Em meio a um trabalho cansativo e triste, os bombeiros que atuam há duas semanas em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, receberam um gesto de carinho para continuar na difícil busca pelas vítimas ainda desaparecidas da tragédia. Nesta segunda-feira, uma adolescente levou cartas de agradecimento pela dedicação dos militares. As mensagens foram escritas por dois alunos de uma turma do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual José do Patrocínio, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Autora de uma das cartas, a estudante Nayara Soares, de 14 anos, disse que ficou comovida com a tragédia e inspirada pela atuação dos bombeiros no local. A menina, que planeja estudar Design quando terminar a escola, já até pensou em seguir carreira na corporação.
– Eu já quis fazer parte do Corpo de Bombeiros. Eu sempre gostei do trabalho deles. Meu irmão também comentou que queria entrar para os Bombeiros. Aí eu tive a ideia de escrever para eles. Eu já acompanhei outras vezes o trabalho deles em tragédias, como o que aconteceu em Brumadinho. Eu admiro muito o trabalho deles – conta Nayara, que disse ter ficado “muito ansiosa” quando viu no TikTok, vídeos de um menino morador de Petrópolis preso na escola alagada pela tempestade do último dia 15.
A escrita das cartas foi um exercício passado pela professora de Português. Como a tragédia em Petrópolis vinha sendo debatida em sala de aula, esse foi o tema da atividade. Alguns alunos escreveram para as famílias das vítimas e outros para os bombeiros. A portadora das mensagens foi a estudante Sara Peixoto, de 14 anos. Ela foi à cidade imperial acompanhando a mãe para entregar doações e também as cartas dos colegas de classe em sinal de gratidão e reconhecimento pelo trabalho dos militares.
– O encontro com os bombeiros foi incrível. Eu nunca imaginei que faria algo do gênero ou que entraria num quartel do Corpo de Bombeiros. Foi muito legal. Todos me receberam muito bem e eu fiquei muito feliz com isso – relata Sara, que também já sonhou em trabalhar no Corpo de Bombeiros e agora pensar em ser veterinária.
A comandante do Quartel de Petrópolis, a tenente-coronel Elisangela Matos, recebeu as cartas junto com outros bombeiros e posou para fotos com a menina Sara Peixoto. Ela disse que foi a primeira vez que eles receberam esse tipo de reconhecimento.
– Eu li a cartinha para a tropa, foi muito emocionante. A Sara veio representando não apenas os mais jovens, já que ela estava acompanhada pela mãe para trazer o carinho e reconhecimento pelo nosso trabalho junto à corporação. A menina veio de longe, lá da Baixada, subiu a serra e trouxe esse carinho. Isso não tem preço – agradeceu a comandante.
Pelo Instagram, o Corpo de Bombeiros agradeceu a manifestação de apoio e afeto dos alunos.
“São mais de 10 dias de trabalho para encontrar as vítimas das chuvas do dia 15 de fevereiro. Nossos bombeiros merecem um momento de descompressão. Uma palavra de incentivo. Uma palavra de agradecimento. A Sara Peixoto, de 14 anos, trouxe umas cartinhas de seus amigos para os nossos heróis. O nome disso é empatia. Gratidão!”, diz a postagem.
Nesta segunda-feira, subiu para 231 o número de mortos em decorrência da tempestade que caiu em Petrópolis. De acordo com nota divulgada pela Prefeitura de Petrópolis, a equipe Técnica e Científica da Polícia Civil contabilizou óbitos de 137 mulheres, 94 homens e 44 menores de idade. No momento, cinco pessoas ainda são consideradas desaparecidas. Militares do Corpo de Bombeiros seguem com as buscas pelo Rio Piabanha, onde há a suspeita de três vítimas, além de outros dois pelo Chácara Flora. No domingo, as buscas por vítimas da tragédia no Morro da Oficina, no Alto da Serra, foram encerradas, segundo informou a Defesa Civil. Na região foram encontrados 93 corpos.
Confira a íntegra da carta da Nayara Soares, de 14 anos:
“Venho por meio desta carta prestar meu agradecimento e respeito pelos seus esforços e trabalho duro para ajudar as famílias, pondo as suas próprias vidas em risco em meio a uma pandemia de um vírus mortal, riscos de desabamentos, e tudo que poderia vir a acontecer.
Ao contrário da minha mãe, não sou uma pessoa religiosa, mas peço para todos os deuses que cuidem de vocês e das pessoas desabrigadas, o que estão fazendo é um trabalho incrível e inspirador realmente admirável, meu irmão diz que é como se fossem heróis da vida real e que quer ser um bombeiro como vocês.
Não sou alguém que sabe demonstrar muitos sentimentos (talvez dê para perceber pela minha escrita), mas agradeço profundamente pelos seus esforços e sei que todos compartilham do mesmo sentimento que eu.
Com carinho, Nayara Soares”.