O trágico acidente doméstico que vitimou o estudante João Vitor Domat Remus, de 13 anos, ligou o alerta para os riscos provocados pelo manuseio incorreto de aparelhos alimentados por energia elétrica. Números mostram que casos como o do ex-aluno do colégio Sigma não são isolados.
Levantamento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) obtido pelo Metrópoles aponta que, entre janeiro e julho deste ano, 116 brasilienses já acionaram o socorro após sofrerem descargas elétricas dentro de casa – média de quase uma ocorrência a cada 48 horas.
O número é maior que o registrado no mesmo período de 2019, quando o DF teve 105 vítimas de choques elétricos. A corporação não soube informar quantos casos evoluíram para óbito, uma vez que parte das mortes ocorre enquanto 0 paciente está internado em hospitais.
No entanto, dados da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel) mostram que 697 brasileiros morreram devido a choques elétricos no Brasil.
Entre os episódios mais comuns registrados pelo socorro, está o que resultou na morte do adolescente. João Vitor encostou em uma parte de metal do carregador do celular no momento em que tentava remover o aparelho da tomada.
O garoto chegou a ficar 10 dias internado após a descarga elétrica, mas não resistiu e morreu na quinta-feira (6/8). O caso ocorreu em Palmas, no Tocantins.
O técnico de segurança do trabalho da Companhia Energética de Brasília (CEB) Vinícius Dutra Arrais afirmou que o episódio pode ter relação com a má qualidade do carregador utilizado pelo jovem.
Segurança no uso
Arrais reforça que os brasilienses comprem apenas equipamentos com certificados e selos de aprovação que garantam que o aparato foi testado e não oferece risco aos usuários. “Muitas vezes as pessoas optam por um equipamento pelo preço e ignoram que o importante é a segurança de quem o usa. Qualidade e segurança precisam vir primeiro”, diz.
Outro risco apontado pelo servidor no episódio está no uso de extensões, que também devem apresentar certificação de que foi testada.
“É preciso tomar cuidado com T’s e extensões para que não haja sobrecarga naquela tomada ou na ligação. Isso pode ocasionar um superaquecimento ou até um curto-circuito.”
É possível que o adolescente tenha tentado manusear a extensão com o carregador após os pinos do equipamento se soltarem. “Nesse caso específico, desse acidente, a parte de plástico soltou e ficou exposta a parte condutora. Ele deveria, primeiramente, ter feito o desligamento da extensão. Isso já seria suficiente para evitar o choque”, finalizou.
O profissional ressalta: “Jamais, em hipótese alguma, toque em uma vítima de choque, seja com a mão ou com outro objeto. Mesmo um cabo de vassoura pode possuir algum condutor que te leve a ser a segunda vítima da descarga”.
“Mal invisível”
“A energia elétrica é um mal invisível, que nem sempre anuncia sua presença”. A fala é de quem está acostumado a socorrer vítimas de choques elétricos no Distrito Federal. Em entrevista ao Metrópoles, o subtenente do Corpo de Bombeiros Joberth Medeiros ensina como proceder em situações de descargas elétricas.
Segundo o militar, o primeiro passo ao se deparar com a situação é realizar, imediatamente, o desligamento do fornecimento de energia da tomada causadora. A interrupção no fornecimento é suficiente para que a vítima “desgrude” da fonte do choque.
“Isso faz com que a pessoa tenha certeza de que houve o desligamento para se aproximar. Só então o cidadão deve iniciar o primeiro atendimento”, explica.
Com a energia desligada, é preciso acionar o socorro. “Recomendado é manter a vítima deitada, em repouso, aguardando socorro. Caso verificada a ausência de sinais vitais, deve-se realizar as manobras de ressuscitação apenas quando a pessoa é capacitada para reanimação.”
Quais as sequelas de levar um choque?
O bombeiro reforça o perigo de receber uma descarga elétrica. A depender da voltagem da tomada em que o aparelho está ligado, os sintomas podem ir de um leve formigamento até uma parada cardíaca.
“A energia elétrica tem vários segmentos: da queimadura até a manifestação de proteínas que podem irradiar problemas de falência no fígado”, conta.
A manifestação da corrente elétrica pelo organismo também promove queimaduras internas e externas. “A energia transita pelo seu corpo. Isso quer dizer que tem uma entrada e uma saída e, de acordo com a tensão, pode causar queimaduras de até terceiro grau e lesões de órgãos internos.”
Acompanhado do choque está o risco de um segundo trauma. “A depender da posição da pessoa e do cenário em que ocorre a descarga, a vítima pode sofrer um segundo trauma, causado pela queda provocada pelo estado de inconsciência”, explica o bombeiro.