RIO — A a perícia do incêndio na Wiskeria Quatro por Quatro , no Centro do Rio, na última sexta-feira, que vitimou quatro bombeiros, foi realizada na manhã deste domingo. Peritos do Instituto Carlos Éboli chegaram ao local por volta das 8:40h, mas o trabalho só iniciou após a chegada das autoridades policiais, às 9:15h. Um drone foi usado pelas equipes para capturar imagens de cima do prédio.
Hoje as equipes da Polícia Civil concluíram o trabalho iniciado neste sábado, já que foi preciso encerrar as atividades no dia anterior por não haver condições de entrar na casa devido o forte calor e grande quantidade de fumaça .
— Tivemos acesso a toda edificação, o que não foi possível ontem. Conseguimos determinar o foco do incêndio, no terceiro andar, e vamos trabalhar posteriormente a partir de uma atividade de escoramento do local para estabilidade da área, para a perícia ter acesso com mais segurança e trabalhar mais especificamente nesse local, explicou o perito criminal Victor Sátiro.
Quatro funcionários da casa auxiliaram a equipe de perícia com informações sobre o prédio e seu funcionamento. A gerente da wiskeria participou de uma simulação no pavimento do terceiro andar. De acordo com o delegado do caso, José Luiz Duarte, foi ela quem viu a fumaça e pediu ajuda. Um segundo funcionário usou um extintor no local para tentar cessar qualquer possível foco de chamas.
— Foi a gerente quem entrou no depósito de material descartável e viu a fumaça. Imediatamente ela fechou a porta e foi buscar ajuda e retornou com um colega que usou um extintor no local. Eles fecharam a porta achando que estava tudo sob controle. Em seguida chegou uma guarnição do bombeiros, que foi acionado por terceiros, informou o delegado.
Alguns bombeiros que participam da ação são colegas de turma dos militares mortos no incêndio. Eles lamentaram a perda dos colegas que morreram durante o combate às chamas no estabelecimento.
— Já chorei tudo o que tinha para chorar. Precisamos seguir em frente — disse um deles.
Peritos da Polícia Civil examinam a whiskeria Foto: Marcio Alves / Marcio Alves/ Agência O Globo
De acordo com o delegado José Luiz Duarte a linha de investigação da polícia é um possível curto em um dos bocais de lâmpadas existentes no depósito da wiskeria. Mas a causa ainda é inconclusiva.
— Só existiam dois bocais de lâmpadas dentro do depósito, e o interruptor era do lado de fora. É uma possibilidade, esclareceu.
José Luiz Duarte falou ainda sobre a responsabiidade da casa em relaçao ao incêndio. Segundo ele, as informações colhidas pelos peritos serão importantes para concluírem o caso.
— Responsabilidade civil é diferente de responsabilidade criminal. Hoje os peritos conseguiram recolher material que será importante para concluir se há indício de culpa ou não. A exclusão de culpa ainda não é uma definitiva, mas até o momento, não foi verificado nenhuma conduta que nos permita direcionar como incêndio criminoso.
Rodrigo Cunha é responsável pela brigada de incêndio da Transpetro e auxiliou os bombeiros no combate as chamas. Segundo ele, foi a sua brigada que acionou o socorro.
— Identificamos o princípio de incêndio e acionamos o corpo de bombeiros. Nossa brigada de incêndio evacuou o prédio, que é anexo ao prédio da Quatro por Quatro. Cedemos 3 cisternas de água para ajudar e evitar que as chamas atingissem outros prédios.
Duas viaturas do corpo de bombeiros estavam no local, e o prédio do CREA, o Conselho Regional de Engenharia está servindo de ponto de apoio para os militares.
Criados juntos, bombeiros mortos em incêndio no Centro foram enterrados na mesma sepultura
No sábado foram enterrados outros três militares, vítimas do incêndio: o segundo sargento Geraldo A. Ribeiro, e os cabos José Pereira de S. Neto e Klerton G. de Araújo.
Dos bombeiros que participaram da ação, ainda há um internado no Hospital Central Aristarcho Pessoa (HCAP). O capitão David Mont`serrat V. da Cunha segue no HCAP e seu quadro de saúde é estavel. Na manhã de sábado o capitão Thiago Agostinho recebeu alta.
Enterro do cabo Pereira no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap: praticantes do candomblé, familiares do bombeiro vieram de branco ao enterro Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Os cabos José Pereira de S. Neto e Klerton G. de Araújo foram velados em Sulacap, no sábado, e moravam em Bangu, na Zona Oeste do Rio. A amizade e o companheirismo deles, ambos de 35 anos, foram lembrados pelos amigos que compareceram ao cemitério Jardim da Saudade para prestar as últimas homenagens.
Os dois, inclusive, foram enterrados na mesma sepultura. A dupla cresceu em ruas próximas do bairro onde residiam. De acordo com Roberto da Luz, tio de José Pereira, eles entraram no Corpo de Bombeiros no mesmo concurso, em 2008, e atuavam juntos no Batalhão Central da corporação.
— Entraram e saíram juntos como heróis. Os nossos heróis altivos duram para sempre - afirmou, emocionado, o arquiteto Roberto da Luz, de 66 anos.
Fernando José, de 38 anos, amigo dos bombeiros, também ressaltou o companheirismo de Pereira e Klerton.
— Foram criados juntos. Caminharam juntos na carreira. Eles estudaram juntos, ficaram na mesma corporação. Acabaram tendo uma morte trágica juntos. Isso vai ficar marcado na nossa vida — acrescentou Fernando, que ao lado de outros amigos das vítimas, vestia a camisa do Carioca Futebol Clube, um time que Klerton jogava uma vez por mês.