Guapo e Logan – dois cães labradores que trabalham no salvamento e resgate junto ao Corpo de Bombeiros de Santa Maria – são “velhos” conhecidos dos pacientes internados na Unidade Paulo Guedes, no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). Desde dezembro do ano passado, a cada 15 dias, eles visitam a instituição e desenvolvem atividades terapêuticas e recreativas com os pacientes, no pátio interno do hospital. Com intuito de conhecer esse projeto de perto, parte do comando do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina estive no HUSM, na última quinta-feira, dia 22 de março.

Antes mesmo de os pacientes descerem, uma roda de conversa se formou no pátio em volta dos cães.

- Fizemos o curso de cinotécnicos com vocês e, no final do ano passado, iniciamos as atividades aqui, inspiradas no projeto de vocês – disse o soldado Brum ao grupo.

O chefe da Unidade Paulo Guedes, o enfermeiro Luciano Bertasi contou aos visitantes que, apesar de o projeto estar no início, já foi possível verificar melhoras nos pacientes.

- Esse projeto foi um presente para nós. Um exemplo disso é de uma senhora que, quando chegou, não se comunicava com ninguém, não se movimentava de jeito nenhum. Mas ela tinha um vínculo prévio com cachorros. Quando ela participou do projeto pela primeira vez, já expressou as primeiras frases aqui: “Eu amo esses bichinhos”. Teve uma vez que um deles pulou no colo dela e ela saiu segurando a guia e deu um passeio no pátio. A gente só tem que agradecer a disponibilidade de vocês – afirmou Bertasi.

O comandante regional da 1ª Região Bombeiro Militar de Santa Catarina (CBMSC), coronel César Nunes, quis saber todos os detalhes sobre o funcionamento do projeto. Pois é ele quem vai defender a ideia junto ao alto-escalão para disseminá-la em outros hospitais.

- Ficamos demasiadamente feliz por esse projeto estar em uma universidade tão renomada. Quero parabenizar as equipes por esse trabalho em um ambiente tão complexo, que é o ambiente hospitalar.

Os Bombeiros locais explicaram que, além do rígido controle sanitário – carteira da vacinação em dia e controle de zoonoses -, os cães passam por banho em pet shop antes de entrar no hospital.  

A visita dos cães iniciou pela Unidade Psiquiátrica devido as características dos pacientes.

- Por se tratar de uma atividade nova no hospital, pensou-se em iniciar na nossa unidade, pois nos nossos pacientes, o acometimento é mais em saúde mental. Com isso, o risco de infecção hospitalar é mínimo – explicou Bertasi.

- Além disso, os pacientes que participam do projeto são pacientes que não estão acamados. Muitas vezes, o tempo fica ocioso para eles. Então, quanto mais atividade, mais chance de proporcionar bem-estar, de deixá-los menos estressados – conta a terapeuta ocupacional Fabiane Conterato.

O major Walter Parizotto, comandante do 14º Batalhão de Bombeiro Militar de Santa Catarina, convidou o grupo de profissionais do HUSM para participar de um seminário de Cinoterapia, que irá ocorrer em Itajaí (SC), entre os dias 20 e 22 de julho.

- É muito satisfatório mantermos o cão ativo e fazemos o bem para as pessoas. Temos um curso para treinamento de cinotécnicos e estamos tentando convencer nossos homens de que essa é uma atividade extremamente importante para o cão, para o cinotécnico e para quem recebe a atividade – acredita o maj.

- Ninguém investe e ninguém mantém estruturas que não são úteis. Todo mundo questiona nossa atividade como bombeiro, se no futuro, com tanta tecnologia ainda vão existir incêndios. E nos preocupamos, por meio dos trabalhos sociais, em ser cada vez mais presente. Quem ganha com isso não é a corporação, é a sociedade – razão única de existir das nossas instituições. Enxerguem como uma necessidade de garantir o futuro da instituição por uma melhor sociedade – completa o coronel Cesar.

 

Iniciativa em Santa Catarina já tem 4 anos -

Em Xanxerê (SC), o projeto no hospital começou há 4 anos com uma justificativa muito pontual. Um menino iria fazer uma cirurgia com alto risco e a psicóloga que estava cuidando dele queria minimizar o impacto. Sugeriu então, levar o cão do garoto para o hospital.

- Era impossível levar até o hospital o cão do menino. Então levamos o nosso. Nós começamos fora do hospital, em um ambiente anexo, depois fomos para uma salinha onde as crianças vinham até a sala e, hoje, nós estamos entrando na UTI. E queremos compartilhar essa experiência – afirma o maj. Parizotto.

Hoje, além de Xanxerê, há projeto de cinoterapia em hospitais de Itajaí e São Miguel do Oeste. A visita com os cães varia de duas a três vezes por semana.

- O fluxo depende da quantidade de pacientes. Os hospitais entram em contato com a gente e visitamos crianças e adultos na Pediatria, cardiologia e UTIs – conta o 2º tenente Tiago José Domingos, membro da Coordenadoria de Serviço de Busca, Resgate e Salvamento com Cães do CBMSC e instrutor das disciplinas de Etologia Canina e Figuração no curso de Cinotecnia.

As atividades desenvolvidas dependem da demanda do dia e são solicitadas pelas equipes multiprofissionais da psicologia e da fisioterapia, por exemplo. As visitas são divididas em dois momentos. O primeiro é uma atividade terapêutica de cerca de 1h. Os bombeiros passam nas unidades de internação com os cães para interagir com os pacientes.

- Passamos, sempre acompanhados da assistente social ou psicóloga, para tentar levantar o ânimo deles. Fizemos um momento de pausa, para descanso dos cães, e retornamos para o segundo momento. Agora com a fisioterapia para fazer sessões de 20 a 30 minutos, que envolve subir escadas, jogar objetos para o cão pegar e trazer de volta. A fisioterapeuta passa para gente, por exemplo, que o paciente precisa movimentar membros superiores. Então a levamos uma atividade para que ele arremesse objetos – conclui o Domingos.

Além dos bombeiros de Santa Catarina, haviam bombeiros de Vacaria, São Leopoldo e Santa Cruz do Sul - todos com a intenção de promover melhorias nos projetos de cinoterapia existentes ou implantar o projeto na cidades onde ainda não existem. Os visitantes foram recepcionados pelo tenente coronel Cláudio Ricardo Pereira, comandante do 4º Batalhão de Bombeiros Militar, da Região Central. e pela capitã Paula, veterinária que dá assistência aos cães de Santa Maria.

Fonte: Site Hospitais Universitários Federais