O Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio) iniciou na quinta-feira (19) a coleta externa de sangue no Quartel Central do Corpo de Bombeiros. Segundo afirmou à Agência Brasil o diretor do Hemorio, Luiz Amorim, o estoque do banco de sangue do instituto “está muito ruim, como em todo o Brasil, mas especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, que são as unidades mais afetadas (pelo coronavírus)”.

O médico considerou acertada a recomendação das autoridades para que a população não saia de casa e faça o isolamento social. “É uma medida fundamental no controle e prevenção da pandemia. Mas isso significa também que as pessoas não saem de casa para doar sangue”, advertiu. “A gente precisa que as pessoas saiam de casa com esse fim específico de doar sangue, porque senão vai faltar sangue (para quem precisar)”.

O Hemorio tomou algumas precauções para que os doadores mantenham distância uns dos outros em suas instalações. Foram retiradas algumas cadeiras para abrir o espaço e foi permitida a entrada de pequenos grupos para evitar aglomeração e tornar a doação de sangue mais segura.

Luiz Amorim informou que até a semana passada o instituto manteve um nível de doação dentro do normal. A partir da última segunda-feira (16), porém, houve queda de 50% a 60% do serviço no Hemorio e nos demais serviços da rede. Em todo o estado, a queda foi de aproximadamente 80% no total de bolsas coletadas.

Amorim alertou que se não houver uma reversão desse quadro de doadores, os estoques vão durar pouco tempo. “A gente precisa muito que os doadores procurem o Hemorio ou outro serviço perto de sua casa”. O diretor lembrou que, na zona sul, o Hospital de Laranjeiras dispõe de um serviço de doação de sangue. O mesmo ocorre no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), em Vila Isabel, zona norte. Todos os endereços podem ser encontrados no ‘site’ do Hemorio (www.hemorio.rj.gov.br). “Realmente, a gente precisa muito”, insistiu.

Coletas móveis

Luiz Amorim disse que, atualmente, os estoques dos bancos de sangue dependem muito do sistema de coleta móvel nas entidades, escolas, empresas, universidades, igrejas, mas a maioria delas não está funcionando devido à pandemia do coronavírus. Este mês, as 65 coletas externas que estavam programadas foram canceladas.

A direção do Hemorio está entrando em contato também com as polícias Civil e Militar do estado, Guarda Municipal e com o Exército, em busca de novos doadores. Estão sendo feitos contatos ainda com municípios próximos à capital, com o mesmo objetivo. Amanhã (20), técnicos do instituto visitarão a cidade de Mesquita, na Baixada Fluminense. Quem tiver interesse em fazer uma coleta externa no local de trabalho ou de moradia pode telefonar para o instituto pelo número gratuito 0800 282 0708 e agendar a doação.

Transfusão x vírus

O diretor do Hemorio informou que não existe nenhum teste em nenhum lugar do mundo para identificar se o doador está contaminado pelo coronavírus. Os servidores que atuam na recepção do instituto foram orientados no sentido de não deixar entrar qualquer pessoa que apresente algum sintoma respiratório, como tosse, coriza, falta de ar, mesmo que não tenha viajado ao exterior recentemente, nem tenha tido contato com alguém contaminado, Essa pessoa deverá ser encaminhada a uma unidade de saúde. Amorim destacou que se essa pessoa entrar no Hemorio, passará por uma nova triagem que poderá determinar sua retirada do instituto.

“O mundo inteiro, na verdade, tem agido dessa maneira porque não há um teste específico para determinar se o sangue de um doador está contaminado”. Amorim salientou que não há também evidências de que esse vírus seja transmissível por transfusão. “Ele é transmitido por via respiratória”.

O diretor do Hemorio observou que vírus semelhante batizado coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV, do nome em inglês) teve o primeiro registro relatado em 2012, após o sequenciamento do genoma de um vírus isolado de amostras de escarro de pacientes que ficaram doentes em um surto de uma nova gripe de 2012. Em abril de 2014, casos de Mers-CoV foram relatados em vários países, como Arábia Saudita, Malásia, Jordânia, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Tunísia e Filipinas. O número de casos da doença chegou a 238, com 92 mortes. Mas nenhum desses casos teve transmissão por transfusão, destacou Amorim. Por isso, reiterou que, “muito provavelmente, não há transmissão do (novo) coronavírus por transfusão”.

Em toda a rede estadual, a média alcança 500 doadores de sangue por dia. Nos próximos dias, o Hemorio estará divulgando a agenda da semana que vem, com a indicação dos locais onde os técnicos estarão para fazer a captação de sangue.

Doadores

Para doar durante o período de pandemia, a pessoa precisa ter entre 16 e 69 anos de idade e pesar, no mínimo, 50 quilos. É necessário estar bem de saúde. Todos os doadores devem apresentar documento de identidade oficial com foto. O Hemorio informa que não é necessário estar em jejum, bastando apenas evitar comer alimentos gordurosos nas quatro horas que antecedem a doação e não ingerir bebidas alcoólicas 12 horas antes.

Texto: Alana Gandra

Edição: Liliane Farias