O número de mortos nos terremotos na Turquia e na Síria passou de 40 mil. Os enviados especiais Estevan Muniz e Wellington Almeida acompanham o trabalho da missão humanitária brasileira na região.
Um grande êxodo interno começou na Turquia. Famílias inteiras estão deixando o sul do país, a região mais atingida pelo terremoto.
Em Hatay, Riza disse que mandou a família para um abrigo longe da região do terremoto. Ele se queixou da fragilidade das construções: "Não é Deus que mata as pessoas. São os empreiteiros. É o concreto que mata as pessoas."
Hamza fugiu da guerra na Síria e agora vai ter que se mudar de novo. "É muito difícil. Vamos começar do zero, sem emprego, sem nada," lamentou.
Na Síria, onde a estimativa é que 9 milhões de pessoas tenham sido afetadas pelos terremotos, o presidente Bashar al-Assad atendeu aos apelos das Nações Unidas e liberou a abertura de dois corredores para envio de ajuda humanitária a regiões controladas pelos rebeldes. Uma decisão inédita em 12 anos de guerra civil.
Em Aleppo, uma equipe do Unicef está cuidando de crianças traumatizadas pela tragédia. O pai conta que Ahmad, de nove anos, tem acordado várias vezes à noite e se assustado com qualquer barulho mais forte.
A saúde mental das vítimas também está recebendo atenção especial na Turquia. Em um hospital em Iskenderun, médicos vindos da índia cuidam do psicológico dos sobreviventes. A médica explicou que agora que as feridas físicas estão estabilizadas, começam a surgir mais e mais pacientes sofrendo de ataques de pânico e estresse pós-traumático.
As equipes de socorristas também têm mostrado sinais de exaustão. Dormem onde e quando podem.
A missão humanitária brasileira armou um acampamento na cidade de Kahramanmaras. Em barracas, suportam o frio da madrugada que chega a -8°C.
Os bombeiros brasileiros se alimentam nos breves intervalos. Dois médicos militares atendem num posto ambulatorial de campanha, que foi montado nesta terça.
A pequena Ecrin, de apenas 27 dias, nasceu prematura. Ela estava na UTI neonatal quando houve o terremoto. Agora, está sendo acompanhada por médicos brasileiros.
Quando o terremoto atingiu a cidade, a família estava distante da maternidade. A mãe de Ecrin contou que quando eles chagaram ao hospital, todos os bebês estavam juntos. Mas havia dois bebês no quinto andar.
"Eu não sei como, mas eu subi até lá com meu marido. Nós pegamos os bebês e descemos. E todo mundo estava chorando. O hospital não caiu, mas as paredes estavam ruindo", contou Meral Takalak.
Ela disse que a família vai mudar de cidade agora, mas pretende voltar para Kahramanmaras no futuro e retomar a vida.
As equipes de resgate do Brasil aguardam os chamados de buscas das autoridades locais no acampamento da missão humanitária. A esperança de encontrar pessoas com vida não acabou.
“O objetivo principal é apoiar as forças locais e internacionais nas ações de busca e resgate, especialmente focando a tentativa de localização de sobreviventes. Nós entendemos que essas missões devem continuar, uma vez que ainda hoje estão sendo encontradas vítimas vivas. E acreditamos que, com a permanência dos trabalhos, ainda temos chances de encontrar novos sobreviventes”, diz o coordenador da missão humanitária do Brasil, Rafael Machado.
Os salvamentos estão ficando mais escassos.
Quase nove dias depois dos tremores, muitas famílias ainda esperaram notícias.
Em kahramanmaras, uma pessoa foi encontrada viva depois de 206 horas soterrada. Na mesma cidade, mais cedo, dois irmãos, um de 17 e outro de 21 anos, foram salvos dos escombros do prédio em que viviam.
Mais um rapaz e duas mulheres também foram salvos em outras cidades da Turquia depois de quase 200 horas. Essa contagem do tempo é dramática. Para muitos, uma contagem regressiva.
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