Daniela, Asaléa, Luana, Yara, Michelle, Luciene, Marli e Ana Paula. Mulheres com realidades diferentes, mas que têm uma coisa em comum: fazem diferença na área em que trabalham, muitas delas sendo referência ou até pioneiras em campos profissionais dominados por homens.

O g1 Minas ouviu as histórias dessas mineiras e os relatos farão parte de uma série de reportagens para ajudar nas reflexões em torno do empoderamento feminino, às vésperas de mais um Dia das Mulheres, lembrado todo 8 de março.

Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) feita no ano passado, mostra que as mulheres representam 53% das bolsas da Capes, mas ocupam apenas 17% das cadeiras da Academia Brasileira de Ciência.

Outro levantamento do ano passado, feito pelo IBGE, mostra que a participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou pelo 5º ano seguido, mas elas seguiam ganhando menos que os homens e ocupando cada vez menos cargos gerenciais.

Além disso, naquele ano, a taxa de participação feminina na força de trabalho era de 54,5%, enquanto a masculina era de 73,7% (veja aqui).

Outro estudo recém-lançado, este do Sebrae, mostra que 52% mulheres assumiram ter sofrido algum tipo de preconceito no mercado de trabalho em Minas Gerais pelo simples fato de ser mulher.

Apesar de tantas estatísticas negativas, estas mulheres que serão retratadas pelo g1 Minas nos próximos dias conseguiram enfrentar as dificuldades e fazer a diferença no mercado de trabalho.

A história que abre a série é da coronel do Corpo de Bombeiros Daniela Lopes Rocha da Costa, que entrou para a corporação em 1993, quando tinha 18 anos. Ao longo da trajetória, foi a primeira piloto mulher nos bombeiros e comandou a operação de Brumadinho por seis meses. Leia a seguir e inspire-se!

 

Trajetória de 'primeiras vezes'

A menina que brincava de carrinho de bombeiros, mas que não alimentou o sonho da carreira militar por ser visto como "profissão de homem", virou a primeira comandante mulher do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e a primeira piloto mulher na corporação.

Daniela Lopes Rocha da Costa entrou para os bombeiros em 1993, quando tinha apenas 18 anos. A mãe dela viu um anúncio informando que o Corpo de Bombeiros estava recrutando mulheres, também pela primeira vez, e avisou a filha.

A jovem estava entre as 4.800 candidatas para 80 vagas. Ela foi aprovada nesta primeira turma de mulheres, e hoje, aos 46 anos, atua no cargo mais alto da corporação.

"Fiz a prova e era muito concorrida. Fiz concurso e passei. O curso de formação durou 9 meses, lá eu aprendi informações básicas da atuação dos bombeiros, sobrevivência e, no final do curso, tive a percepção de que era aquilo que eu queria ser. Comecei sendo soldado", lembra.

A trajetória de Daniela no militarismo foi marcada por todas essas "primeiras vezes".

"Fiz concurso para ser piloto de helicóptero, eu era a única mulher concorrendo com homens e fui aprovada. Trabalhei como piloto, como capitão, depois atuei como major, comandei o batalhão de operações aéreas, fui a primeira mulher a comandar o batalhão de cerca de 80 homens", conta a coronel.

A coronel relembrou que, no início da carreira, enfrentou desconfianças por ser mulher, mas acredita que, por ter começado "de baixo", conseguiu mais respeito dos colegas homens.

"Eu tive uma trajetória diferente e fui construindo um caminho ao longos dos anos. Entendo que isso me favoreceu: antes de ocupar um cargo de liderança eu vivenciei o que eles estão passando, então entendia o serviço, e minha carreira foi um processo gradual. Lá no início houve uma desconfiança, mas, ao longo dos anos, essas desconfianças foram sendo diluídas", diz.

Atualmente, ela diz que não há nenhum cargo dentro do Corpo de Bombeiros exclusivo para homens.

“Sinto orgulho muito grande de pertencimento, considerando minha trajetória. Venho de família humilde, estudei em escola pública a vida toda, não tinha nenhum diferencial. Cheguei na patente mais alta, com esforço próprio, isso dá uma satisfação pessoal muito grande", diz ela.

Daniela também é formada em Direito e fez quatro especializações na área de políticas públicas. Ela é casada com militar da reserva e mãe de dois filhos: uma menina de 21 anos que já tentou carreira militar e um adolescente de 13.

"Vamos ver o que o destino reserva para eles", diz a mãe.