrocutado às margens da EPIA, próximo a rodoviária interestadual. A vítima sofreu queimaduras em diversas partes do corpo.
Segundo os bombeiros, o funcionário estava em cima de uma escada enquanto realizava manutenção na rede de internet em um poste quando tocou acidentalmente em um cabo de energia e recebeu a descarga elétrica.
O Equipamento de Proteção Individual (EPI) que usava o impediu de cair. Um colega de trabalho também o auxiliou. Após ser socorrido, o homem foi encaminhado ao Hospital de Base consciente, orientado e com queimaduras de 1º e 2º grau nas mãos, axilas, tórax e vias aéreas.
Em agosto, um menino de 6 anos preciso ser hospitalizado após um choque na Escola Classe 35, em Ceilândia. O acidente aconteceu após a criança encostar um chaveiro de metal no quadro de energia geral da unidade de ensino. As fotos são chocantes. O garoto ficou com rosto e braços queimados. Apesar disso, a criança não perdeu a consciência, mas reclamava de dor intensa.
Depois do acidente a criança não conseguiu voltar para a escola e passa por apoio psicológico, além de, quinzenalmente, precisar retornar ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran), unidade referência no Distrito Federal para atendimento a ocorrências de queimados.
Mortes
Até outubro deste ano, foram registradas sete internações por efeitos da corrente elétrica. Já, até novembro, 12 óbitos.
De acordo com o capitão Fábio Bohle, do CBMDF, os choques em residências são mais fáceis de prestar atendimento. “O residencial já é uma área controlada. A pessoa que toma uma descarga elétrica numa tomada, por exemplo, a potência dessa energia é moderada, não chega nem perto de uma rede alta tensão. Dentro das residências tem os quadros com disjuntores, que pode desligar a energia”, avalia.
“Em via pública, recomendados que isole a área e chame os bombeiros o mais rápido possível, porque a gente não sabe a potencia dessa rede e, dependendo, pode haver uma fatalidade. Não se aventure em resgatar uma pessoa que está cometido da fonte energizada se você não for um profissional da área”, aconselha o bombeiro.
Outro causa destaca por Bohle para acidentes é o momento de colher frutos em árvores. “A gente orienta a escolher árvores que estejam distantes da rede elétrica, porque existe os cabos éreos e submersos. Se uma dessa raízes tiver contato com a fonte energizada, ela vai se transformar em em condutora e, se a pessoa encostar, vai receber uma descarga. Nos éreos, se os galhos tiverem tocando, a árvore passa a ser condutora”, finaliza o profissional.