Fiação exposta e risco de novos desabamentos foram alguns dos desafios que quase fizeram os bombeiros adiarem o trabalho no local do soterramento que matou duas adolescentes e deixou uma menina de 9 anos ferida em Camboriú, no Litoral Norte catarinense, na madrugada de terça-feira (20). Os socorristas mudaram de ideia ao ouvir a voz de uma criança.
"Eram três jovens deitadas na cama. A menor delas estava no meio. Ela respondeu quando a gente chamou e isso nos fez continuar. Se não tivesse respondido, teríamos desistido, tamanho era o risco" revelou Jorge Batista, subtenente em Balneário Camboriú, que participou do atendimento.
Ao chegar no local do deslizamento, no bairro Jardim Aliança, o grupo se deparou com condições desfavoráveis de trabalho. Segundo Batista, além de haver risco de um novo desmoronamento, chovia e a fiação exposta indicava também que o local estava energizado. Se desligassem a luz, porém, os bombeiros conseguiriam trabalhar.
Além da criança, duas adolescentes - as primas Ketelhem Arno Ribeiro, 16 , e Elaine Marques, 17 -, estavam no quarto que desabou. Elas, no entanto, morreram no local. Na residência também estavam os pais de Ketelhem, além do irmão mais novo dela, que não se feriram.
Resgate desafiador
Assim que ouviram a voz da menina de 9 anos, os bombeiros conseguiram tirar o barro que tapava o rosto da criança, que falava normalmente - mesmo com uma barra de ferro forçando contra a cabeça dela. Ela chegou a ser hospitalizada, mas recebeu alta ainda na terça-feira.
"Ela segurava a minha mão e dizia: 'Tio, vocês não vão me deixar aqui, né?! Falta muito? Está acabando?'. Eu prometi que tiraríamos ela" — emocionou-se o bombeiro.
Batista relata que os bombeiros estavam com dificuldade de retirar a barra de ferro, que mantinha a criança presa à cama. O desencarcerador, equipamento usado nesses casos, chegou a quebrar em uma das tentativas.
Depois de mais de uma hora de escavação, que teve o apoio de populares, e da chegada de um outro desencarcerador, os profissionais conseguiram expandir a barra de ferro e livrar a cabeça da menina.
"O risco era de ceder de novo e cair tudo na cabeça dela. E, se caísse, seria fatal", detalha.
A menina foi retirada sem ferimentos graves. "Assim que terminou, o sargento Murilo [que estava acompanhando os trabalhos] chorou. Foi forte", comenta.