Planejamento e persistência do Corpo de Bombeiros, informações precisas de GPS e a experiência de dois moradores que conhecem os perigos da mata fechada no entorno do Cânion Josafaz são algumas das razões do bem-sucedido resgate de 11 ciclistas que haviam se perdido numa trilha entre Terra de Areia e São Francisco de Paula. Os atletas de Bento Gonçalves e Garibaldi passaram cerca de 14 horas isolados num ponto de difícil acesso, entre a noite de sexta-feira e a manhã de sábado. Todos passam bem.

O grupo havia saído de Bento Gonçalves ainda na madrugada de sexta-feira (7). Eles foram de carro até São Francisco de Paula, onde pararam num mirante nas proximidades do Josafaz, considerado um dos maiores cânions dos Aparados da Serra e também local inóspito e pouco explorado. 

Segundo o comandante dos bombeiros de Canela, 1º sargento Miguel Oliveira de Souza, os ciclistas têm boa experiência em trilhas selvagens e iniciaram a aventura às margens da Rota do Sol, na região de Aratinga, em São Francisco de Paula. O grupo ingressou numa estradinha à esquerda da rodovia, no sentido Serra-Litoral Norte. A intenção era seguir por um trajeto que encurtaria o caminho até o município de Três Forquilhas. Em algum trecho da mata, os ciclistas entraram numa trilha errada e não conseguiram mais achar um caminho de volta ou seguir para Três Forquilhas.

Os ciclistas foram dados como perdidos por volta das 18h de sexta-feira (7), horas depois de terem ingressado pelo Josafaz. Naquele horário, eles deveriam ter encontrado esposas e namoradas num ponto demarcado, o que não aconteceu. Como carregavam telefones, os ciclistas avisaram os familiares que não sabiam onde estavam e pediram ajuda. Iniciava ali a operação de resgate.

Apesar de a região não ter uma boa cobertura de telefonia celular, os ciclistas conseguiram enviar as coordenadas via GPS de onde estavam. As informações foram essenciais para os bombeiros, que começaram o trabalho a partir de São Francisco de Paula.

— O telefone deles pegava em alguns momentos e conseguimos orientá-los a fazer uma fogueira e permanecer agrupados. Ainda na noite de sexta-feira (7), por volta das 22h30min, avançamos mata adentro para tentar achá-los, mas tivemos que interromper a operação por causa da visibilidade. Pelo o que eles relataram, havíamos chegado bem perto deles naquela noite — conta o sargento Miguel.

"A volta foi ainda pior"

Após troca de informações com a Patrulha Ambiental (Patram) da Brigada Militar e servidores da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), os bombeiros decidiram retomar as buscas por volta das 5h30min de sábado (8). Contudo, a opção foi inverter o trajeto e iniciar o resgate de baixo para cima, o que exigiu o deslocamento da equipe para o interior de Terra de Areia, ao pé da Serra. Com o auxílio de Claudio da Silva Model e Roberto Guimarães Ramos, dois nativos da região, seis bombeiros e um PM da Patram iniciaram a difícil subida. Pelo caminho, os moradores guiaram o grupo entre mato, árvores, córregos, chão escorregadio e outros perigos.

— O mais complicado era ter que levar equipamentos como maca, de rapel e outros por um caminho íngreme, muito íngreme — recorda o sargento.

Após quase duas horas de caminhada, às 8h30min de sábado (8), os socorristas encontraram os ciclistas em boas condições de saúde - um deles havia machucado o ombro. 

— Tínhamos o mapa do georreferenciamento e usamos apitos para eles nos ouvirem e ter retorno — conta o comandante.

Segundo relataram aos bombeiros, os esportistas passaram a noite em volta de uma fogueira. Eles também não tinham muita comida. Antes da descida, receberam orientações de como se deslocar pela mata até a base em Terra de Areia.

— A volta foi ainda pior, já que tínhamos que levar as bicicletas e a descida era complicada. Mas os ciclistas aguentaram firme, afinal, são atletas — descreve o sargento.

Após o salvamento, cinco ciclistas foram transportados nos veículos dos bombeiros até um paradouro na Rota do Sol e os demais seguiram o comboio pedalando. A partir dali, os homens reencontraram os familiares e retornaram para suas casas. A reportagem tentou contatar os ciclistas e seus familiares, mas não obteve retorno. Além dos bombeiros de Canela e da Patram, participaram da operação dois integrantes dos bombeiros de Terra de Areia. 

Região isolada

Conforme estimativa dos bombeiros, os ciclistas estavam num local conhecido como Morro do Capitão, numa distância aproximada de quatro quilômetros da base montada na casa de um dos nativos que ajudaram no resgate, em Terra de Areia. No local onde eles passaram a noite, havia uma fonte de água. A região é muito isolada e a habitação mais próxima era justamente a casa que serviu de base para os socorristas. 

O Cânion Josafaz tem 16 quilômetros de extensão e fica na área de São Francisco de Paula e delimita parte da divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 

Fonte: O Pioneiro