Três meses após o desabamento de uma gruta que resultou na morte de nove bombeiros civis em Altinópolis (SP), amigos, familiares e colegas de trabalho realizaram, neste domingo (30), uma trilha em homenagem às vítimas.

A iniciativa, que prevê novos encontros ao longo do semestre no Horto Florestal de Batatais (SP), foi idealizada por Walace Ricardo da Silva, de 32 anos, único a ser resgatado com vida da caverna, onde um grupo de instrutores e bombeiros civis foi surpreendido pelo desmoronamento enquanto fazia um curso.

A extensão da trilha, com nove quilômetros, foi pensada justamente para lembrar de cada um dos colegas de profissão, que não sobreviveram ao incidente no ano passado.

 

O desmoronamento aconteceu em 31 de outubro na Gruta Duas Bocas, um dia depois do início de um treinamento. As chuvas estavam fortes na região, e os alunos passariam a noite acampados na caverna como parte do curso. Ao todo, 28 pessoas participavam da atividade, sendo que dez ficaram completamente soterradas. Destas, apenas Walace Ricardo da Silva foi resgatado com vida.

O caso foi alvo de uma investigação na Polícia Civil, que indiciou o dono da empresa de treinamentos por homicídio culposo. O delegado entendeu que ele não deveria ter permitido o curso na gruta por causa das condições climáticas no dia do treinamento.

Trilha e homenagem

Antes de ser resgatado com vida, Silva chegou a permanecer por mais de oito horas na gruta, onde os outros nove colegas morreram.

Com ferimentos em várias partes do corpo, o bombeiro civil foi submetido a quatro cirurgias para reabilitação da circulação sanguínea e por conta de fraturas em braços e pernas.

Além disso, permaneceu por 50 dias se locomovendo por cadeira de rodas antes de voltar a andar e a iniciar as sessões de fisioterapia.

Assim que recuperou grande parte das condições físicas, ele teve a ideia de retomar as trilhas no Horto Florestal de Batatais, que já eram realizadas pelo grupo de bombeiros civis antes do desmoronamento, como treinamento de sobrevivência na mata e melhora no condicionamento físico.

A última vez que os colegas se reuniram foi no início de 2021.

"O Celso [Galina Júnior, uma das vítimas] era quem organizava essa trilha todo ano. Ela começou ano retrasado. A gente fazia uma vez por ano", lembra Silva.

Para simbolizar a memória dos colegas que já não podem mais estar presentes, os bombeiros civis decidiram elaborar percursos de nove quilômetros a serem feitos todo mês até junho. "É difícil, mas a gente está voltando pra seguir a vida em frente, e eles vão sempre ser lembrados."

Neste domingo, em torno de 20 pessoas, acompanhadas por cães, se reuniram por volta das 7h em frente à Capela São Judas Tadeu e fizeram um trajeto de aproximadamente quatro horas, marcado por orações e reflexão.

"Ainda é muito dolorido, mas o pessoal quer tentar levar as coisas boas, tentar fazer essas coisas boas que eles gostavam, tentar lembrar momentos bons deles", afirma Silva.