Bastou uma tarde registrando de perto o trabalho do Corpo de Bombeiros para entender a dimensão e importância de seu trabalho. A reportagem do O Dia esteve no quartel localizado na Avenida Miguel Rosa acompanhando o registro de ocorrências e o deslocamento para atendimento. 

É de dentro de uma sala com quatro pessoas e dois atendentes que toda a logística do 193 funciona. Em seu interior, os chamados em atendimento e em aguardo são controlados em um quadro branco, em que a cada ligação se registra a ocorrência. Quem administra esse setor, chamado Sistema de Comando Incidente, é o Coronel Kleber Soares. 

Segundo Coronel Kleber, ao receber uma solicitação, é necessário confirmar para não haver deslocamento sem necessidade das guarnições. “Quando está um pouco grave, mais de uma pessoa liga. E tentamos retornar para pessoa. às vezes não conseguimos, mas temos certeza quando mais de uma pessoa liga ou conseguimos retornar a ligação e se confirma a ocorrência”, explica. 

Até a data que corresponde ao último domingo de setembro, o Corpo de Bombeiros constatou 194 incêndios em vegetação e entulho/lixão. O horário em que as ocorrências começam a se agravar é a partir do meio dia. 

A quantidade de guarnições também depende da demanda do dia: pode variar de 3 a 5 equipes de combate a incêndio, com o mesmo número de homens. Além dessas, existem outras equipes responsáveis por resgate e salvamento, caso necessário em chamados com suspeita de vítimas. 

Essas equipes dispõem de quatro “ABTs” – Auto Bomba Tanque –, ou seja, as viaturas com todo equipamento e com capacidade de transportar 5 mil litros de água. Além disso, também utilizam dois carros pipas como apoio, veículos com reservatório de 8 mil litros, também usado quando os bombeiros recebem chamados para realizar abastecimento de água. Existe a plataforma elevatória, mais usada em para salvamentos; sua capacidade é de apenas 1.5 mil litros de água. A corporação também utiliza viaturas menores, veículos 4x4, equipados um kit de combate a incêndio para pequenos focos. 

A medida encontrada pelo Corpo de Bombeiros para driblar a grande demanda do B-R-O Bró foi a compra da folga dos militares para compor guarnições de ações planejadas. Contudo, algumas ocorrências não são atendidas, devido a prioridades, já que o efetivo é reduzido, e também a espera da confirmação. 

“Em caso de incêndio em vegetação principalmente quando há proximidade de escola, residência, estrutura física que o fogo possa atingir. Às vezes temos determinada solicitações de fogo no mato, mas ele está no meio do fato, muito distante. Priorizamos onde tem residência”, salienta coronel Kleber. 

Segundo Coronel Kleber, para que a corporação atendesse todos os chamados de forma integral seria necessário pelo menos o dobro do número de efetivos que se tem atualmente. “Pela lei, nosso efetivo está previsto um pouco mais de 1.400 bombeiros. Nosso efetivo hoje são 340, menos da metade. De inicio, para poder melhorar o atendimento nós deveríamos a cada ano incluir 100. Hoje temos concurso pra 110”, relata. 

Equipe acompanha ocorrência de incêndio na zona rural de Teresina 

A reportagem do O Dia foi a campo com uma das equipes de ações planejadas, onde a primeira ocorrência aconteceu às 13h, no povoado Cacimba Velha, zona rural de Teresina. A guarnição composta por Sargento Clébio Queiroz, Sargento Francisco Pimentel e o Subtenente Nunes se encaminhou ao local da ocorrência em uma ABT e foi fácil observar o problema, uma vez que o céu estava coberto de cinzas e com um forte odor de fumaça. 

A ocorrência era fogo no mato e logo a equipe percebeu que não representava perigo de se alastrar, já que o terreno tinha 3 metros de aceiro - distância recomendada pela corporação nessa época do ano para evitar a propagação de incêndio em áreas com muito matagal. Além disso, a guarnição também constatou que o vento soprava de modo a levar o fogo para longe da fiação elétrica. 

Munidos com equipamento de segurança – óculos e facões para cortar a vegetação, além da roupa que cobre todo o corpo, o Sargento Pimentel e o Subtenente Nunes adentraram o matagal para monitorar e verificar qual tipo de ação é ideal contra o incêndio. Segundo eles, o perigo seria se o fogo atravessasse a via e chegasse a atingir árvores mais densas presentes do outro lado. 

“A gente averigua o risco de se ter casas próximas. Quando não tem, como é o caso, a gente prefere monitorar o fogo ou fazer o contra fogo para não gastar água a toa”, informa Subtenente Nunes, acrescentando que contra fogo consiste na criação de um incêndio pelos próprios militares, em que a oxigenação de ambos os focos irão resultar no apagamento. 

A guarnição fica no local até a situação se estabilizar. Quando se percebeu que uma parte do fogo estava chegando próximo à fiação, mesmo não representando perigo, logo acionaram um jato de água para apagá-lo. 

 Desperdício preocupa corporação 

Em relação à situação dos caminhões, foi possível notar que, no ato de acionar os jatos de água, muito do líquido é desperdiçado pela parte de baixo do caminhão. Segundo um dos profissionais, a situação se dá por conta da falta de manutenção de uma peça no veículo - por isso, cerca de 100 litros de água se perdem. O problema já foi reportado diversas vezes ao Comando Geral, mas nada foi feito até agora. 

“Todo o tratamento dispensado está dentro da lei”, afirma o oficial. 

O Corpo de Bombeiros Militar rebateu as denúncias feitas pela ABMEPI no que diz respeito ao efetivo do Estado e às condições estruturais e de trabalho da Corporação. Em conversa com a reportagem, o major Egídio Leite, relação pública do Corpo de Bombeiros, reconheceu que de fato a lei prevê um efetivo de 1.100 homens, mas que o Piauí conta somente com 300. 

No entanto, ele esclarece que, neste período do ano, quando há aumento das demandas, a falta de pessoal é compensada com a compra de folga, em consonância com a lei. “Se ela fosse sistemática, a compra de folga seria um problema, mas não são todas as pessoas o tempo todo que vendem seus dias de descanso. Há um rodízio e a folga continua sendo possível. É uma cota de sacrifício”, explica o major Egídio. 

A ABMEPI mencionou ainda o fato de alguns municípios do Piauí estarem desassistidos pelo Corpo de Bombeiros, em decorrência justamente do baixo efetivo. Das 224 cidades do Estado, pelo menos 200 estariam com um déficit nos serviços de socorro e somente em Teresina seriam necessários ao menos 5 postos para atender a cidade a contento. Com relação a isso, o major Egídio destaca que só há quartel em quatro municípios e que a questão é de competência do Governo do Estado e não do Comando. O Governo é quem autoriza a realização de concurso para incremento do efetivo. 

Estrutura 

Outro ponto bastante criticado pela ABMEPI diz respeito à estrutura física dos equipamentos. “Todos os caminhões são novos, foram adquiridos há dois anos, então não pode dizer que são antigos. Todos eles têm a documentação que identifica a data de fabricação e só pela pintura você vê que são novos. Nossas picapes também são novas”, rebate Major Egídio.

Edição: Biá Boakari
Por: Letícia Santos

Foto: Elias Fontenele/ O Dia