Há de se ter uma certa dose de coragem para ser Bombeiro Militar, mas ainda mais, para ser piloto de aeronave da segurança pública. Há de se ter uma dose de paixão, porém ainda mais de amor ao próximo, para ser piloto de buscas e resgate do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul. 

Na data em que celebramos o Dia do Piloto de Helicóptero Brasileiro, saudamos aqueles que estão abrindo portas e junto de outros tantos militares, viram o sonho da primeira aeronave do CBMRS se tornar realidade, e que voaram durante o período de nove dias trazendo ela para o Rio Grande do Sul: Coronel Ricardo Mattei e Tenente Coronel Ingo Vieira Lüdke. 

Ambos ingressaram na Brigada Militar em fevereiro de 1998 e embora já trabalhassem na atividade de busca e salvamento nesta Corporação, foi também em 2001 que ambos seguiram para o CBMRS, com o mesmo objetivo, trabalhar incansavelmente pela aquisição de uma aeronave própria e inaugurar a cultura da aviação dentro do Corpo de Bombeiros Militar, o que já nos adiantando para o desfecho desta história que já conhecemos, foi um primeiro passo de sucesso. 

Mattei iniciou a formação para se tornar piloto em 1993, no aeroclube de Santa Maria, ainda quando era aluno de agronomia a Universidade Federal da cidade, precisou interromper o curso em 1996, devido ao alto valor de investimento para a formação privada como piloto, optando então pelo curso CFO no ano de 1997, para então poder fazer a formação na BM. 

Lüdke, por sua vez, já fazia parte da Corporação e das atividades de Guarda-vidas quando percebeu nos ares a possibilidade de se tornar piloto de avião e helicóptero. Ao ser Comandante dos Pelotões de Tramandaí e Capão da Canoa, presenciou uma ocorrência em Torres, onde viu um helicóptero realizar um resgate complexo, onde com a segurança necessária para salvar, era perigoso para os guarda-vidas. Foi a ocorrência que presenciou, que o fez querer se qualificar, assim se tornando piloto da BM e posteriormente do CBMRS. 

“Em 2006 fiz um curso teórico de segurança de voo, ministrado pelo Centro Nacional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – CENIPA, – Ligado à Força Área Brasileira. Iniciando efetivamente na aviação em 2007, tendo como inspiração o na época já piloto e hoje meu irmão, Mattei”, destaca Lüdke. Ambos já foram Comandantes da Companhia Especial de Busca e Salvamento. 

 

A busca da aeronave 

Ao participar de todo processo de compra da aeronave, o Coronel Mattei e o Tenente Coronel Lüdke, destacam que quando foram conhecer a aeronave nos Estados Unidos, a sensação era única, e que por mais difícil que fosse o processo de implementação da aviação no CBMRS, o primeiro passo já havia sido dado, era real e estava só começando. 

Os pilotos ficaram algumas semanas nos EUA conhecendo o equipamento que levariam para o Brasil e que atuariam, realizando treinamentos e protocolos de segurança, que vão muito além do pilotar. Realizando por 19 dias de viagem, o traslado da aeronave dos EUA (Pensacola) até o Brasil (Porto Alegre). 

“A busca da aeronave foi uma realização funcional e pessoal indescritível, um projeto de vida e profissional que se concretizou de uma forma célere, em se tratando de projeto de Segurança Pública. Para se ter ideia, eu acompanhei o processo de separação do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (2003/2004), desde a desvinculação o CBM de Santa Catarina, levou oito anos para adquirir sua primeira aeronave, em solenidade que tive a oportunidade de estar presente no ano de 2012 na cidade de Florianópolis”, disse Mattei, lembrando que o processo do CBMRS foi felizmente em menos tempo.

“Levando em consideração o ano de nossa desvinculação com a Brigada Militar, o CBMRS levou cinco anos para receber sua primeira aeronave, graças ao entendimento do necessário investimento por parte do Governo do Estado, que proporcionou ao CBMRS o fiel cumprimento de sua missão constitucional, e que até então era realizada por outras instituições de segurança pública que possuem outras missões distintas”, finalizou Mattei. 

