O Corpo de Bombeiros Misto de São Sepé agoniza ao lado de um posto policial da Brigada Militar. O caminhão auto-bomba-tanque (ABT), adaptado há mais de duas décadas a partir de um caçamba da prefeitura, passa por nova reforma. Faz cerca de 60 dias que deixou a cidade rumo a Santa Cruz do Sul para ser revitalizado, com a promessa de que retornará à corporação na próxima semana.
Enquanto o veículo não volta, os moradores da cidade ficam entregues à própria sorte. Na hipótese de ocorrer um incêndio, como o que consumiu, em 18 de março, uma fábrica de parafina situada na área industrial, a única alternativa é pedir apoio aos Bombeiros de Caçapava do Sul, município localizado a 45 quilômetros de distância. "Com 22 anos de corporação, me sinto impotente e, ao mesmo tempo, vivo em constante apreensão", diz o bombeiro civil Flávio Pontes, 57.
Ele teme pela perda de vidas caso ocorra um incêndio em algum casebre e, diante da demora do deslocamento de um ABT da cidade vizinha, o fogo se alastre para outras moradias e fique fora de controle. Lembra que, na ocorrência da semana passada, houve a necessidade de reforço dos colegas de Caçapava do Sul e de Santa Maria, além de uma equipe da Base Aérea de Santa Maria, para conter as chamas. "O fogo começou às 11h e só foi plenamente controlado às 20h", recorda.
A corporação conta, hoje, com três bombeiros da Brigada Militar e 11 civis, contratados mediante concurso público pela prefeitura. As carências são reais e evidentes. Mesmo que todos os bombeiros sejam recrutados para o atendimento de uma ocorrência, apenas três vestirão equipamentos de proteção individual (EPI), em precário estado de conservação. "Os EPIs que temos foram considerados lixo pelo Corpo de Bombeiros de Santa Maria. Com 22 anos de profissão, nunca vesti um EPI novo e espero, antes da aposentadoria, ter um fardamento impecável", diz.
Sem poder contar com o ABT, para se deslocarem até as ocorrências, os bombeiros necessitam pedir carona em viaturas da Brigada Militar ou utilizar os veículos particulares. A outra viatura, um Fiat Uno Mille - doado pela Estação Passo D''Areia, vinculada ao 1 Comando Regional de Bombeiros da Capital - está "baixada". Na gíria da caserna, a palavra "baixada" significa "sem condições de uso". E, pelo visto, não é usada há vários meses face à abundância de teias de aranha que se formaram entre os pneus traseiros e a lataria.
Na cidade, os moradores costumam brincar com os constantes "desaparecimentos" do ABT. O caminhão foi apelidado de "maestro". Um trocadilho que seria perfeito se o conserto - onde se encontra - fosse escrito com "c" ao invés de "s". Mas, mesmo sabendo que o concerto não é musical, insistem em afirmar que o "maestro precisou deixar São Sepé para mais um conserto". Não é à toa que, na cidade, há quem diga que são os bombeiros que precisam de socorro. Muitos, no entanto, se revoltam com a situação de penúria da corporação. Os desabafos são externados nos cerca de 20 chamados diários recebidos na improvisada Sala de Operações. "Os pedidos são muitos, mas nem sempre temos condições de atender. Revoltados, nos chamam de desocupados e vagabundos", lamenta o bombeiro veterano.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=116&Numero=176&Caderno=9&Noticia=272567
Comentário:
A ABERGS, continua fortemente na luta pela Desvinculação do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar e esperamos que este debate seja aberto pelo Governo, pois não podemos permitir que o interesse de instituições Corporativistas, bem como os interesses particulares de poucas pessoas, venham se sobrepor aos benefícios que um Corpo de Bombeiros independente trará para a sociedade gaúcha.
Desvinculação do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar.
Para que os Bombeiros cresçam no ritmo do Brasil!