Em quatro dias de chuva consecutivos, os transtornos em Santa Maria e região só aumentam. Há casas e ruas alagadas, famílias desabrigadas e locais ilhados. Um homem está desaparecido no arroio Cadena. De sábado até as 10h desta quarta, já choveu 262,4 milímetros na cidade.

FAMÍLIAS DESABRIGADAS

Um dos casos mais graves foi registrado na Vila Ecologia, bairro Pinheiro Machado. Cerca de 50 famílias, estão com suas casas de baixo d¿agua. Por volta das 10h, o Corpo de Bombeiros foi até o local e ajudou no resgate dos moradores. A maioria optou em permanecer no local. 

Com receio de que o problema voltasse a acontecer, no início deste ano, os moradores chegaram a fazer valetas, e alguns, inclusive, construíram  um pequeno muro frente as portas para conter a água. Tentativas falhas.

Maria Paulina Urban, 59 anos, foi uma das pessoas que teve sua casa afetada. Aos prantos, ela disse:

– De três anos para cá a situação é a mesma. A casa da minha filha (fundos do terreno) com bebê de dois anos, está cheia de água. Há vizinhos tendo que tirar as crianças de casa. Não tem nem como sair, pois periga cair na sanga.

Maria mora com a filha Jhenifer, 23 anos, o neto Henrique, 2 anos, e os cachorros. Ela conta que em dezembro do ano passado, devido a enchente foram perdidos bens como cobertas, alimento, e eletrônicos.

O susto e corre-corre para erguer a geladeira, fogão, camas, armários e recolher alimentos também foi sentido pela Ângela Padilha, 40 anos. Ângela vive com a filha Franciele, na travessa Tocantis, há 20 anos ,e, lembra que as 9h ligou para os bombeiros, com receio que "água fosse entrar em casa". 

– Minha casa tem dois quartos, uma cozinha e dois banheiro, está tudo de baixo d¿água. Perdi muita coisa. A gente ganha pouco, e todo ano tem que enfrentar a mesma coisa – comenta indignada.

A operadora de loja disse que vai trabalhar das 13h às 22h30min. No ano passado, em situação parecida, ela perdeu o emprego, pois ficou arredando os móveis. 

Tentando evitar mais transtornos, ela usou de parte da rescisão contratual para construir uma espécie de contenção, o que não salvou, mas "deu tempo para evitar maiores perdas". 

Um alento, foi que "hoje salvei a comida. Perdi muita coisa, minha pia, guarda-roupa, meu fogão novo que havia ganho de aniversário", lamenta.

Ela mantem a casa com pouco mais de um salário mínimo, pede auxílio para a prefeitura para um novo lar. Enquanto isto:

– Vou ficar em casa, não tenho para onde ir. Vou esperar baixar a água e ficar, mesmo no escuro_ disse. 

O bairro está com a energia cortada e sobreaviso dos bombeiros para mais alagamentos.

DISTRITO ILHADO

Devido ao grande volume de água acumulado, a RSC-287, principal estrada que liga o distrito de Arroio do Só a vilarejos próximos, como a localidade de Vista Alegre, ficou totalmente alagada. A comunidade está ilhada.

A moradora Magali Trevisan está utilizando uma rota alternativa para conseguir chegar ao trabalho. Ela tem de fazer uma volta pelos vilarejos de Rita, Rincão, Nossa Senhora Aparecida, Água Boa, São Geraldo e distrito de Pains, saindo em Camobi. O trajeto de estrada de barro e muita pedra, dura cerca de uma hora.  

Rotas de ônibus suspensas

Por causa das condições da via, o ônibus que fazia a linha Restinga Seca-Santa Maria, às 6h da manhã, foi cancelado até segunda ordem. De acordo com um funcionário da empresa, desde a tarde de terça-feira a estrada de acesso à comunidade já apresentava uma quantidade significativa de água. 

Esta não é a primeira vez que a rota foi cancelada. A medida irá afetar, pelo menos, 20 pessoas que faziam a viagem todos os dias.

Pelo mesmo motivo, as linhas que saiam de Santa Maria com destino a Dilermando de Aguiar e à localidade de Catuçaba foram canceladas. A previsão é que na quinta-feira a situação seja normalizada.

RUAS ALAGADAS

A Rua Francisco dos Santos Machado, no bairro Camobi, também sofre com o alagamento. De acordo com os moradores do local, a água da chuva está entrando nas casas. Também em Camobi, a Rua Dalila Toneto Behr, no Residencial Novo Horizonte, o córrego que passa atrás da via transbordou e inundou a rua. 

Na Rua Comandante Kramer, no bairro Salgado Filho, a base de sustentação de uma casa foi levada pela chuva. A família teme pela segurança e pede ajuda da Defesa Civil.

Na Rua Onofre Ferrão, no bairro Tomazetti, os moradores estão ilhados devido ao alagamento da via. De acordo com a moradora Ana Maria Romero, os bueiros estão entupidos e a rua virou um mar de lama. 

A situação é a mesma na Rua Jardim Berleze, no bairro Diácono João Luiz Pozzobon, conforme relatam moradores.

No bairro Passo das Tropas, a parede de uma casa desmoronou, na Rua José Tavares, na Vila Videira e os moradores bloquearam a via em protesto, logo ao meio-dia desta quarta-feira. 

Na Rua Florisberto Figueiró, na Vila Schirmer, no bairro João Goulart, a água da chuva invadiu as casas. A situação é a mesma na Rua Augusto Ribas. 

Algumas casas localizadas no trevo da RSC-287, que dá acesso à Quarta Colônia, estão debaixo d'água. As residências ficam na localidade de Santuário.

Na BR-287, houve desmoronamento no canteiro de obras do cruzamento da rodovia com a Avenida Mauricio Sirotsky Sobrinho, no bairro Patronato. 

No bairro Campestre do Menino Deus, o Corpo de Bombeiros fez o resgate de 20 pessoas e cinco animais (veja vídeo abaixo), que estavam ilhados por conta da enxurrada que afeta a região, que está em alerta.

Risco de desmoronamento

A Defesa Civil de Santa Maria está monitorando as localidades do Passo da Ferreira, Canários e o bairro Campestre do Menino Deus. No AT Poncho Branco, na Rua Vereador Antônio Dias, onde há risco de desmoronamento de encostas. 

A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros realizaram avaliações no local, na tarde de terça, e optaram por interditar as ruas de acesso.

Fonte: Diário de Santa Maria / Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS