O jovem de 18 anos que morreu após ter sido mordido por um tubarão, em Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, foi alertado pelos bombeiros para o risco de tomar banho na frente da igrejinha. No domingo (3), dia do fato, os militares realizaram mais de 20 intervenções para que os banhistas saíssem do mar, em virtude do perigo no local. Menos de dois meses antes, naquela área, um homem de 34 anos foi atacado por um tubarão tigre(Veja vídeo acima)

O local onde José Ernesto Ferreira da Silva foi mordido é o ponto onde houve mais ataques de tubarão na costa pernambucana, com 12 dos 65 incidentes registradas pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), que notifica os casos desde 1992. A morte foi a 25ª contabilizada no estado.

Segundo o major Anderson Barros, do Corpo de Bombeiros, o socorro ao jovem foi rápido, porque um agente da corporação alertava para o perigo no momento em que percebeu que o ataque estava acontecendo.

"Utilizamos o apito, para avisar, e o bombeiro, mais uma vez, foi solicitar a saída dele, porque ele adentrou profundamente no mar, e foi nesse momento, de avisá-lo, que o bombeiro percebeu que alguma coisa estranha estava acontecendo. Ele conseguiu retirar o banhista da água e acionar o socorro. É lamentável saber que conseguimos retirá-lo rapidamente, acionamos os diversos órgãos e, ainda assim, temos essa morte para lamentar", disse o major.

Ainda de acordo com o major Barros, existia uma propensão aos ataques, especificamente no último domingo, por causa da hora em que o incidente ocorreu, às 16h36; durante o inverno e com o tempo chuvoso, o que deixa a água turva e facilita a presença dos tubarões na costa.

"Temos um conjunto de fatores que possibilita um incidente com tubarão. Esse período do inverno, onde a quantidade de areia suspensa aumenta, com a chuva, deixando a água mais turva. O tubarão ataca, muitas vezes, para entender se aquele ser faz parte da sua cadeia alimentar. Quando ele identifica que não é, solta, mas aí está uma vítima lesionada", explicou o major.

De acordo com Sebastião dos Santos, comerciante que desde 2015 trabalha nas redondezas do local onde ocorreu o ataque, são constantes os avisos do Corpo de Bombeiros aos banhistas que, mesmo com as placas de perigo, insistem em avançar no mar de Piedade. Em toda a orla pernambucana, há

"O Corpo de Bombeiros foi lá, avisar a eles, e eles continuaram lá e um avançou. Foi a hora em que o tubarão pegou. No sábado [dia 2], os bombeiros foram buscar uma turma de jovens que estava no mar. Ontem de manhã buscaram um casal no mesmo local. Quando vi, já foi o sangue. Os bombeiros correram, outro senhor também pegou ele, foi quando chegou a ambulância", disse Sebastião.

O ataque

O ataque ocorreu às 16h36 de domingo (3), na frente da igrejinha de Piedade, área considerada pelos bombeiros uma das mais perigosas na orla. O jovem morreu nesta segunda-feira (4), no Hospital da Restauração (HR), no Derby, na área central da capital pernambucana. José Ernesto Ferreira da Silva chegou a passar por uma cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos.

Após ser retirado da água, José Ernesto foi socorrido pelos Bombeiros e pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Primeiro, ele seguiu para o Hospital da Aeronáutica, também em Piedade. Em seguida, teve que ser transferido para o HR.

O jovem sofreu duas paradas cardíacas antes de ser submetido a uma cirurgia. Segundo o médico do Samu responsável pelos primeiros socorros, Wagner Monteiro, a mordida atingiu o fêmur da perna esquerda e parte do pênis do paciente.

No HR, o rapaz passou por um procedimento de pouco mais de três horas, na noite de domingo. Os médicos tiveram que amputar a perna esquerda para conter o sangramento.

De acordo com o HR, o óbito ocorreu às 4h05. Segundo a assessoria de imprensa da unidade, José Ernestor deixou o bloco cirúrgico por volta das 21h30 do domingo, após amputar a perna esquerda e parte da genitália. O jovem chegou a seguir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Os pais de José Ernesto estiveram na unidade de saúde. Abalados, eles afirmaram que o rapaz saiu de casa para ir para a praia sem avisar. Depois da apuração do caso, o Cemit deve se reunir para avaliar a situação.

Caso recente

O incidente ocorreu na mesma área em que um homem de 34 anos havia sido mordido por um tubarão em abril deste ano. Pablo Diego Inácio de Melo, natural do Rio Grande do Norte, teve os membros do lado direito do corpo amputados após o incidente.

Segundo o oficial de operações do Grupamento Marítimo (GBmar) que participou do atendimento, capitão Arthur Leone, o homem estava numa área sinalizada por placas, com água na altura da cintura, quando foi mordido. Após perícias, o Cemit confirmou que o homem foi mordido por um tubarão.

Os médicos chegaram a afrimar que o estado de Pablo era gravíssimo e que havia risco de morte. Após passar a respirar sem a ajuda de aparelhos, Pablo Diego conversou com a mãe no hospital. Ela disse que o filho contou que lutou com o tubarão ao ser atacado.

O caso de Pablo foi o 64º incidente com tubarão contabilizado pelo Cemit. Em nota divulgada na época, o órgão apontou que o incidente foi "presumivelmente provocado por tubarão tigre".

Depoimento

Em entrevista à TV Globo, o potiguar Pablo Diego Inácio de Melo afirmou que havia tirado o domingo de folga e estava jogando futebol na praia com alguns amigos. Antes de ir para casa, eles foram mergulhar no mar para tirar a areia do corpo. (Veja vídeo acima)

O banhista também afirmou que estava numa área rasa, com água na cintura, e achou que o tubarão era um amigo brincando com ele. Pablo Diego também relatou ter acordado no dia seguinte achando que o ocorrido tinha sido um pesadelo.

Fonte: G1 PE