Bella, Kira , Horus, Odin, Max, Wolf, General, Guria e Molly. Esses e outros heróis de quatro patas desempenham um papel decisivo nas operações de resgate realizadas pelos bombeiros militares, não só do Corpo de Bombeiros Militares do Rio Grande do Sul (CBMRS), mas também em outros Estados. A atividade com cães no Estado completa 20 anos hoje (15/7). Com treinamentos diários, busca de certificações locais e nacionais, o serviço de busca e resgate gaúcho é referência na especialidade.

A utilização dos cães visa reduzir o tempo resposta para a localização de vítimas, garantindo agilidade e efetividade nas ocorrências envolvendo pessoas desaparecidas em matas, escombros e até mesmo vítimas de homicídios, latrocínios e acidentes. Os cães possuem treinamentos para busca de pessoas vivas e para busca de resíduo biológico humano. No Rio Grande do Sul, os animais estão distribuídos nos canis de Porto Alegre, Santa Maria, Santa Cruz do Sul, Passo Fundo, Gravataí, Itaqui e Vacaria. 

Os binômios são formados por um cão treinado e um bombeiro militar especializado em operações de busca e salvamento. Essas equipes trabalham em conjunto para localizar e resgatar pessoas em situações de emergência. O treinamento dos binômios é rigoroso e envolve a construção de uma forte parceria entre o cão e o bombeiro. Ambos passam por exercícios intensivos para desenvolver habilidades específicas, necessárias para as operações de busca e salvamento. O bombeiro militar aprende a interpretar os comportamentos e sinais do cão, enquanto o cão é treinado para utilizar seu olfato e agilidade para encontrar e indicar a presença de vítimas.

Durante as missões, o binômio trabalha em estreita colaboração, utilizando as habilidades naturais do cão. O bombeiro militar, por sua vez, interpreta os comportamentos do cão e segue suas indicações para chegar até a vítima. Eles também são responsáveis por garantir a segurança do cão durante as operações e fornecer os cuidados necessários, como alimentação e descanso adequados.

Para o comandante-geral do CBMRS, coronel Eduardo Estêvam Camargo Rodrigues, os binômios contribuem significativamente para as operações de resgate. “O serviço de salvamento, com a utilização dos nossos binômios, trouxe uma maior efetividade para o cumprimento das missões. É um trabalho de referência, não só para o Corpo de Bombeiros Militar, mas para diversas atividades que necessitam de busca e resgate”, disse o oficial. A eficiência e rapidez na localização de vítimas podem fazer a diferença entre a vida e a morte. Além disso, a presença de um cão treinado muitas vezes traz conforto e esperança para as pessoas afetadas por desastres, bem como para suas famílias.

 

Treinamentos e especialidades dos cães

Escolhidos pela resistência, resiliência, agilidade e habilidades sensoriais, principalmente o olfato, a audição e a visão, além de facilidade no aprendizado, os cães passam por um longo período de treinamento, que pode durar de um ano e meio a dois anos, quando são submetidos a exames de certificação para poderem então atuar nas ocorrências. Dos 27 caninos da matilha do CBMRS, 14 são utilizados nas operações de busca e salvamento e o restante está em treinamento e em breve serão certificados.

Os bombeiros militares usam cães de busca e salvamento de diferentes raças, como pastores alemães, labradores retrievers, golden retrievers, border collies, pastor belga de malinois, weimaraner e rastreador brasileiro, devido às suas habilidades naturais de busca, olfato e agilidade. Essas raças são conhecidas por sua capacidade de farejar e seguir trilhas, localizar pessoas em escombros e trabalhar em condições difíceis.

Os cães são divididos em dois grupos, os treinados para buscar por odor específico e os que procuram por odor genérico. Nas ocorrências de pessoas perdidas em matas, é possível utilizar um cão que busque por um odor específico. Para isso, é utilizado algum pertence da pessoa desaparecida e oferecemos para o cão cheirar. A partir desse momento, o animal entende que está buscando apenas aquela pessoa especificamente, e nenhum outro odor tira o foco dele, até o encontro da vítima.

Já para situações de desastres, como desmoronamentos, soterramentos, rompimentos de barragens, são usados os cães que são treinados para buscar por odor genérico. Estes cães não têm a dica do que estão procurando, mas são treinados para entrar em um cenário de caos e procurar por pessoas. Alguns deles procuram apenas por pessoas vivas; outros por pessoas vivas, mas também por resíduo biológico humano. Por fim, têm ainda os que buscam apenas restos mortais ou cadáveres.

Durante o emprego, os cães utilizam seus sentidos apurados, especialmente o olfato, para detectar o cheiro de pessoas e direcionar seus treinadores até elas. Eles podem percorrer grandes áreas rapidamente e são capazes de encontrar vítimas mesmo em condições desafiadoras, como locais com baixa visibilidade ou ruído.

