O dia 28 de fevereiro certamente será lembrado para sempre pelos 1ºs sargentos Ângelo de Lima Justo, de 51 anos, Orlando da Silva, 54, e Sandro Caim Vale Xavier, 53. Na ocasião, o trio cumpriu seu último plantão como membros da corporação do Corpo de Bombeiros Militares de Montenegro. O dia foi de trabalho, mas também teve festa e muita emoção.

Um plano arquitetado pelo sargento Ricardo Viegas de Mattos, com o aval do CBM, tirou o sargento Ângelo de suas férias, dois dias antes do término, para que ao lado de Orlando e Xavier pudesse vivenciar um dia de atividades pensadas especialmente para eles. “Essa ocasião é ainda mais importante por que é muito raro três bombeiros se aposentarem juntos, no mesmo dia, após o mesmo plantão”, destaca Mattos.

O sentimento de alegria se misturou ao da saudade. Afinal, durante mais de 30 anos cada um deles sabia que ao despertar para um novo dia teria novos desafios e surpresas. “É um momento de alegria para todos nós, mas, ao mesmo tempo um momento de tristeza por estarmos deixando nossa caserna (quartel). Chega a hora que é preciso dar adeus. A gente tem o compromisso de estar aqui 24 horas, ou pelo tempo que for preciso. A partir de agora teremos mais tempo para nos dedicarmos as nossas famílias”, declara o sargento Ângelo.

Gratidão foi a palavra escolhida pelos sargentos para expressar o período de convivência com os colegas que ficam. “Somos uma família. A gente sente a dor do outro, a união que temos é de irmão. Romper esse vínculo ainda é algo desconhecido para nós”, diz Orlando. “Aqui a gente não fica velho. Com a renovação do pessoal, os mais jovens vão amadurecendo com a gente e nós vamos nos atualizando com eles. Talvez eles nem saibam, mas nós aprendemos com eles”, acrescenta o sargento Orlando, do auge de seus 33 anos de carreira.

Mattos conviveu com os três colegas durante 16 anos de serviços, no quartel de Montenegro, a admiração e carinho por eles aparecem a cada frase dele, que permanecerá na “casa” dessa grande família. “90% da minha aprendizagem faz parte do que eles me ensinaram. Poder devolver essas pessoas incríveis para suas famílias depois de tanto terem se doado para a população, para mim não tem preço”, aponta.

“Eu já vinha me preparando para esse dia, mas, é melancólico a gente saber que não vai mais ter o compromisso de vir para o quartel. Sabemos que cumprimos nosso dever e saímos com saúde física e mental”, desabafa Xavier. “Mesmo estando preparado, na prática é uma novidade. Sei que chegou a hora de ir embora, de descansar. Agora é hora de dar lugar a outros”, conforma-se Orlando.

O trio também se emociona ao lembrar momentos marcantes, nos quais estiveram juntos. A última despedida de colegas, falecidos de maneira trágica, aparece entre as primeiras memórias. A lembrança mais recente é a da morte do tenente Glaiton Contreira – então comandante da corporação -, assassinado em 2020. Contudo, o último dia de serviço deve ser lembrado pela alegria de todos que se reuniram no quartel para celebrar o término de um ciclo na vida dos sargentos.

O plantão terminou às 20h com uma refrescante surpresa. Um banho de mangueira no pátio do quartel, na companhia de colegas, divertiu quem assistiu a cena de fora. Logo depois, os sargentos foram levados em grande estilo até suas casas. Eles foram na frente, em um caminhão com direito a sirene ligada e muita emoção. A última volta no veículo oficial trouxe lembranças sobre como eram as ruas antes de receberem quebra-molas, dos veículos que a corporação possuía quando começaram a trabalhar nela, de atendimentos de ocorrências e muitas outras recordações. Atrás do caminhão, colegas e o comandante da corporação, 1º sargento Luís Rodrigo Bialoso, seguiram em viaturas até chegar à residência de cada um deles para os “entregar” aos braços de suas famílias.