Há milhares de anos é considerado o melhor amigo do homem, mas também pela grande capacidade de olfato e esperteza esses pequenos animais têm sido usados em batalhas já nas guerras entre persas e gregos, e foram fundamentais na Segunda Guerra Mundial, realizando diversas funções como mensageiros, combatentes, cargueiros (munições, alimentos ou medicamentos), puxadores de pequenos veículos, vigilância e guarda, portadores de bombas, rastreadores, mascotes de unidades militares.

Já na atualidade, as polícias Militar, Federal, Civil e Corpo de Bombeiros têm utilizado os animais para rastrear drogas, buscar desaparecidos, identificar bombas, entre outros. De acordo com especialistas, um ser humano possui 5 milhões de células olfativas enquanto os cães possuem em média 200 milhões. Um cachorro pode discernir um odor específico mesmo quando existem dezenas de outros cheiros ao redor.

Durante a Segunda Guerra, o relato mais chocante era que cães conhecidos como “Hundminen” ou “cães-minas” ficavam semanas sem comer e, depois disso, encontravam alimentos embaixo dos tanques de guerra; após se “adaptarem” ao caminho, eram colocados explosivos presos em seus corpos para explodir tanques adversários, porém a utilidade deles hoje em dia é para o bem da população e apoio às forças de segurança.

Em Mato Grosso todas as principais unidade de segurança dispõem de cães para auxiliar nos serviços.  A Polícia Civil realizou no ano de 2011 o 1º Curso de Adestramento de Cães de Faro de Drogas, promovido pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), em parceria com a Companhia de Policiamento com Cães de Florianópolis, que foi ministrado por cinco instrutores da Polícia Militar catarinense.

O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) possui em sua unidade um grupamento especializado em operação com cães, e os sete animais (dois labradores, um pastor holandês e quatro pastores belgas de Malinois), foram adquiridos pela unidade no ano de 2013 e passaram por treinamento.

Os animais desempenham as funções de busca e salvamento em região de mata, faro para explosivos, entorpecentes e localização de armamentos. Os cachorros passam por um rígido treinamento diário para estarem preparados para as diversas situações que podem acontecer. O treinamento dura dois anos, até o cão estar apto a desempenhar as funções do batalhão.

No Corpo de Bombeiros existe a cadela Sharon que atua no resgate e salvamento de vítimas. O animal, que é da raça labrador, tem 5 anos e é a única com o Certificado Nacional de Busca, Resgate e Salvamento, ganho em uma competição nacional de bombeiros.

Na região de fronteira, em novembro de 2013, foi implantado no Grupo Especial de Fronteira (Gefron), o CanilFron que conta com 11 animais que auxiliam os policiais nos 750 quilômetros de fronteira seca, de um total de 983 quilômetros de fronteira com a Bolívia.

Os cães são adestrados para farejar substâncias entorpecentes, busca e resgate de pessoas desaparecidas e vítimas de afogamento, guarda e proteção e busca e captura de criminosos.

Na Polícia Federal (PF) a cadela Kyra, que atuava na fiscalização de combate ao narcotráfico, se aposentou na semana passada, porém deixou herdeiros para ocupar a sua vaga. Em sua última atuação à frente da PF, Kyra participou da ação que resultou na prisão de uma mulher que transportava três tabletes de cloridrato de cocaína de Cuiabá para o município de Mineiros (GO).

Cães na Polícia Militar

Os cães, para ingressar no Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar (Bope), passam por uma avaliação desde o seu nascimento. Com o passar do tempo, alguns animais acabam sendo descartados por não se adaptarem à rotina militar pesada. Outros acabam descartados por conta do porte físico e por falta de agilidade.

 Sete policiais militares atuam no adestramento canino no batalhão. Os policiais que atuam com os animais têm um vínculo de parceria e confiança com os cães para que quando forem solicitadas as ações possam atuar com maestria na missão ordenada.

Os cães têm sido utilizados com maior frequência nos últimos anos.  Entre as principais ações estão o farejo a bombas e dinamite, principalmente quando os artefatos passaram a ser utilizados com frequência nos roubos e furtos a bancos na capital e no interior de Mato Grosso. Os animais treinados conseguem identificar com facilidade o artefato auxiliando o trabalho da “equipe explosivista” do Bope.

O Grupo Especial de Segurança de Fronteira (Gefron) conta com três frentes na atuação canina: faro de drogas, busca, resgate e captura e abordagens de guarda. Os cães farejadores são os mais empregados nas ações policiais, por isso, há sete animais no canil.

De acordo com a investigadora do Gefron Vanessa Miranda de Paula, que atua no CanilFron, a rotina de estímulo aos cães é diária e tem gerado excelentes resultados, “os treinamentos são diários, utilizamos brinquedos para estimular o cão. Metade dos treinamentos é para preparo físico e outra parte para as especificidades da modalidade em que são empregados", diz ela.

Assim como o policial se prepara para uma operação, o cão também passa por todo um processo para evitar o estresse do animal. "Antes de sair do canil, fazemos a soltura do animal para que faça todas as necessidades fisiológicas. No deslocamento precisamos tomar cuidado com a temperatura, com o sol, para não superaquecê-los. É preciso levar água, alimentação e o material que será usado, coleira, guia longa, guia curta. Tudo isso tem de ser acompanhado, para que possamos executar o trabalho", explicou a investigadora.

