O número de afogamentos nas praias e rios de Santa Catarina está maior do que nas temporadas passadas. Entre 17 de dezembro de 2022, quando o CBMSC (Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina) iniciou a Operação Veraneio, e 8 de janeiro deste ano, foram registrados 1.384 salvamentos no Estado.

São histórias com final feliz, em que o trabalho dos guarda-vidas impediu a tristeza de muitas famílias. Entretanto, no mesmo período, 21 pessoas morreram afogadas no litoral catarinense, 12 nas praias e nove em água doce.

As vítimas desta temporada têm, em média, 36 anos e todos são homens. Entre eles, Andrey Silverio, 33 anos. Ele desapareceu em 21 de dezembro, enquanto surfava em Itapema, no Litoral Norte.

Testemunhas viram o surfista em dificuldades no mar e, depois, apenas a prancha foi encontrada. O corpo de Andrey foi localizado no dia seguinte.
 
Também chamam atenção as ocorrências com pescadores. Cinco perderam a vida afogados nesta temporada. Entre eles, João Carlos Santos Leal, 53 anos, que morreu durante o resgate de um naufrágio no Pântano do Sul, em Florianópolis, em 22 de dezembro.
 

A maioria das mortes (16) ocorreu em áreas sem cobertura de guarda-vidas. Por isso, eles orientam: “banhistas devem priorizar as praias com postos guarda-vidas”.

Vanessa Mendes é pioneira na função. Ela participou do primeiro concurso com vagas para mulheres e se encantou pela profissão. Natural do Pará, em Santa Catarina desde os 11 anos, Vanessa trabalhou até 2006 como guarda-vidas civil.

Em 2020, repetiu o curso e retornou. Atualmente, orienta e salva banhistas na Joaquina, uma das praias mais perigosas de Florianópolis, ao lado da Praia Brava, Campeche, Matadeiro, Praia Mole, Morro das Pedras e Santinho.

Segundo Vanessa, o trabalho nesta temporada está mais intenso. Domingo (8), ela executou o salvamento que considera o mais marcante deste verão.

Ela orientava um homem perto da bandeira vermelha – onde o banho é perigoso – e que só atendeu a recomendação depois que Vanessa foi mais enérgica. Em seguida, a guarda-vidas percebeu que precisava ajudar outros banhistas em perigo, um homem e uma menina.

“Quando cheguei perto, ofereci ajuda, mas o homem disse que estava bem e queria que eu socorresse a filha. Era uma argentina, Alina, 13 anos. Quando saí da praia, todo mundo aplaudiu. Tenho uma filha nessa idade e penso como é gratificante os pais poderem voltar com os filhos para casa. Toda vez que isso acontece, fico feliz e grata, porque um pai não vai chorar a perda de uma filha”, relatou Vanessa entre lágrimas.

Efetivo está em 70 postos

Subcomandante do Batalhão de Florianópolis, o major Ireno ponderou que, entre o Natal e as primeiras semanas de janeiro, sempre há mais movimento nas praias.

“Esse ano estamos trabalhando muito na faixa de areia, com o pé na água o tempo todo e fazendo muita prevenção para evitar que as pessoas entrem em risco de afogamento”, ressaltou o major.

As equipes de guarda-vidas estão em 30 praias de Florianópolis. Diariamente, mais de 180 guarda-vidas atuam, espalhados em 70 postos.

A Capital tem também nove motos aquáticas, duas embarcações e o apoio do helicóptero Arcanjo. Para Ireno, o índice de afogamentos está um pouco acima das outras temporadas, mas não saiu do controle.

“Vale lembrar que boa parte dos afogamentos acontecem em regiões desguarnecidas, onde não há prevenção e orientação, então, o banhista desconhece o risco, se afoga, o socorro demora e a pessoa infelizmente morre”, disse.

Visando integrar e treinar as equipes de socorro que atuam no resgate de afogamentos perto de costões, o 1º Batalhão de Bombeiros Militar realizou, ontem, na Joaquina, um simulado de salvamento. Participaram bombeiros militares e guarda-vidas civis.

O Batalhão de Operações Aéreas, com o helicóptero Arcanjo, também participaria, mas a aeronave foi acionada para uma ocorrência em Nova Trento.

Praias com mar mais agitado:

  • Brava
  • Campeche
  • Joaquina
  • Matadeiro
  • Mole
  • Morro das Pedras
  • Santinho

Mortes por afogamentos em outras temporadas no período de 17 de dezembro a 8 de janeiro:

  • 22/23: 12 em água salgada, 9 em água doce
  • 21/22: 6 em água salgada, 12 em água doce
  • 20/21: 6 em água salgada, 10 em água doce
  • 19/20: 8 em água salgada, 15 em água doce

Costões são um risco para banhistas e Bombeiros alertam para acidentes

O treinamento realizado na quarta-feira (11), na praia da Joaquina, pelo 1º Batalhão de Bombeiros Militar simulou uma situação bastante comum nos costões: fazendo fotos com o celular, de costa para o mar, um casal é surpreendido por uma onda, cai na água e se afoga.

A fim de ajudar, outra pessoa se lança ao mar, porém, não consegue e, repentinamente, três estão se afogando. Eles foram resgatados por guarda-vidas e levados à praia com a moto aquática.

No caso dos costões, conforme o subcomandante do Batalhão, major Ireno, a principal orientação é que os banhistas não se aproximem muito, porque podem ser surpreendidos por ondas. Na visão dele, subestimar o risco é um dos fatores que gera ocorrências.

“As pedras são bastante úmidas e ficam escorregadias, então, é preciso muito cuidado ao transitar pelos costões para não sofrer nenhum acidente. Situações nos costões geralmente são mais complexas, envolvem riscos, porque a queda pode gerar fratura”, frisou.

O major Guilherme Virissimo Serra Costa também participou do treinamento na Joaquina. Ele reiterou que os bombeiros estão muito focados na prevenção.

“Estamos o tempo todo pedindo para as pessoas não subirem [nos costões], fazendo campanhas, mas eventualmente ocorre”. A escolha do costão da Joaquina não foi aleatória.

“Esse local já teve muita ocorrência. O pessoal cai, bate, se arrasta, tem bastante laceração. Aqui, na Joaquina, temos todas as opções: os guarda-vidas, o Arcanjo, que chega rápido, devido à proximidade com o aeroporto, e a moto aquática. Mas temos praias sem moto aquática, locais mais distantes para o Arcanjo e outros sem guarda-vidas. Por isso, pedimos para o pessoal ir nas praias com guarda-vidas, que são a maioria”, reforçou.

Um minuto de sobrevivência

Segundo o major Guilherme Virissimo, uma pessoa que não sabe nadar tem, em média, um minuto de sobrevivência num afogamento. O major recomenda que, uma vez nessa situação, se a pessoa consegue subir novamente no costão é tranquilo, mas se for muito alto, o ideal é nadar em direção ao mar aberto.

“Caso um cidadão presencie uma queda, se não for habilitado, não deve tentar o resgate, porque é de altíssimo risco. O ideal é solicitar socorro, usar o 193, ou lançar objetos que flutuam para ajudar”, explicou Virissimo.

Para o major Ireno, o treinamento foi um sucesso. O salvamento das vítimas, que simularam afogamento no costão da Joaquina, levou poucos minutos.

“Realmente é rápido, porque requer urgência. Treinamos quase que cotidianamente esse tipo de situação, porque numa ocorrência real, estaremos preparados. Foi um treinamento exitoso e fundamental para que tenhamos sucesso em situações reais”, ressaltou.