Quando os guarda-vidas Lucas Bernardes, 28 anos, e Romeu Müller, 38, entraram na areia próximos à guarita 145, a praia de Tramandaí quase parou — isso porque eles levavam nos braços duas pranchas enormes, de cor amarela com detalhes em vermelho, aguçando os olhares de veranistas, que curvaram as cabeças e paralisaram só para ver os profissionais entrando no mar com os equipamentos.

 

Até então inédita no uso para salvamentos no Rio Grande do Sul, a prancha, chamada de australiana, estará disponível em cinco praias do Litoral Norte a partir desta quarta-feira (5). O modelo é bastante utilizado em países com tradição em esportes aquáticos, como é o caso da Austrália, país continente circundado pelas águas.

Sete pranchões, que lembram os de stand-up paddle, foram doados pela Unimed ao Corpo de Bombeiros Militar para facilitar o resgate de pessoas em apuros no mar. Atualmente, a corporação trabalha com a prancha longboard, mais parecida com as da prática de surfe — menor do que a australiana.

A diferença entre as duas não está só no tamanho, mas sim no jeito de conduzi-la no mar. Com a prancha australiana, o guarda-vidas pode remar de joelhos e, assim, ter uma melhor observação do todo durante uma situação de afogamento.

— Este equipamento tem um perfil mais elevado e, por isso, permite observação mais qualificada da vítima e especialmente em atividade de patrulhamento preventivo.
As técnicas são diferentes, ele tem melhor desempenho no retorno e sustentação do afogado passivo — explicou o major Isandré Antunes, chefe de assessoria de operações e Defesa Civil do Corpo de Bombeiros.

Porém, para operar a prancha de resgate australiana, os guarda-vidas precisaram fazer um treinamento pesado, com práticas diárias nas últimas semanas em pontos de águas revoltas, como na barra do Rio Tramandaí e no mar, próximo à Plataforma de Atlântida, em Xangri-Lá.

— Como é preciso qualificação específica, dependemos do conhecimento prévio em surfe dos guarda-vidas. Nem todos se adaptam — continuou o major, reforçando que, em um primeiro momento, os pranchões estarão disponíveis nas praias de Torres, Capão da Canoa, Tramandaí, Nova Tramandaí e Imbé.

Romeu e Lucas foram dois dos guarda-vidas que receberam o treinamento. A dupla fez uma demonstração da condução da nova prancha para a reportagem na tarde desta segunda (3).

— Ela ajuda bastante não só na parte do salvamento, como também na prevenção. Por estar em uma altura superior, a gente consegue ter um campo de visão mais longo — contou Romeu.

Além das pranchas australianas, pela primeira vez em 20 anos, a corporação vai colocar na água em todo o litoral gaúcho 15 motos aquáticas, que também serão usadas para resgates. Dez delas estarão disponíveis até quarta-feira (5). Outros cinco jet skis serão colocados em operação ao longo do ano.

A diferença de tamanho entre as pranchas

Australiana

  • Tamanho: 3,2 metros (pode variar de 10 a 12 pés)
  • Largura: 58 centímetros
  • Peso: 9 quilos

Longboard

  • Tamanho: 2,7 metros (nove pés)
  • Largura: 23 centímetros
  • Peso: de 5,5 até 7 quilos

Imagem: Lauro Alves / Agência RBS