Um incêndio no centro de internação provisória para menores do 7º Batalhão da Polícia Militar, no Jardim Europa, em Goiânia, deixou pelo menos nove mortos e um ferido nesta sexta-feira (25). Segundo o Corpo de Bombeiros, os adolescentes atearam fogo a um colchão enrolado na grade de um dos alojamentos da Ala A. Em nota, o Governo de Goiás lamentou as mortes e disse apurar o ocorrido (veja íntegra abaixo).

O adolescente ferido no incêndio foi levado ao Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol). Segundo a unidade, ele tem estado de saúde considerado gravíssimo.

A assessoria da Polícia Militar informou que não vai se pronunciar sobre o assunto, porque a responsabilidade pelo local é da Secretaria Cidadã. Em nota, o órgão declarou que não houve rebelião, mas não explicou o que causou as chamas. O órgão disse ainda que vai passar detalhes sobre os prejuízos e providências que serão tomadas após o trabalho dos bombeiros.

O Instituto Médico Legal (IML) informou à TV Anhanguera que as vítimas terão que ser identificadas pela arcada dentária, já que a maior parte dos corpos está carbonizada.

O Corpo de Bombeiros informou que foi acionado às 11h27 e enviou quatro caminhões para apagar as chamas e resgatar feridos. No centro de internação estavam cerca de 50 internos, mas no alojamento incendiado estavam 11 adolescentes.

Conforme documento obtido pela TV Anhanguera, no último dia 6 de março uma vistoria no local detectou que a unidade estava superlotada. Apesar de ter 52 vagas, o local abrigava 84 menores, todos do sexo masculino.

G1 entrou em contato com a Secretaria Cidadã, por e-mail, e aguarda posicionamento do órgão.

Apreensão

Familiares foram conduzidos a um auditório dentro do batalhão para receberem informações sobre o incêndio e mortes. A tia de um dos internos disse que o sobrinho está na unidade há um mês, mas que toda a família está aflita por não ter notícias sobre como está o garoto até o momento.

O advogado Jean Felipe defende quatro menores que estão internados na unidade e também faz críticas. "As informações são bem poucas, recentes. As famílias entraram em contato conosco dizendo que teve um incêndio. Tudo que eu sei até agora é que um dos meus clientes não estava na ala em que houve o incêndio."

OAB

O membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Gilles Sebastião Gomes criticou o local onde os menores estavam e informou que irá criar um comitê para a análise do caso.

“Em 2013, a Defensoria Pública do Estado de Goiás entrou com uma ação civil pública que determinava a limitação das vagas nesse centro de internação e, até hoje, isso não foi cumprido pelo estado. A Ordem dos Advogados do Brasil vai tomar atitudes no sentido de interditar essa unidade e, caso contrário, limitar as vagas em 50 internos”, disse.

Ele afirmou ainda que a unidade não tinha a estrutura necessária para receber os internos. “Essa unidade tem capacidade para 50 internos, mas nos últimos dias oscilava em cerca de 80 pessoas. Sem contar isso, falta água com frequência. As condições que o próprio Estatuto da Criança e Adolescente determina não são cumpridas”, explicou.

O governador de Goiás, José Eliton, estava em Cuiabá para um encontro de governadores, mas cancelou sua participação no evento e já está retornado para a capital para acompanhar a situação.

Em nota, o governo disse que as causas do incêndio serão apuradas após a conclusão da intervenção dos bombeiros e da Polícia Militar no local.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que ainda não havia sido acionada para investigar o caso até as 12h20 desta sexta-feira.

Nota do Governo de Goiás

"Acerca do ocorrido na unidade de internação de menores:

O incêndio em um alojamento do centro que abriga menores infratores no 7º Batalhão da Polícia Militar foi provocado pelos próprios internos. Nove adolescentes morreram. Um acabou ferido e foi levado para o Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol).

As providências para combater o fogo foram tomadas de imediato e evitaram um dano ainda maior. Todas as forças policiais já estão mobilizadas para apurar as causas do incêndio.

O governador José Eliton, assim que informado, determinou que fossem tomadas as medidas necessárias para a apuração das causas e para o apoio aos familiares dos internos. José Eliton, que está em Cuiabá - onde participa do Encontro de Governadores do Brasil Central -, também antecipou seu retorno a Goiânia para acompanhar e designar novas providências necessárias.

O Governo de Goiás lamenta o ocorrido e externa sua solidariedade aos familiares dos adolescentes mortos."

Fonte: Vitor Santana, G1 GO