Mesmo acostumados a lidar com a pressão de salvar vidas, equipes dos Bombeiros e do Samu de São Marcos e Flores da Cunha vivenciaram uma experiência mais intensa na quarta-feira (17). Os profissionais se uniram durante dez horas para resgatar as vítimas de um acidente com um caminhão de coleta de lixo no interior de São Marcos. A operação envolveu também a Brigada Militar e a Secretaria da Saúde e de Obras de São Marcos.
O motorista Deivid André Ribeiro, 32 anos, estava acompanhado pelos passageiros, Cristian Pereira da Silva, 24, e Modou Meaye, 37. Os três foram socorridos e levados para o Hospital São João Bosco, em São Marcos, mas Silva foi transferido para o Hospital Pompéia, em Caxias do Sul. Ele passou por cirurgia, mas não há detalhes sobre o seu estado de saúde e nem dos outros dois ocupantes do caminhão.
De acordo com os Bombeiros, chovia no momento do acidente e, ao que tudo indica, o veículo, que pertence a uma empresa privada derrapou na Estrada 500, que fica entre São Marcos, Flores da Cunha e Antônio Prado. O caminhão despencou de uma altura de cerca de 80 metros. Ribeiro conseguiu sair do veículo, e depois de subir o barranco, acionou os bombeiros.
O resgate
Assim que chegou ao local do acidente, o segundo sargento dos Bombeiros de São Marcos, Paulo Alexandre Hoff, 35, percebeu que o resgate seria difícil.
— Saímos do quartel para uma ocorrência de salvamento veicular, mas quando chegamos ao ponto do acidente se tornou salvamento em altura. As vítimas não estavam presas nas ferragens, eles estavam fora do veículo, mas o caminhão despencou em uma ribanceira. Era um local de difícil acesso, o que não era rocha, ainda mais lisa pela chuva, era mata.
Hoff explica que foi preciso reforço dos Bombeiros de Flore da Cunha.
— Vimos que a operação era delicada e eles estavam muito assustados porque perceberam que era uma ocorrência bem difícil. Nós tentamos deixar eles tranquilos, conversamos para eles entendessem que chegou o suporte, que iria ficar tudo bem.
Com a queda, os três se bateram na cabine do caminhão. Eles tinham ferimentos no rosto e muitas escoriações. Segundo o sargento, o motorista parecia bem, e a primeira vítima socorrida, o jovem de 24 anos, estava a cerca de cinco metros do caminhão.
— O rapaz estava mais ferido, com muitas escoriações, possível lesão no tórax, nós fizemos o atendimento e a imobilização dele na maca. Usamos a maca de ribanceira, que pode ter atrito com rocha, com mata, e conseguimos remover ele até cerca de 50 metros e então o Samu entrou com medicação, oxigênio e soro para estabilizar e levar ele até o hospital — lembra Hoff.
O primeiro resgate levou em torno de quatro horas. Já o segundo, exigiu buscas na mata, pois Meaye havia se afastado do caminhão. Depois de localizar a vítima, era preciso subir o barranco até a estrada:
— A outra vítima acredito que por ter batido a cabeça e estar desorientada caminhou uns 50 metros para longe do veículo. Ele tinha um ferimento na face, no crânio, e creio que no anseio de sair do local, ele desceu ainda mais, até o leito de um córrego, e achou que era a cidade, então foi indo até lá.
Com a ajuda da equipe de Flores da Cunha ele foi resgatado com um sistema de cadeirinha. A equipe subiu até um ponto, onde ele teve atendimento do Samu, e depois o paciente seguiu na ambulância. O sargento ressalta que essa foi uma das ocorrências mais complicados que participou devido às características do terreno.
— Toda essa condição do terreno, de difícil acesso nunca tinha atendido. O mais importante para nós é que alcançamos o nosso objetivo: conseguirmos tirar os feridos do local com vida. A gente tenta passar essa calma para as vítimas para que ele entendam que estamos preparados. Não podemos sentir o abalo emocional, temos que agir — ressalta o bombeiro.
Experiência e capacitação
O socorrista do Samu Luciano Plínio Moraes, 53, também considerou o resgate um dos mais difíceis:
— Esse acidente foi em uns pontos mais íngremes que já pegamos. Trabalho muito em conjunto com os Bombeiros e sempre nos ajudamos. Foi bem difícil o resgate por ser distante da estrada e íngreme, tanto que tinha lugares retos. A equipe é treinada e competente, mas foi complicado, ainda mais com duas vítimas. Foi admirável porque achamos no final que não tínhamos mais braço para puxar na corda e todos ajudaram. Isso é resultado de treinamentos.
O socorrista conta que a calma é essencial.
— A prioridade é acalmar o paciente. Temos que mostrar para ele que está tudo certo, que ele está em segurança, mesmo que a gente perceba que não é tão simples assim. O trabalho é em equipe, somos um só. Todos nos ajudamos e isso faz com que funcione — destaca Moraes.
Ele aproveita para pedir conscientização à população.
— O ano passado nós precisamos manter muito a calma em meio à pandemia. Vivemos situações intensas, colegas contaminados, afastados, com depressão. Gostaríamos que o pessoal valorizasse o esforço dos profissionais de saúde. São muitas mortes e vemos muita gente que não dá bola, andam sem máscara, fazendo festa e aglomerando. Pensem, por favor — apela.