Para o 2º sargento da Polícia da Militar Moracir da Silva Figueiredo, coordenador do Canil de Fronteira, trabalhar com cães é uma terapia. "Essa integração que há entre o cão, o policial civil, militar e bombeiro, acontece de forma mais tranquila, devido a esse companheirismo dos cães", disse.  

Os animais na fronteira já participaram de diversas ações do Gefron e conseguiram contribuir na apreensão de mais de uma tonelada de drogas.

Sharon, orgulho de Mato Grosso

A cadela Sharon iniciou sua vida militar no ano de 2012, adestrada pelo capitão BM Rafael Marcondes. O militar adquiriu a labradora ainda filhote e iniciou o treinamento de Sharon depois de participar de um curso com bombeiros de Santa Catarina.

A cadela foi adestrada por ele, e após a conclusão dos ensinamentos, o militar assinou um termo de doação de Sharon para o Estado, para que enfim ela fosse integrada à equipe.

No ano de 2015, depois de conquistar o Certificado Nacional de Busca, Resgate e Salvamento, Sharon trouxe para Mato Grosso a certificação internacional de cão de resgate. Ela superou oito cães do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, Paraná, e ainda outro da Província de Mendoza, na Argentina.

Para trazer o prêmio para Mato Grosso, a labradora teve que mostrar que está apta para atuar tanto em área urbana quanto rural. Em uma área de vegetação nativa, Sharon teve que localizar duas vítimas em 15 minutos. De um total de 200 pontos, ela marcou 195.

Em agosto de 2017 a cadela encontrou um idoso em Poconé (130 km da capital). Ele estava sem voltar para casa há três dias e sofre do mal de Alzheimer. Depois que o canil foi acionado e a cadela chegou ao local, foi necessária apenas uma hora de busca para encontrar a vítima.

Ações sociais dos animais

Além de atuar no combate à criminalidade, os cães pertencentes ao CanilFron também desenvolvem dois projetos sociais, para aproximar a população dos cachorros.  Uma das ações desenvolvida pela unidade é o projeto Cãominhar que tem o objetivo de auxiliar as instituições que desenvolvem diferentes trabalhos junto a pacientes com necessidades especiais. São pessoas que necessitam de algumas atividades para melhorar a capacidade motora, cognitiva e o desenvolvimento psicossocial.

O CanilFron, em parceria com o Centro Especializado de Reabilitação II (CER II), iniciou, em junho, a inserção de cães nas intervenções realizadas pelos profissionais de saúde desta área junto a algumas crianças.

Os cães têm se mostrado excelente ferramenta de complementação aos tratamentos já realizados pela instituição de saúde. O tenente-coronel PM José Nildo disse que, além do trabalho ostensivo e repressivo, o Gefron foi criado para auxiliar a todos que necessitam de sua contribuição também em demandas sociais. "Os policiais são pertencentes à sociedade e para ela trabalham como servidores públicos. Além de trabalharmos no cuidado com uma segurança pública de qualidade, cuidamos dos nossos cidadãos para que tenham condições de vida mais dignas".

O outro projeto lançado pelo grupo é o Gefron em Minha Comunidade, na Escola Estadual 12 de Outubro, no Assentamento Boa Esperança, em Cáceres. São realizadas palestras, atividades recreativas e apresentações com cães do Canil Integrado de Fronteira. A estimativa é que a iniciativa alcance, a princípio, aproximadamente 2 mil alunos de diversas escolas da região.

Kyra se aposenta e deixa herdeiros

Na tarde do dia 6 de agosto, Kyra deu suas últimas farejadas como policial federal.  Após identificar drogas que uma mulher transportava em um ônibus de viagem, a fiscalização derradeira de Kyra coroou uma carreira de êxitos na PF, em especial o ano de 2017, em que esteve presente em ações repressivas que permitiram a interceptação de aproximadamente duas toneladas de drogas. Missão cumprida, a cadela, aos 8 anos, agora “pendura o focinho” e parte para a tão merecida aposentadoria.

Mesmo encerrando a carreira, Kyra deixará herdeiros que serão utilizados no combate à criminalidade. A cadela deixa para a Polícia Federal não só um histórico de tarefas bem-sucedidas ao longo de suas jornadas policiais como a presenteia com valiosos herdeiros que continuarão a contribuir no combate ao tráfico de drogas no país: os cinco filhotes, frutos do cruzamento com Harley, outro cão farejador.

A ninhada faz parte do programa de reprodução de cães do Serviço de Canil Central (Secan-PF), em Brasília (DF), no qual os filhotes recebem o treinamento de obediência e introdução de odores, antes de serem enviados às unidades aonde efetivamente trabalharão. A Delegacia da Polícia Federal em Rondonópolis será uma das unidades agraciadas, recebendo a partir do dia 17 a cadela Dea, que perpetuará o legado dos pais em ações policiais em Mato Grosso.

Enquanto isso, Kyra usufruirá a aposentadoria em um sítio em Rondonópolis, onde uma veterinária será a sua nova guardiã. O ambiente agitado das cidades, rodoviárias, aeroportos e rodovias foi trocado pela calmaria da vida no campo. A farejadora agora irá descansar e curtir a natureza, prometendo deixar por onde passou muita saudade.

Fonte: Circuito Mato Grosso / JEFFERSON OLIVEIRA