Em frente à guarita de guarda-vidas de número 114, um “bom dia” desenhado na areia cumprimenta os banhistas. Subindo as escadas, um olhar alerta mas, ao mesmo tempo, tranquilo, já que não havia ninguém no mar naquele momento. Sem ocorrências, uma sorvida no chimarrão é permitida. Poucas pessoas devem saber, mas a praia de Santa Terezinha está bem servida: ali tem uma tricampeã da competição Bombeiro de Ferro.

Representando o 1º Batalhão de Bombeiro Militar (BBM) de Porto Alegre, a soldado Thalin Rodrigues Corrêa, 31 anos, venceu a prova feminina entre colegas da Corporação nos anos de 2016, 2017 e 2018. “Fiquei em quarto lugar na edição nacional, em João Pessoa, na primeira edição”, lembra. Ela ainda beliscou um vice em 2019, último ano em que ocorreu, devido à pandemia. Dividida em quatro fases, de diferentes níveis de dificuldade, a competição simula uma situação de ocorrência grave. Os títulos já viraram brincadeira entre os amigos militares. “Estão sempre pegando no meu pé, mas é legal, também, pelo reconhecimento no meio”, conta.

O preparo físico de Thalin auxiliou nas conquistas, que podem representar uma ação verdadeira a qualquer momento. “É uma prova muito rápido, precisamos concluir em até um ou dois minutos, no máximo. Precisamos subir em um prédio de cinco andares correndo”, explica. A desenvoltura nas competições foi potencializada por uma vida inteira de prática de esportes. “Dos 13 aos 19 anos, fui da categoria de base do atletismo da Ulbra, em Canoas, onde moro”, conta. A soldado também já jogou pelo Porto Alegre Futebol Clube, até passar no vestibular para Educação Física. “Meu pai não era esportista, mas ele me puxava para este lado”, recorda.

Simpatia poderia ser o sobrenome de Thalin, que brinca ao saber que o repórter torce para Internacional. “Aí, vai dar briga”, diz a gremista, antes de uma sonora risada. Mas a Brigada Militar é assunto sério, pelo menos, desde 2012, quando ela entrou na instituição. “O concurso era o mesmo, direcionei para os Bombeiros, anos depois que houve a desvinculação da BM. Em 2018, comecei a participar da Operação Golfinho”, se orgulha. Thalin comemora a entrada de mais bombeiras na Corporação, fato exemplificado na competição da qual venceu três vezes. “Na primeira edição, éramos três, enquanto haviam 50 homens. Já, em 2019, quinze gurias disputaram”, destacou.

O circuito do Bombeiro de Ferro começa com a tarefa de subir uma torre com quatro lances de escada, içar uma mangueira e descer sem tirar a mão do corrimão. Em seguida, os militares precisa simular uma entrada forçada com uso de martelo e correr em ziguezague entre cones. No passo seguinte, eles devem adentrar uma porta com a mangueira pressurizada no ombro e apagar as chamas simuladas. Por fim, um boneco pesando 70 quilos precisa ser arrastado por sete metros – dez, no caso dos homens – para simular o resgate de uma vítima inconsciente.

 

Foto: Guilherme Almeida