Um pinguim encontrado na praia de Arroio Teixeira, em Capão da Canoa, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, chamou a atenção de banhistas por ser dócil com humanos na tarde desta quarta-feira (15).
Banhistas fizeram carinho no animal e tiraram fotos com ele. Mas gestos como esses são criticados pelo pesquisador do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) Ignacio Moreno.
"O animal silvestre não pode ser manipulado. É muito nocivo para o animal, tanto quanto para o ser humano. Se ele não nos transmitir nenhuma doença, nós podemos transmitir a ele, o que pode dizimar uma população inteira [de pinguins] e causar problemas", disse Moreno, que também leciona na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Isto é crime ambiental", disse, ao ver selfies tiradas por turistas com o pinguim.
O animal aparece em um vídeo seguindo os passos do salva-vidas Humberto Nilo Bianchin Gass(assista acima). "Ele foi entregue por um banhista a meu colega. Fizemos contato com o pessoal da [Patrulha] Ambiental [da Brigada Militar], para eles darem um encaminhamento", conta o salva-vidas.
A Patrulha Ambiental da BM encaminhou o animal para os cuidados do Ceclimar. No centro, foi diagnosticado que o animal, que veio da Argentina, está fraco e debilitado, porém não apresentava ferimentos. Após ser tratado, ele deverá ser solto na praia de Tramandaí, também no Litoral Norte.
Pinguim foi achado na praia de Arroio Teixeira
(Foto: Humberto Gass/Arquivo Pessoal)
Gass conta que o pinguim não estava ferido, e que se surpreendeu com a facilidade do animal em interagir com pessoas. "Ele era bem dócil, normalmente pinguins bicam. Ele parecia já ter convivido com pessoas, saía atrás", conta.
O vídeo em que o pinguim seguiu Gass, segundo o relato do salva-vidas, foi gravado no momento em que tinha início um temporal na beira da praia. A residência onde o animal entra atrás do salva-vidas é de um colega. "Com a incidência de descargas elétricas, o afastamos da orla."
A fonoaudióloga Drica de Lucena, de 33 anos, ex-secretária municipal de Turismo de Caxias do Sul, na Serra gaúcha, conta que levou a sobrinha para ver de perto o animal.
"Fiquei sabendo na praia que tinham achado o pinguim na beira do mar. Quando chegamos lá, ele estava sob cuidados dos salva-vidas. Tenho uma sobrinha pequena, que nunca tinha visto um pinguim e queria conhecer, e fomos ver", conta. "O bichinho era muito manso e dócil com as pessoas. Parecia que já teve contato com humanos."
Segundo o pesquisador do Ceclimar, o animal é um Pinguim-de-magalhães, espécie encontrada no sul do continente, de idade juvenil. "Ele não está apto para reproduzir, pela idade, e por isso não voltou para a colônia. Deve estar no primeiro ano de vida", disse Moreno.
O profissional afirma que pinguins costumam ser dóceis com seres humanos, mas podem atacar com o bico, o que eleva ainda mais o risco da transmissão de doenças. Segundo ele, a orientação para este tipo de situação é deixar o animal na praia, a menos que ele estivesse ferido, doente ou sujo de óleo que eventualmente tenha vazado no mar.
"Só é recolhido o animal que precisa ser reabilitado. Se ele não tiver nenhuma das condições, o melhor é deixar na praia. Ele vai descansar e retornar à colônia. Se ele não conseguir, a seleção natural vai definir o rumo dele."
Além de pedir que banhistas não toquem em animais silvestres, Moreno pede que não deixem lixo na praia. "Já encontramos um pinguim morto com um canudo inteiro no esôfago", conta.
Fonte: G1/RS