Dezesseis ocorrências de turistas perdidos no Pico dos Marins mobilizaram o Corpo de Bombeiros em Piquete nos últimos três anos. Uma equipe de busca está no local há mais de dez dias em busca de pistas de um esportista francês que se perdeu em uma trilha. De acordo com os bombeiros, esta já é a busca mais longa na montanha nos últimos 33 anos - a maior foi a de um escoteiro desaparecido em 1985, procurado por quase um mês, sem nunca ter sido encontrado. (leia mais abaixo)

O levantamento das operações de busca no Marins foi feito a pedido do G1 e apontou que foram contabilizadas seis ocorrências em 2016, oito em 2017 e duas em 2018, incluindo a do esportista. Eric Welterlin, de 54 anos, que chegou ao local no dia 16 de abril para treinar sozinho. Dois dias depois, no dia 18, equipes dos bombeiros de São Paulo e Minas Gerais, além de equipes especiais de busca na mata e voluntários começaram a fazer as buscas.

O Pico dos Marins tem mais de 2 mil metros de altitude e é um dos mais altos do estado de São Paulo. O local tem várias trilhas, acesso por dois estados e relevo acidentado. Além disso, a neblina dificulta os trabalhos de busca e resgate na área.

Segundo os bombeiros, nos pedidos de socorro atendidos no local, geralmente as operações duram apenas um dia e o chamado parte do próprio turista perdido. No caso de Eric, o socorro foi acionado pela família.

O responsável pela operação que busca o francês, capitão Paulo Reis, explicou que normalmente quem se perde o local tem perfil semelhante - são de turistas que tentam desbravar as trilhas sem apoio de um guia local e equipamentos adequados.

“Não pode entrar no local se não tem guia. Já resgatamos pessoas que estavam na terceira trilha no local e se perderam. Esse é um erro grave, mas infelizmente comum. É preciso estar alerta com aparelhos eletrônicos e carga extra para o caso de emergências porque há sinal de celular na região. Além do equipamento certo , precisa levar suprimento suficiente para a trilha”, explicou Reis.

O capitão ainda alerta que os chamados na área aumentam entre maio e julho, quando começa a temporada de inverno na região.

Além do apoio profissional para adentrar a mata, o bombeiro alerta para cuidados com equipamentos e vestimenta correta – o que pode ajudar na prevenção de acidentes.

Mistério

O perigo das trilhas no Pico dos Marins não é novidade. Além do caso do francês, um outro teve repercussão nacional em 1985, quando um escoteiro de 15 anos que se perdeu no local. Ao sumir sem deixar rastros, a história do menino Marco Aurélio Simon virou uma 'lenda urbana'.

A família conta que ele estava no pico com um grupo de escoteiros, do qual era integrante, quando um deles se feriu e ele foi designado para se separar do grupo e pedir ajuda. O grupo foi resgatado, mas o adolescente nunca foi encontrado. À época, a busca mobilizou cerca de 300 pessoas e durou 28 dias.

O pai do escoteiro, Ivo Simon, conta que mantém a esperança de encontrar o filho até hoje. Ele esteve no Marins nesta quinta-feira (28) para acompanhar a busca ao francês. “Fui agradecer aos envolvidos por se empenharem por tanto tempo na busca de uma pessoa. Eu sei o que é isso, e o quanto é importante que os órgãos oficiais não desistam de quem a gente ama”, disse.

Trinta e três anos depois, a família expandiu as buscas por todo o Brasil. Se estiver vivo, Marco Aurélio tem 48 anos e deixou um irmão gêmeo idêntico – o que ajuda a família na procura.

A história do desaparecimento virou tema de livro, uma série de reportagens, além de estudo de pessoas ligadas ao espiritismo e ufologia, que acreditam que algo sobrenatural ocorreu ao menino. Toda essa repercussão fez com que, nestas mais de três décadas, cinco pessoas se identificaram como Marco Aurélio. Exames descartaram que se tratava do escoteiro.

“Nós já colhemos amostras de cinco pessoas na esperança de ser nosso filho. Nós tentamos e vamos continuar tentando. Não temos corpo, foram feitas buscas intensas e ele não foi encontrado. Só temos um fato: ele não foi achado. Não trabalhamos com a hipótese de que ele esteja morto”, diz. Ivo é jornalista e tem outros quatro filhos.

Fonte: Poliana Casemiro, G1 Vale do Paraíba e Região