Convicta de que o casal Rubem Heger, 85 anos, e Marlene Heger Stafft, 53, foi assassinado, a polícia traça planos com auxílio dos bombeiros para tentar localizar os corpos. Na próxima semana, serão realizadas buscas em áreas de mata na Região Metropolitana. A operação contará com cães farejadores, que vão tentar encontrar algum vestígio dos desaparecidos. Na sexta-feira (6), a filha e o neto do idoso foram presos em Canoas, por suspeita de envolvimento no sumiço.
Os locais onde serão realizadas as buscas foram definidos a partir do que a investigação conseguiu apurar sobre os trajetos realizados de carro pela filha e pelo neto do idoso. Cláudia de Almeida Heger, 51 anos, e o filho Andrew Ribas Heger, 28, foram as últimas pessoas a terem contato com o casal, segundo a apuração. No dia 27 de fevereiro, estiveram na moradia deles, em Cachoeirinha, e depois seguiram em direção a Canoas.
— Tentamos verificar áreas que cobrissem o deslocamento do carro, que acompanhamos, e que tenham lugares para esconder. São áreas com mata e com pouco movimento de carros naqueles dias — explica o delegado Anderson Spier, responsável pela investigação.
As buscas na próxima semana devem ocorrer ao longo de dois dias, mas a data de início ainda precisa ser confirmada. A operação deve se concentrar em Canoas, mas não se descarta que possam vir a ser realizadas buscas em outros locais. Um dos pontos foi identificado pela polícia a partir de imagens de áreas de mata encontradas no celular do neto. Os vídeos foram gravados no fim do ano passado. A polícia suspeita que o crime possa ter sido premeditado.
Em depoimento, a mulher alegou que levou o pai e a madrasta para permanecer na casa dela e que lá, no dia 1º, os dois teriam sumido enquanto ela estava em um posto de saúde. No entanto, a investigação não encontrou nenhum indicativo, além do depoimento dela, que confirme que o casal realmente esteve em Canoas. Na parede da cozinha da casa de Marlene e Rubem foram localizados pela perícia respingos de sangue. A amostra é compatível com a do idoso. Isso leva a polícia a acreditar que eles foram mortos na moradia e depois tiveram os corpos ocultados.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) realizou outras análises em busca de vestígios. Comidas encontradas na geladeira foram analisadas para descartar a possibilidade de envenenamento, por exemplo, mas nada suspeito foi encontrado. Uma seringa também está sendo periciada, assim como uma camiseta que apresentava possíveis manchas de sangue. O laudo deve apontar se é mesmo sangue humano e se é compatível com o de algum dos desaparecidos.
Em materiais de limpeza, que estavam na cozinha, houve reação com o luminol, mas não foi possível coletar amostra para verificar se era sangue. Mas isso faz a polícia suspeitar que alguém pode ter utilizado os produtos para limpar manchas de sangue na casa. O veículo da filha também foi periciado e houve reação com luminol no porta-malas. No entanto, o sangue encontrado não era humano, segundo a análise dos peritos. Roupas que estavam sendo descartadas pela mulher também foram periciadas, mas não foram encontrados vestígios de sangue.
A partir da confirmação da presença de sangue do idoso na parede da cozinha, a polícia conseguiu obter os mandados de prisão preventiva da filha e o do neto. Os dois foram detidos na casa onde vivem, em Canoas. Três celulares e um notebook apreendidos com os investigados também passam por análise, para tentar obter alguma informação relevante ao caso.
Como se trata de uma apuração com investigados presos, a polícia precisa concluir o inquérito até o fim desta semana. A expectativa do delegado é encaminhar o inquérito ao Judiciário nesta sexta-feira (13). Os investigados devem ser indiciados tanto pelo duplo homicídio, quanto por ocultação de cadáver. A polícia chegou a avaliar interrogar novamente os presos, antes da conclusão, mas é possível que isso não seja realizado.
— Num primeiro momento a ideia é remeter sem a oitiva deles. Não tem nenhum fato novo desde a última vez que ouvimos. Caso sobrevenha fato novo, fazemos a oitiva — afirma o delegado.
Filha nega envolvimento
Durante a investigação, Cláudia foi ouvida duas vezes, uma delas como testemunha e outra como suspeita. Nas duas, ela negou que tenha sumido com o pai e a madrasta. A mulher também alegou que tinha boa relação com o casal. Sobre os colchões na garagem, disse que o pai pediu para que colocasse no sol para arejar. Já o neto não chegou a prestar depoimento, por orientação da defesa, que afirma que ele sofre de esquizofrenia.
