"O que foi comunicado para gente era a informação de um afogamento e, quando chegamos no local, nos deparamos com um cidadão vivo, porém, preso nas galhadas no meio do rio", é assim que o sargento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) Wedsney Lopes, 42 anos, descreve a surpresa e a tensão vivida por seu grupo de resgate no dia 1º de janeiro de 2022. Essa foi uma das ações mais marcantes realizadas por sua equipe, na recente missão de ajuda às vítimas da tragédia climática ocorrida na Bahia.

A equipe estava em Jequié, no interior do estado, e foi acionada para atender uma ocorrência de um cidadão que, pelo fato de as chuvas terem dado uma trégua, decidiu pular de uma ponte para se refrescar em um rio e acabou sendo levado pela correnteza. "Fomos em apoio para o resgate dele e, chegando no local, já conseguíamos identificá-lo no meio da galhada", ressalta.

O sargento lembra que a adrenalina do resgate foi muito grande, pois, enquanto a equipe estava se deslocando, não sabiam qual era a situação. Ao chegar, perceberam que se tratava de um resgate de grande risco. "Isso fez com que a guarnição ficasse ainda mais apreensiva, porque esse tipo de situação de retirada de vítima em águas rápidas é bem complexa. Então isso causou uma tensão significativa na equipe, mas, graças a Deus, deu tudo certo", comemora.

A experiência de 21 anos do sargento em missões fora do DF rendeu a ele histórias que, segundo o próprio Wedsney, o marcam até hoje. Mas, a tensão e a preocupação em salvar as vidas que dependem do heroísmo dos bombeiros permanece a mesma de sempre. A equipe do CBMDF retornou da missão no último dia 4.

Para ele, as missões externas são muito importantes, por permitir o apoio e a integração com outras corporações. "Eu já participei de algumas operações tanto no Brasil quanto no exterior e, quando saímos do DF, a gente consegue ver a realidade não só da nossa região, mas também de corporações de outros estados e de outras nações", relata o sargento que, além da Bahia, já esteve em Brumadinho, no Haiti e na República Dominicana.

"Atuar em operações fora de Brasília é sempre muito difícil, porque priva o agente do convívio familiar. Eu, particularmente, em função da saudade que tenho do meu filho, da minha esposa e dos meus pais, tenho bastante dificuldade em relação a esse tipo de atuação". 

Saudade

As equipes do CBMDF saíram de Brasília pouco antes da virada de ano e, para Wedsney, o emocional fala muito mais alto quando a missão acontece em períodos como este. "Quando se coloca o fator festividade, fica muito mais evidente essa questão. O emocional fala mais alto quando a gente está longe da nossa família nessas datas festivas. Mas, o bem maior, que é a preservação da vida, o fato de ter a oportunidade de ajudar as pessoas, fazer o bem sem olhar a quem, faz com que essa dor no coração de estar longe da família seja um pouco mais amenizada", conta.

Para o sargento Bruno Timbó, 36, o sentimento é o mesmo. Ele também estava na equipe e disse que, na profissão de militar, é normal ficar longe da família alguns dias ou até durante meses. O oficial acompanhou o nascimento de sua terceira filha, no Natal de 2021, e, dois dias depois, já estava no ponto de encontro da viagem para a Bahia. "Nunca é fácil ficar longe da família, ainda mais em um momento tão delicado. Mas sabia que, quando estivesse ajudando quem mais precisava, principalmente longe de Brasília, minha família ficaria muito feliz em saber que fiz parte da missão e isso acaba amenizando a saudade", ressalta.

Essa foi a primeira missão de ajuda humanitária que Bruno participou nos 10 anos de carreira no CBMDF. Ele conta que foi à Bahia com uma grande expectativa de ajudar as pessoas daquela região. "Apesar de algumas dificuldades, voltei com a sensação de dever cumprido. Aprendi muito tentando ajudar as pessoas e, mesmo sendo uma missão desgastante, foi uma experiência muito gratificante para mim", destaca.

Brasileira resgatada

Outro oficial que participou da missão na Bahia, o segundo sargento do CBMDF Wilkerson, 46, também relatou que o tempo de estadia no Nordeste foi de grande valia, pois teve a chance de ajudar brasileiros que precisavam de ajuda humanitária. Sobre os momentos marcantes que viveu durante a missão, o sargento lembra de quando uma senhora o agradeceu e perguntou se poderia fazer uma oração para ele. "Foi um momento de muita emoção para mim, porque uma pessoa que está passando necessidade, ao invés de pensar só em si, compartilha bênçãos com você", relata.

Em 28 anos de carreira pelo CBMDF, essa foi a segunda missão de Wilkerson na corporação. "A primeira foi em 2010, depois do terremoto no Haiti. Fui para lá com a equipe e acabei participando do resgate do corpo de uma brasileira que estava nos escombros de um hotel, em Porto Príncipe", lembra Wilkerson.

Sobre o fato de estar longe da família, o sargento comentou que já tinha combinado com os familiares de passar o réveillon em Pirenópolis. Tudo estava organizado e a convocação para a missão pegou a todos de surpresa. Os cumprimentos de ano-novo acabaram acontecendo em uma ligação de celular para a esposa e uma de suas filhas.

Longa batalha

Segundo o major Victor Gonzaga de Mendonça, 35, chefe da delegação do CBMDF que atuou na Bahia, a batalha para salvar vidas começou antes mesmo da chegada. O major contou que, devido às chuvas, o trecho de estrada próximo à Correntina-BA foi muito afetado pelas chuvas e ficou parcialmente destruído. "A nossa viagem, que era para durar entre 18 e 19 horas, acabou durando praticamente 25 horas, pois tivemos que fazer um desvio muito grande do percurso original. Sem contar que fizemos a viagem direto, somente com paradas para alimentação", destaca Mendonça.

Na Bahia, ainda de acordo com o major, a equipe utilizou as viaturas para percorrer os principais pontos, tanto na cidade de Ipiaú como em Jequié (local definido como base do CBMDF), fazendo ações de prevenção e orientação à população. Caso encontrassem alguém em situação de risco, fariam o resgate. "Mas, o tempo tinha melhorado. Então, nosso foco foi a prevenção e orientação", ressalta.