A Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-RS) confirmou, que irá manter 40% do efetivo do policiamento de guardas e policiais civis, guarda-vidas, bombeiros e policiais militares no Litoral Norte até 15 de março. Mesmo com o fim da Operação Golfinho no domingo (28.03), o objetivo é que as forças policias ajudem a conter aglomerações e evite a presença de pessoas nas praias gaúchas.

A decisão atende a um pedido da Associação dos Municípios do Litoral Norte (Amlinorte). A prioridade é fiscalizar o cumprimento dos protocolos de bandeira preta.

"A manutenção do efetivo extra no litoral se dá exclusivamente pela urgência que temos de fiscalizar com todo o rigor possível o cumprimento das medidas de prevenção. Não é uma ampliação para o veraneio, muito pelo contrário. É o pior momento da pandemia e estamos em alerta máximo", afirmou o vice-governador e secretário de Segurança, Ranolfo Vieira Jr.

Com a bandeira preta, que indica o nível máximo no risco de contaminação. Estará proibida, por exemplo, a permanência nas faixas de areia, a abertura de quiosques e o uso de guarda-sóis.

"Apelamos mais uma vez pela adesão dos prefeitos no rigor da fiscalização e que a população colabore. Evitem as praias e não permaneçam na faixa de areia. As forças de segurança vão buscar essa conscientização, mas não vão hesitar em conduzir para autuação aqueles que resistirem", acrescenta Ranolfo.

 

Cinco vezes mais mortes

Entre 19 de dezembro do ano passado e a última quinta-feira, os bombeiros realizaram 767 salvamentos em praias do RS, a maioria no Litoral Norte (675). Esse acumulado representa um aumento de 95% na comparação com o mesmo período do verão passado.

Já as mortes quintuplicaram. Foram duas no verão de 2019/20 e 10, até o momento, neste verão.

Como a atividade dos guarda-vidas a partir deste fim de semana será apenas para orientar e controlar aglomerações na orla, não está recomendada a entrada no mar nesse período.

"Nesse sentido é fundamental que se observe os locais com o serviço instalado e a área delimitada para banho em cada localidade. Mantenha o distanciamento social e observe as sinalizações e recomendações de segurança contra o afogamento", afirmou o major Isandre Antunes.

Sistema de saúde em colapso

Os hospitais do Litoral Norte também sentem os efeitos do esgotamento da capacidade. Em Capão da Canoa, a lotação é de quase 91% e, em Torres, ela já chegou ao limite.

"Nós estamos em estado de alerta com o uso completo das nossas UTIs e com a presença de pessoas nas nossas emergências em cuidados críticos. O momento ainda inspira atenção, principalmente nos dias que vão se seguir, que a gente tem uma expectativa de saturação, de sobrecarga sobre o sistema de saúde", alerta o diretor de saúde pública da Associação Educadora São Carlos (AESC), Maximiliano Marques.

Mesmo com bandeira preta em todo estado e esgotamento do sistema de saúde, isso parece não importar quem ocupa a faixa de areia da orla da cidade. Nesta sexta, a maioria transitava sem máscaras, da mesma forma que há duas semanas.

Os médicos não têm dúvidas de que as aglomerações são uma das principais formas de disseminação do coronavírus.

Em Tramandaí, a taxa de ocupação dos leitos de UTI passou dos 90%. O hospital tem 22 pacientes com Covid-19 internados na unidade e em leitos clínicos, e mais seis na emergência.

Para o gerente administrativo do hospital, Luis Genaro Figoli, o que preocupa são os efeitos do último feriado.

"Nós entendemos que ainda não estamos no pico. Provavelmente a próxima semana é que vamos ter os efeitos do carnaval. Nós tivemos os efeitos do Ano-Novo e do Natal um pouco retardado. A gente imaginava que ia ter isso na primeira quinzena de janeiro e nós tivemos na segunda quinzena de janeiro. Então, também achamos que a influência do carnaval vai ser provavelmente nessa próxima semana", projeta.

Em Osório, não há mais vagas na terapia intensiva. O hospital tem 18 pacientes com Covid-19 e dois com suspeita, todos entubados. Segundo o diretor-presidente Marco Pereira, nos últimos 15 dias começou a ser registrado um agravamento em quem é infectado.

"O vírus está provocando um estrago maior no corpo humano, fazendo com que seja necessário vir ao hospital e ficar internado. O paciente chega no hospital com sintomas mais agravados, e o nível de internação de pacientes que chegam aqui é muito maior, infinitamente maior", garante.

A fila de espera é quase três vezes maior do que a capacidade atual: 51 pessoas esperam por uma vaga. "Eu tenho paciente aqui que é de Imbé, eu tenho paciente que é de Capão da Canoa, de Torres, de todas as localidades. Ou seja, está havendo uma solidariedade da região do litoral para poder se ajudar", diz Marco

"É fundamental, e eu tenho repetido isso muito, que a pandemia, a pressão que existe em cima dos hospitais, dos pronto-atendimentos está diretamente vinculada à taxa de contaminação. Se a gente não frear a taxa de contaminação, nós vamos ter que abrir centenas de leitos que já não temos mais capacidade de abrir, porque falta quadro, falta gente, falta estrutura física. Se as pessoas não se cuidarem, se não tiver solidariedade das pessoas, se não usarem máscara, nós não vamos ter condições. O sistema todo vai colapsar", completa Genaro.