Bombeiros Militares estão sempre prontos para socorrer, colocando a própria vida em risco se preciso for, esta é sua missão de fé. Porém, a vida prega peças e bombeiros também podem estar do outro lado, precisando de socorro. Foi o que aconteceu com o 1º Sargento do Corpo de Bombeiros Militar do RS (CBMRS), Francisco Rogerio Ferreira Farias, que sofreu um infarto agudo do miocárdio, seguido de paradas cardiorrespiratórias, em 3 de abril de 2017, no município de Florianópolis-SC.

Quis o destino unir o 1º Sargento Francisco aos Soldados Kleber Souza Carneiro (socorrista do Corpo de Bombeiros de SC), Júlio César Felício (também socorrista) e Everton Pádua Costa (operador e condutor de viatura), que na madrugada da segunda-feira, 3 de abril, ressuscitaram o colega do Estado vizinho.

As fracas dores que foram aumentando rapidamente fizeram com que Francisco ligasse para o 193, talvez por ter a certeza de que os irmãos de profissão fariam todo o possível para ajudar. “Eu liguei 193 porque sabia que ali perto, na rodovia, havia uma Seção de Combate com Resgate. Falei com um soldado e disse que era bombeiro do RS, informei meu quadro e disse: Não sei se tu vai vir ou vai enviar a Ambulância do SAMU, mas preciso de resgate”, relatou Francisco, até então sentindo dores, mas não sabendo exatamente a gravidade da situação.

Com a chegada dos colegas, em cinco minutos iniciaram os procedimentos de luta pela vida. Foram inúmeras massagens cardíacas seguidas por choques até a chegada na Unidade Coronariana do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina. “Os colegas foram além do que era sua missão, ficaram acompanhando e auxiliando minha mulher naqueles momentos de desespero. Ficaram até a chegada do Resgate do SAMU para fazer a transferência para outra unidade de saúde. Esta conduta é acima de tudo um marco de sua humanidade”, destaca emocionado o Sargento gaúcho, que ficou 38 dias internado.

Não fosse a rapidez no atendimento, a capacidade técnica da guarnição que lhe atendeu, o alto grau de comprometimento e habilidade nas manobras de reanimação, certamente Francisco não teria sobrevivido. Foram três paradas cardíacas em um trajeto relativamente curto, que foram revertidas graças ao elevado senso de profissionalismo, responsabilidade, sentimento de dever e a capacidade para o trabalho, aliadas a competência dos soldados do 1º Batalhão – Canasvieiras, a qual foi imprescindível para o desfecho positivo da jornada que empreenderam naquela noite, demostrando estarem imbuídos de todo o sentimento expressado no seu lema: Vida alheia e riquezas salvar!

Ainda no hospital, o Sargento Francisco foi visitado pelo Soldado Carneiro, e pode sentir a alegria do jovem bombeiro ao perceber que o salvamento foi exitoso, inclusive sem causar sequelas. “Um jovem soldado com um sorriso largo e olhos brilhantes de felicidade por considerar que aquela era a ocorrência da vida dele, ressaltando a cada minuto que “salvar um colega de farda não tem preço”.

Durante a visita, o Soldado Carneiro, revelou a Francisco que quando jovem seu pai morreu vítima de infarto nos seus braços. “Ele era muito jovem e não soube o que fazer, não conseguiu ajudar. A coincidências da vida fizeram com que a madrugada de 3 de abril fosse a ocorrência da vida de Carneiro, que depois de muitos anos da história familiar se repetiu com um colega de farda”, lembra Francisco, destacando que estar vivo é a prova de que os bravos Bombeiros Militares cumprem com as missões a eles confiadas com dedicação e foco no sucesso.

Histórias de luta que se cruzam

Assim como a história de conquistas e superação do Sargento Francisco, quis o destino que além de ser salvo por um Soldado Catarinense, este colega do Estado vizinho também tivesse uma história de conquistas como Bombeiro Militar. Francisco conta emocionado, que Carneiro teve que buscar ajuda judicial para tornar-se bombeiro militar, e que a conquista do jovem que sempre sonhou em salvar vidas foi uma grata surpresa e coincidência.

“Toda essa história é muito significativa, o pai de Carneiro morreu nos braços dele, quando ele não tinha nenhuma noção de salvamento. Seu avô, seu grande herói foi bombeiro, e ele queria seguir os passos do avô. Ele viveu um período na Europa, mas abandonou tudo e voltou para o Brasil aos 33 anos com o objetivo de fazer o concurso para o Corpo de Bombeiros de SC. Por uma brecha que havia na lei ele conseguiu fazer o concurso, passar e entrar para a Corporação, e hoje ele conta que o salvamento que realizou ao me encontrar, foi o mais importante de sua vida”, disse.

Passado o susto, Francisco comprou o uniforme azul do Corpo de Bombeiros do RS, e presenteou o “anjo de farda” que lhe salvou. “Eu ainda não vesti o uniforme azul do Corpo de Bombeiros do meu Estado devido o afastamento médico, mas fiz questão de presentear o colega que me salvou, que proporcionou que depois da minha total recuperação eu volte a trabalhar e também a salvar vidas”, destacou o Sargento.

ABOMPEL serviu de modelo para a fundação da ABERGS

A história de lutas de Francisco também resultou na fundação da Associação de Bombeiros de Pelotas (ABOMPEL) em 2005, a primeira no Estado que apresentou a pauta do Corpo de Bombeiros como instituição independente. Após vivenciar inúmeras dificuldades, inclusive para manter a associação, foi Francisco que sugeriu a criação de uma Associação Estadual, desta forma surgindo a Associação de Bombeiros do Estado do RS (ABERGS).

“Precisávamos de uma associação que estivesse no centro, que lutasse pelos bombeiros de todo o Estado, que vestisse a camiseta e lutasse pela melhoria nas condições de trabalho e tantos outros anseios do Bombeiro Militar. Assim a ABERGS surgiu, inclusive com os mesmos moldes da ABOMPEL, com o mesmo estatuto, onde não há presidente mas sim coordenadores. Pelotas foi o embrião para esta importante associação que é a ABERGS, e eu tenho muito orgulho em fazer parte desta história”, afirma Francisco.

Fonte: Assessoria de Comunicação ABERGS, Daiane Roldão da Silva