O Corpo de Bombeiros Militar (CBM) sediou, entre os dias 22 e 24 de abril, a Certificação Nacional de Busca, Resgate e Salvamento com Cães. Realizada em Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre, a certificação consiste em treinamento de binômios, que são duplas compostas por um bombeiro militar e um cão, para que eles possam atuar em operações de busca e salvamento.
Como se trata de uma certificação nacional, os animais aprovados passam a integrar um seleto grupo de cães que atendem a um padrão de excelência aceito pelas diferentes unidades federativas do Brasil. Nessa edição, foram certificados quatro binômios gaúchos.
De acordo com a presidente da Câmara Técnica de Cinotecnia do CBM, major Karyn Savegnago, o processo de seleção é realizado com um alto nível de exigência e capacita os animais para atuarem em todo o país. “A certificação nacional cria as diretrizes para o trabalho de busca e salvamento no Brasil. Essa formação é importante tanto para o nosso serviço, dentro do Rio Grande do Sul, quanto para o apoio para outros estados. Estamos elevando o padrão das atividades e tivemos a participação de árbitros formados e credenciados pelo Comitê Nacional de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (Conabresc) do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina”, destaca.
A vocação para ser um cão herói dos bombeiros começa desde o nascimento. Antes mesmo de os cães abrirem os olhinhos, já são iniciados os testes de seleção. “O primeiro teste é colocar a mãezinha longe e ver qual filhote se desloca em direção a ela para mamar. Depois, começamos com obstáculos, para verificar qual filhote apresenta o perfil de busca. Também realizamos testes de alimentação, em que o animal precisa achar a ração. Os cães que demonstram interesse e bravura já são selecionados”, destaca a major Karyn.
As provas da certificação
As provas são divididas em duas etapas, em que são analisados os requisitos de obediência e habilidade. Na primeira etapa, são avaliadas as respostas a comandos básicos do militar e são realizados testes de agressividade com humanos e outros cães e acessos a locais que apresentam adversidades, como terrenos e condições climáticas hostis, para localizar, por exemplo, vítimas de desastres estruturais, como deslizamentos que atingem moradias ou acidentes em edificações.
Já na segunda etapa, é realizada a prova de odor, seja geral ou específico, em que o cão identifica a amostra de algum pertence de uma pessoa que está sendo procurada. O treinamento consiste em registrar odores humanos em diferentes objetos, para que o cachorro aprenda a identificar e rastrear o caminho percorrido pela pessoa desaparecida e determinar sua localização. Podem ser utilizadas peças de roupa com cheiro deixado pela transpiração, pelo contato com a pele e por resíduos.
A certificação permite que os cães atuem de forma especializada, de modo que alguns são empregados apenas em operações para localizar restos mortais, enquanto outros são utilizados em operações para localizar pessoas vivas, por exemplo. Em alguns casos, os cães são certificados para mais de uma especialidade.
A integração do binômio é fundamental, pois o cão deve obedecer a comandos verbais e gestuais do bombeiro militar, enquanto este deve ser capaz de interpretar comportamentos e sinais do cão. A dupla é sempre fixa e, na maioria das vezes, os cachorros residem com o bombeiro — chamado de condutor. Juntos, homem e cão atuam de forma complementar para localizar e resgatar pessoas em situações de emergência.
Atuação em todo o território nacional
Um dos árbitros da certificação foi o soldado Alício Abílio da Silva Stabel, cujo cão, Lugh, da raça boiadeiro australiano, de 5 anos, já é certificado para a busca de pessoas vivas em áreas rural e urbana. Ele explica que os cães do CBM que recebem a certificação nacional podem atuar em qualquer operação no Brasil. “A certificação contribui não apenas para a sociedade gaúcha, mas também para toda a Federação, pois sabemos que aquele animal atende a um padrão de excelência bastante elevado”, conclui.
É o caso, por exemplo, do cão Sheik, de 4 anos, pertencente ao sargento Alex Sandro Teixeira Brum. Da raça labrador, o cachorro, cuja última certificação foi na categoria restos mortais rurais, já atuou no rompimento da barragem de Brumadinho (MG), em 2019, e no deslizamento de terra em Petrópolis (RJ), em 2022. No ano passado, o Sheik auxiliou nos resgates no Vale do Taquari, região que sofreu com as enchentes provocadas pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul em setembro.
Para o sargento Brum, a atuação dos cães no âmbito do CBM é de extrema importância. “Tecnologia e equipamentos, como drones, são fundamentais, mas o cachorro certificado é um ativo insubstituível. Ele consegue operar em dias de chuva, em ambientes caóticos, barulhentos, com escombros. A atuação do animal é sempre a mesma, independentemente do cenário que ele vai encontrar”, explica.
Histórico do canil
Os quatro cachorros certificados nessa quarta-feira (24/4) somam-se a outros que já integram a matilha do CBM. O canil da corporação teve início em julho de 2003, em Porto Alegre, quando o então soldado Gerson Meireles, que atuava como mergulhador de busca e resgate, treinou seu cão Luck para a busca de cadáveres em ações da Polícia Civil.
Enquanto estão na atividade, os cães são submetidos a exercícios regulares e podem receber mais de um tipo de certificação. Os animais têm uma dieta balanceada e são acompanhados de forma contínua por médicos veterinários.
Atualmente, o CBM certifica cães das mais variadas raças. Entre elas, estão o labrador, o pastor belga, o bloodhound, o boiadeiro australiano e o border collie.
Os cachorros começam a ser selecionados para esse tipo de atividade ainda filhotes, mas só podem participar da certificação com 18 meses de vida e, via de regra, são “aposentados” aos 8 anos de idade, quando passam a viver como outros cães domésticos, na companhia de tutores, normalmente, o próprio condutor.
Nessa edição, participaram 13 duplas de binômios. Foram certificados: General (restos mortais - rural), Logan (restos mortais - rural), Sheik (restos mortais - rural) e Dunk (varredura por vítima viva - rural). Os cães que não receberam a certificação podem tentar mais uma vez. O objetivo do CBM é realizar a certificação uma vez por semestre.
Texto: Anelize Sampaio e Anna Emília Soares – Ascom SSP
Revisão técnica: Elen Azambuja – Ascom SSP