Segundo o tenente-coronel Ricardo Mattei Santos, comandante da Companhia e Busca e Salvamento (CEBS), o treinamento dos cães de busca e salvamento é intenso e abrange diversas habilidades específicas.  “Os cães do CBMRS recebem uma forte base de socialização. Eles têm que se habituar com outros animais, com as pessoas, perderem a sensibilidade a barulhos e a vários estímulos externos. Não podem também ter medo de altura, de água, de objetos, de pisos instáveis e de texturas desagradáveis”, disse o militar.

Eles são ensinados a obedecer aos comandos verbais e gestuais, a seguir pistas olfativas, a identificar e sinalizar a presença de pessoas em áreas inacessíveis, como buracos ou espaços confinados, e a trabalhar em equipe com seus treinadores e outros cães.

 

Atuações locais e nacionais

Em 2003, iniciaram-se as primeiras atividades com cães no CBMRS, em Porto Alegre, quando o então soldado Gerson Meireles, que atuava como mergulhador de busca e resgate, inseriu aos pouco seu cão Luck, como primeiro experimento em busca de cadáveres junto a Polícia Civil. O cão se destacava nos treinamentos realizados, demonstrando uma aguçada aptidão para o serviço. A partir de então o binômio passou a ser escalado para se dedicar especificamente para missões de busca e resgate, dando início ao canil do grupamento de busca e salvamento.

A utilização de cães de busca ganhou mais relevância para as corporações militares após a tragédia do rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho, em 2019, quando mais de 270 pessoas perderam a vida. Os animais foram fundamentais para encontrar boa parte das vítimas que desapareceram em meio ao minério. Outra missão importante que os cães do CBMRS participaram foi em Petrópolis, onde enchentes e deslizamentos de terra mataram mais de 240 pessoas em fevereiro de 2022.

Os cachorros Guapo, Bono, Logan e Barão e os bombeiros militares Gerson Meireles dos Santos, Alex Sandro Teixeira Brum, Vagner Charão Lago, Juliano Soares Sodré e a perita Cristina Barazetti Barbieri,  foram oficialmente reconhecidos em 2019. Ao lado de equipes de todo o país, servidores e cães foram designados pelo governador Eduardo Leite para representar os gaúchos na tentativa de amenizar as perdas e o sofrimento causado pelo rompimento da barragem de Brumadinho (MG). Confira a matéria aqui. 

No Estado, recentemente os cães atuaram nas buscas das vítimas atingidas pelo Ciclone Extratropical em Caraá, Maquiné e Herval. Os caninos participam de operações integradas e frequentes com a Brigada Militar e a Polícia Civil, em buscas de pessoas desaparecidas. Em 2021, os caninos trabalharam em tempo integral, para localizar os bombeiros militares que estavam desaparecidos após o incêndio que destruiu o prédio da sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP).

 

Cuidados com a saúde e aposentadoria

Os cães de busca e salvamento dos bombeiros militares desempenham um papel fundamental na localização rápida e eficiente de pessoas em situações de emergência, aumentando as chances de resgate e salvamento. Eles são considerados membros valiosos das equipes de resgate e são altamente respeitados por seu trabalho incansável e dedicação. Além disso, é importante manter seus cães em boa forma física, com exercícios regulares e uma dieta balanceada.

Os amigos de quatro patas do RS são muito bem tratados, sendo observada a saúde física e mental nas atividades e treinamentos. O acompanhamento veterinário é realizado de forma contínua para que os animais estejam sempre saudáveis. Os exames regulares ajudam a identificar problemas de saúde precocemente e permitem um tratamento adequado. As vacinas são atualizadas de acordo com as recomendações dos profissionais da saúde animal.

Por conta da exposição a vários riscos durante as operações de resgate, são utilizados equipamentos de proteção individual (EPI) apropriados, como botas e coletes de segurança. Após longos períodos de trabalho ou operações intensas, os caninos descansam adequadamente e se recuperam em um ambiente calmo e tranquilo para relaxar e dormir.

Quando um cão de busca e resgate se aposenta, ele passa por uma transição suave para uma vida mais calma. Com uma ambientação confortável, são retiradas as demandas físicas excessivas e é implementada uma dieta adaptada às necessidades do cão idoso. Os cuidados com a saúde seguem, adaptando assim, o cuidado de acordo com as necessidades em constante evolução.

Mesmo os cães ávidos por trabalho também têm sua hora de parar, e aos oito anos de idade são aposentados e podem curtir a vida nas residências de seus binômios, que após o tão merecido descanso, se transformam em tutores. Os cachorros fazem parte da família dos bombeiros militares e recebem amor, atenção e interação social regular para terem uma vida equilibrada e feliz.

 

Texto: Kelly Cavedon Zaniol