As inundações que atingiram o Estadodeixaram milhares de residências submersas. Quando a água baixar, famílias terão que retornar aos seus lares e reconstruir o que ficou para trás.  

O momento exigirá cuidados, especialmente com a higienização do ambiente domiciliar. Infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Caroline Deutschendorf alerta para os riscos de contrair doenças durante o processo de limpeza. Por isso, recomenda o uso de luvas e botas de borracha, além de produtos adequados para realizar o trabalho. 

— O barro e toda a sujeira que ficam também têm contaminação. No local pode ter a bactéria da leptospirose, coliformes fecais, além da presença da hepatite A e tétano. Para eliminar os riscos de contrair as doenças, a limpeza deve ser feita com uma solução de água sanitária e água corrente — explica.  

A medida a ser usada é de um copo (200ml) de água sanitária para quatro copos de água. É importante que, no rótulo do produto, conste 2,5% de medida de hipoclorito de sódio. Essa é a porcentagem ideal para desinfecção de superfícies. 

Conforme a infectologista, a limpeza deve ser completa, desde o chão até o teto. Nesse caso, pode-se colocar um pouco mais de água sanitária na mistura.  

caixa d'água também deve ser drenada e limpa, utilizando duas colheres de sopa de água sanitária por litro d'água. Depois, essa solução deve ser despejada.  

Cuidados importantes

Não é possível recuperar alimentos e medicamentos, que precisam ser descartados. A atenção deve ser redobrada ao limpar utensílios de cozinha, como talheres, pratos e panelas, que devem ficar de molho por pelo menos uma hora na solução. Depois podem ser higienizados normalmente com detergente.  

Sofás, colchões e travesseiros são feitos de materiais absorventes e, por isso, podem acumular bactérias. A especialista diz que a recuperação desses itens deve ser avaliada caso a caso. Embora grande parte tenha que ser descartada, alguns podem, sim, passar por processo de limpeza e serem recuperados. É importante lavá-los com água quente e sabão e, depois, deixá-los secando ao sol. 

Itens menos absorventes, como cortinas, roupas e brinquedos, podem passar pela mesma higienização, ficando de molho por pelo menos três horas na água quente. Recomenda-se que se repita o processo por pelo menos duas vezes.

— Além desses cuidados, é importante, também, que as famílias que retornarem para suas casas tenham atenção, durante o momento da limpeza, com animais peçonhentos. Podem ter muitos escorpiões, lacraias e aranhas nos cantos — alerta Caroline.

Recuperação de eletrônicos

Quando eletrônicos molham, a tendência é de que se faça o descarte de imediato, acreditando que não é possível consertá-los. No entanto, profissionais da área indicam que a água que atinge o interior do produto dificilmente pode danificá-lo. O que pode afetar o funcionamento de eletrodomésticos é a falta de cuidados após encharcado. Passado por um processo de higienização e secagem adequada, pode ser facilmente recuperado. 

Para ajudar as famílias gaúchas que tiveram suas casas inundadas e evitar que tenham ainda mais prejuízos, professores e estudantes da Universidade Feevale, no Vale do Sinos, e da Escola Politécnica da Unisinos, em São Leopoldo, passaram a oferecer o serviço de recuperação de eletrodomésticos. 

No dia 7 de maio, o campus II de Novo Hamburgo da Feevale começou a receber computadores, notebooks, aparelhos de TV e som. Atuam no projeto professores e alunos dos cursos de Engenharia Elétrica, Eletrônica e de Computação da universidade. 

Alta procura

Murilo Fraga da Rocha é coordenador dos laboratórios dos cursos, onde são realizados os trabalhos. No mesmo dia em que anunciaram o início das atividades, tiveram uma alta demanda e duas salas já estão lotadas de equipamentos que aguardam o reparo.

— Por enquanto, estamos recendo mais eletrônicos de Novo Hamburgo, mas outros municípios próximos também estão organizando pontos de coletas para trazer equipamentos para que a gente conserte — conta.

Na Escola Politécnica da Unisinos, em São Leopoldo, a mesma atividade é feita por cerca de 30 voluntários. Os trabalhos começaram nessa segunda-feira. O anúncio feito por meio das redes sociais da universidade já fez com que pessoas de diversas cidades da Região Metropolitana entrassem em contato.  

Professor do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil e um dos coordenadores do projeto, Carlos Alberto Mendes Moraes projeta que o trabalho ofertado seja estendido para Porto Alegre nas próximas semanas.  

— No momento, estamos recebemos equipamentos eletrônicos menores, como chuveiros, lâmpadas LEDs e sanduicheiras. Depois faremos um cadastro para itens maiores, como geladeiras e TVs — comenta.  

Locais de atendimento

Unisinos, campus São Leopoldo 

  • Local: Laboratório do LABREEE, sala C04 111 - Centro C - Acesso 3 - Avenida Unisinos, 950, São Leopoldo 
  • Horário: 9h às 17h 
  • Prazo mínimo de entrega: dois dias úteis 

Feevale, campus Novo Hamburgo 

  • Local: ERS-239, 2.755, Novo Hamburgo (prédio verde do campus II, 3º andar) 
  • Horário: não há um horário fixo, confira horários disponíveis nas redes sociais 
  • Prazo mínimo de entrega: dois dias úteis 

Faça você mesmo

É possível reproduzir o passo a passo em casa, mas fique atento às orientações e cuidados com a rede elétrica e garanta que a energia da residência esteja desligada, pois há riscos de choque elétrico e curto-circuito. Veja como fazer: 

  • Verifique se o disjuntor de energia está desligado 
  • Desmonte o equipamento eletrônico seguindo manuais de instrução, que podem ser acessados pela internet  
  • Limpe com uma mistura de água e álcool isopropílico, borrifadores e escovas de dente podem ajudar nesse processo 
  • Deixe secar por mais ou menos dois dias 
  • Depois de seco, é só remontar e ligar o aparelho. Caso ele não funcione, é recomendado que leve a um técnico  

 

Produção: Nikelly de Souza

Imagem: Jonathan Heckler / Agência RBS