 

Investimentos e segurança de voo

Com a chegada do helicóptero, o CBMRS investiu na operacionalização de um heliponto na Academia de Bombeiro Militar (localizada na sede do Comando), além da instalação de uma base operacional, a aquisição de equipamentos, viaturas e a formação da equipe de tripulantes operacionais. 

Além dos dois pilotos que atuam, e de mais dois formados, porém ainda não habilitados, e a tripulação que atua há alguns anos; a confiança técnica, teórica e a concentração do momento tem sido baseada em um verdadeiro check list, que vai desde a base que está em terra, até procedimentos para caso de pane. 

 

Relação humanitária e novos sonhos

Até o momento a primeira “prova de fogo” do helicóptero e da tripulação aérea do CBMRS, foi a tragédia no Vale do Taquari, onde a equipe formada por 16 militares, atuou de forma orquestrada, organizada, dividindo a escala para evitar a fadiga, e realizar a operação com o sucesso que ela pedia.  

Embora já tivessem realizado um resgate em Porto Alegre, no morro da Apamecor, onde a vítima e o tripulante foram retirados pendurados em cabo, certamente administrar a pressão psicológica dos incansáveis resgates e buscas foram no Vale do Taquari. “Não foi a primeira vez da tripulação em ocorrência, além de nós, tínhamos o apoio de equipes de outros Estados e aeronaves do Paraná, Santa Catarina, aeronave da BM, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, além do Exército, Marinha e Aeronáutica. Estávamos incumbidos e concentrados na missão, que ainda não acabou para o CBMRS”, disse Lüdke. 

Sobre ser inspiração e deixar um legado para o CBMRS, Mattei afirma que um trabalho quando feito com seriedade e profissionalismo, certamente é sinônimo de evolução. “Como temos que sonhar e trabalhar para que os sonhos se transformem em realidade, acredito  que a aviação do CBMRS tem tudo para crescer ainda mais, se  tornando mais forte no futuro, com o aumento de sua frota de aeronaves, efetivo especializado, a ainda, possibilitando a instalação de outras bases pelo Estado de forma a proporcionar uma cobertura ainda maior do serviço para a população gaúcha, como acontece com outras instituições de Segurança em nosso Estado e demais unidades da Federação”, finalizando com uma frase própria e conhecida da aviação... “o Céu é o Limite”. 

 

-------------

Hoje, os dois pilotos do CBMRS estão lotados em Porto Alegre, Mattei como Comandante do Comando Regional de Bombeiros Metropolitano, e Lüdke como Subcomandante. Ambos, ao falar da nobre missão que os confiaram, sabem da importância que tem para a história do CBMRS, do legado que deixam e das portas que abrem. 

Tanto Mattei como Lüdke, ressaltam que o principal compromisso e missão é auxiliar o Comando na estruturação de sua aviação, buscar a formação de novos Oficiais e Praças, com o intuito de dar continuidade ao serviço junto às novas gerações. Além disso, o povo gaúcho, pode ter certeza de que os pilotos ao ir em direção a busca ou resgate, abdicam de muito para cumprir a missão de proteger e salvar, e que o profissionalismo e excelência técnica, são essenciais, porém, a essência que corre em suas veias, o que os fez ser bombeiros militares, os torna ainda mais capacitados para proteger e salvar. 

Hoje a aviação é uma realidade, passando a ser um legado, e felizmente, está só começando...

A ABERGS saúda os pilotos, associados da entidade, toda a tripulação, desejando voos tranquilos e resgates serenos, além de vida longa a aviação do CBMRS, um sonho sonhado por muitos, inclusive pela associação que representa Oficiais e Praças e que diariamente trabalha por um CBMRS forte. 



Fotos: Gustavo Mansur / Arquivo pessoal dos pilotos. 

 

ABERGS

Unidos em um só corpo, Corpo de Bombeiros!