Se você pensa que para apagar um incêndio florestal de grandes proporções é só chegar com uma mangueira e apontar para o fogo está muito enganado. Para combater as chamas, é necessário planejamento e muita estratégia.
Assim como em uma partida de xadrez, cada movimento deve ser calculado conforme o movimento do oponente e a estratégia pode mudar a todo instante. No caso do combate a incêndios, os obstáculos são o clima, relevo e tempo, por exemplo.
As peças são os militares que atuam diretamente no combate ao fogo e os equipamentos, que têm funções específicas para cada tipo de situação e devem ser usados conforme a estratégia que estiver sendo utilizada.
O jogador, nesse caso, é um centro de comando, com vários setores, que são responsáveis por resolver problemas e providenciar agilidade em todos os pontos do plano de ação. “Para isso, montamos um sistema de comando de incidentes. É uma estrutura de gestão de emergência. O posto de comando de o comandante e várias pessoas que vão organizar tudo. Um cuida da logística, o outro da comunicação, parte operacional, estrutura, um que cuida de pouso e decolagens e turnos de trabalho, por exemplo”, detalha o comandante do CPA (Centro de Proteção Ambiental) do Corpo de Bombeiros, Waldemir Moreira.
Outra habilidade importante é saber jogar conforme o cenário que se apresenta. Um exemplo disso é adaptar a estratégia às condições adversas. “Por exemplo, quando o vento muda de direção, aí mudamos a estratégia”, explica o comandante.
Conhecimento e experiência também são fundamentais nesse trabalho. É necessário saber analisar as condições do incêndio e entender como funciona cada técnica. “O combate a esses incêndios exige várias técnicas. Temos o combate direto, indireto e aéreo”, explica Moreira.
Entre algumas medidas, o comandante cita o pinga fogo, que é literalmente fogo contra fogo. “Você queima combustível que está no caminho do incêndio. Assim, quando encontrar [com o pinga fogo], vai parar por ali mesmo”, descreve.
Tecnologia contra o fogo
A queimada desenfreada registrada no Pantanal neste ano chamou a atenção do Brasil e levou o olhar das autoridades federais para a situação.
Com recursos federais na casa de R$ 3,8 milhões, os bombeiros de Mato Grosso do Sul receberam vários equipamentos para combater as chamas, entre eles alguns que nunca haviam sido utilizados antes.
O comandante Waldemir Moreira detalha um pouco sobre a função de cada equipamento. Para vencer a disputa contra o fogo, o estrategista precisa utilizar a combinação entre força humana e equipamentos.
Moto Bomba – de fabricação canadense, é projetada para incêndios florestais. “Ela consegue mandar água de um manancial morro acima”, explica o comandante, detalhando que é o tipo de situação enfrentada no incêndio do Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari. Ele explica que a mangueira desse equipamento tem micropartículas de água, ou seja, ela pode entrar no meio do incêndio na vegetação sem ficar danificada. Essa supermáquina ainda não havia sido utilizada em MS.
Bomba Costal – é um equipamento que fica nas costas do bombeiro. Basicamente, é um jato manual de água.
Roçadeira – Equipamento auxilia na formação de aceiros – que são espécie de barreiras para conter o fogo.
Soprador – para ajudar a apagar um incêndio, é necessário usar um com potência superior aos utilizados em empresas para soprar folhas, por exemplo. “Você consegue soprar o combustível que está pegando fogo e vai apagando as chamas”, explica Moreira.
Apesar de ter disponível vários equipamentos, homens e até aviões, o comandante esclarece que tudo tem que ser planejado e as ações precisam ser combinadas para ter o efeito desejado. “Eu coloco parte da equipe usando o soprador, outros com a roçadeira, bomba costal e abafadores. Então, distribuo, um grupo vai para um lado e o restante para outro. O avião serve para diminuir as chamas e permitir que a equipe entre no incêndio”, revelou o comandante, que é um dos cérebros pensantes no combate aos incêndios em Mato Grosso do Sul.