BRUMADINHO - Os mil dias da tragédia desencadeada com o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, marcam com certa tristeza a evolução no trabalho do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que foi forçado a encarar novas estratégias de buscas ao longo deste período.
Ao chegar no milésimo dia de Operação Brumadinho , o Estado de Minas conversou com o chefe do Estado-Maior, coronel Erlon Dias do Nascimento Botelho. O militar lista aprendizados e transformações do período e constata que a aproximação da corporação com os atingidos se tornou fundamental para o êxito dos trabalhos.
Confira a entrevista:
A Operação Brumadinho é histórica. Quais transformações ela trouxe para a tropa e para a corporação?
A primeira questão é a forma como a gente passou a encarar qualquer evento dessa magnitude. Em especial para a tropa, houve uma melhoria na capacitação, um emprego maior daquilo que a gente treina no dia a dia e, principalmente, a descoberta e a utilização de equipamentos que até então a gente não tinha no nosso mercado.
E para o senhor, como bombeiro e chefe de estado-maior?
Com certeza é um momento em que a gente reflete muito sobre tudo aquilo que a gente vivencia e muito mais a forma como a gente pode responder à sociedade. A Operação Brumadinho foi marcada para nós, bombeiros militares, com uma proximidade muito grande com a comunidade. Isso às vezes é raro: a gente atende a ocorrência e volta pro quartel. Aqui, até hoje, 1 mil dias, a gente praticamente conhece todas as famílias, conhece quem está envolvido. Essa proximidade é marcante, foi e é importante, principalmente com os resultados. Uma efetividade jamais vista, eu posso dizer, no mundo.
E enquanto ser humano?
É uma situação muito emotiva. A emoção vem no seguinte sentido: que a gente pode fazer alguma coisa diferente. A gente passa a reconhecer as fragilidades, a compreender um pouco mais o sofrimento alheio e, principalmente, a dedicação em dar uma resposta melhor.
Depois de mil dias, o senhor considera que, estrategicamente, poderia ter feito algo de diferente em algum momento da operação?
Não, porque eu pessoalmente acompanhei todas as estratégias. Tirando a primeira fase que é reativa, a partir da segunda, toda estratégia que a gente entrava, a gente pensava o que poderia ser feito para melhorar. Entendo que a cada estratégia foi um aprendizado.
Há um levantamento sobre os custos da operação até aqui?
Ainda não. A operação não encerrou. A gente precisa levantar tudo que foi gasto em termos de maquinário, de operação. Apenas ao término a gente vai ter essa noção. Mas foram inúmeros milhões, não tenha dúvida.
O que o senhor acredita que precisa ser feito para que tragédias como a de Mariana e Brumadinho não ocorram mais?
Obviamente que em termos técnicos é muito difícil porque a nossa função de bombeiro trabalha muito em cima das consequências. Mas, obviamente que a questão preventiva tem que estar em primeiro lugar. Sempre estar acompanhando. Acho que os órgãos que participaram de Brumadinho melhoraram do ponto de vista fiscalizatório, do ponto de vista interno, para estar pensando em alguma coisa que possa prevenir. Seja melhorando a fiscalização, as condições de trabalho e entender aquilo que aconteceu para não acontecer mais.
Para entender a dimensão da tragédia
Em 25 de janeiro de 2019, às 12h28, milhões de metros cúbicos de rejeitos se rompiam na barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, desencadeando a maior tragédia do Brasil em termos de perdas humanas.
Até hoje, 262 vítimas foram encontradas e identificadas. Oito pessoas permanecem sendo procuradas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).
O volume de rejeito foi de aproximadamente 10,5 milhões de metros cúbicos, o que equivale a cerca de 4,2 mil piscinas olímpicas (uma piscina olímpica padrão tem 2.500 metros cúbicos).
Com a quantidade de rejeito, seria possível fazer 4 pirâmides de Quéops (maior pirâmide do Egito, com volume de construção de 2.574.466 metros cúbicos)
Atualmente a área de busca envolve aproximadamente 290 hectares.