O advogado Rodrigo Schmitt, responsável por representar os dois no caso, afirma que os clientes não foram os responsáveis pelo desaparecimento do casal. Sobre o caso, o advogado se manifestou por meio de nota. "A defesa espera que tudo seja esclarecido, que a legislação seja observada, que seja restituída a liberdade da filha e do neto do senhor Rubem", diz trecho da nota (confira a íntegra abaixo).
Na última segunda-feira (9) foi realizada audiência de custódia. A Justiça acolheu o pedido da defesa para que os presos passem por avaliação médica e postergou a análise do pedido de prisão domiciliar, caso seja comprovado que Cláudia possui problemas de saúde. A defesa alega que ela é diabética, sofre de pressão alta e lúpus. Há possibilidade de que seja instaurado incidente de insanidade mental em relação ao neto, que a defesa afirma sofrer de esquizofrenia. Nova audiência foi agenda para esta sexta-feira.
O desaparecimento
Marlene e Rubem moravam no bairro Carlos Wilkens, em Cachoeirinha, de onde desapareceram em 27 de fevereiro, um domingo de Carnaval. Naquela data, a filha Cláudia e o neto Andrew estiveram na moradia. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que Marlene recebe os dois no portão. Mais tarde, as mesmas câmeras registraram outras movimentações, como o neto colocando o carro na garagem e um colchão sendo colocado na frente do veículo, impossibilitando a visualização do que acontece ali dentro.
Depois disso, por volta de 15h40min, o veículo da filha deixa a moradia, mas não é possível visualizar se o casal está dentro do carro, como ela alega. O sumiço é percebido nos dias seguintes por outros familiares, que procuram a polícia. Esses parentes relatam que quando chegaram na residência encontraram a casa aberta e a cachorrinha do casal morta no pátio — não foi possível apontar a causa da morte do animal.
Um dos pontos que despertou a atenção é o fato de que o idoso usava medicação regular, em razão de um enfisema pulmonar, e também fazia uso de oxigênio. E tudo isso foi encontrado na moradia do casal, o que levou a polícia a suspeitar da versão de que eles pudessem ter saído de casa para um passeio. Além disso, o fato de terem se passado mais de dois meses sem notícias do paradeiro deles ou sem movimentação bancária faz a polícia acreditar que o casal tenha sido morto.
Contraponto
Confira a íntegra da nota do advogado Rodrigo Schmitt, responsável por representar a filha e o neto do idoso no caso:
“A defesa tomou ciência plena da investigação até o presente momento e já sustentou a ilicitude da colheita das provas. Única perícia que foi feita realmente por peritos foi a extração do DNA de uns pequenos pingos de sangue da parede que não se sabe de quando são e nem de quem. Quem deu o material genético para comparar foi um filho do senhor Rubem. Este filho foi quem arrombou a casa do casal desaparecido antes da perícia. Também foi este filho que fez Boletim de Ocorrência do desaparecimento depois do arrombamento da casa feita por ele, que confessou apenas quando ouvido pela segunda vez pela Polícia, que praticou o arrombamento. Este filho foi quem apresentou o dinheiro que tinham dito na mídia que tinha sumido e depois o dinheiro foi localizado através da filha dele. E o DNA diz que o sangue da parede é compatível com a amostra (que é deste filho). Este filho está querendo ter vista do processo e contratou advogado para isso. Muitos familiares, incluindo este filho, não gostam da filha de Rubem que está presa, pois ela tinha um casamento com um homem milionário e dava vida boa para todos. Quando ela se separou e familiares perderam as mordomias, muitos parentes se voltaram contra ela. As extrações dos celulares apreendidos não foram feitas pelos peritos da SETEL do IGP. A Polícia deveria apenas lacrar e enviar os celulares para a perícia, mas fez extrações por conta própria, o que contraria as determinações da lei. Infelizmente, qualquer diligência que venha a ser feita através dos celulares incorrerá em crime previsto no artigo 25 da lei de abuso de autoridade. A defesa espera que tudo seja esclarecido, que a legislação seja observada, que seja restituída a liberdade da filha e do neto do senhor Rubem, que sempre colaboraram com a Justiça e estão presos sem nenhuma prova de que tenham cometido algum crime”.