NITERÓI — Nenhum dos seis hospitais públicos da cidade contam com aval do Corpo de Bombeiros contra incêndios: Hospital Universitário Antonio Pedro , federal, Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal), e os municipais Carlos Tortelly , Orêncio de Freitas , Getúlio Vargas Filho (Getulinho) e Hospital Psiquiátrico de Jurujuba (HPJ) não estão o Certificado de Aprovação (CA), emitida pela corporação, em dia.
Dentre as seis principais unidades de saúde particulares da cidade, metade também não tem o documento: Hospital Geral do Ingá , Hospital Santa Martha , em Santa Rosa, e o Hospital de Clínicas Alameda , no Fonseca. Regularizados, estão apenas o Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), o Hospital Icaraí e o Niterói D'or .
Algumas das medidas de segurança exigidas por lei para que os imóveis obtenham o certificado contemplam a existência de extintores e caixas de incêndio, iluminação e sinalização de segurança, alternativas de evacuação do prédio e portas corta-fogo em conformidade com as condições arquitetônicas de cada unidade hospitalar, sendo, portanto, a avaliação de acordo com as particularidades de cada local. Porém, o descumprimento dessas exigências não impede o funcionamento das unidades, uma vez que os alvarás de funcionamento são emitidos pela prefeitura de Niterói.
Ainda assim, nem mesmo a obtenção do CA garante uma total segurança aos espaços: o incêndio ocorrido no último dia 12 de setembro no Hospital Badim , no bairro do Maracanã , resultou na morte de 12 pessoas, apesar de a unidade contar com o certificado.
Segundo Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de riscos e segurança, o descumprimento das regras por parte dos hospitais da cidade mostra "claramente que a cultura de segurança no Brasil é negligenciada e que não há percepção de risco por parte da sociedade".
— As pessoas subestimam a importância das regras e requisitos mínimos de proteção, achando que a tragédia ocorre sempre com os outros. Além de seguir as determinações dos bombeiros, é indispensável que as unidades tenham um plano de resposta à emergência de incêndios; um de escape e abandono com rotas de fugas e pontos de encontro; e um de comunicação. Todos que integram a unidade hospitalar devem ser treinados, pois não é só o brigadista que deve saber como proceder numa emergência — afirma o engenheiro da Coppe/ UFRJ .
Antonio Pedro: brigada até o fim do ano
Por nota, o Hospital Antonio Pedro informa que planeja instalar uma Brigada de Incêndio na unidade até o fim deste ano e que tem 300 extintores em suas áreas de ensino, pesquisa e assistência à saúde. Segundo a direção da unidade, em dezembro de 2018, foi instituída uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, na qual são discutidos procedimentos de como agir em possíveis urgências relacionadas a incêndios.
O Antonio Pedro diz ainda que, posteriormente, será feita uma licitação para contratação de empresa especializada para formação, capacitação e treinamento de brigadistas no hospital. Conclui informando que conta com um amplo projeto para contemplar as exigências dos bombeiros e que este já fora aprovado pela corporação, estando em fase de estudo de viabilidade econômica para poder entrar em execução.
O CHN, que tem aval do Corpo de Bombeiros, informou que todos os setores do complexo, em todos os prédios, têm extintores de incêndio com manutenção periódica, totalizando 409 equipamentos. "O CHN tem uma equipe de brigadistas que é treinada e reciclada semestralmente. Esses brigadistas são identificados nos andares que atuam (um quadro com as fotos dos brigadistas está fixado nos corredores), totalizando 453, entre eles, equipe de manutenção, administrativa e assistencial. Os crachás dos colaboradores brigadistas também têm uma identificação especial", diz a nota.
Ainda de acordo com o CHN, anualmente, há um treinamento envolvendo a simulação de evacuação em caso de incêndio, com a participação do Corpo de Bombeiros, assim como um treinamento de simulação para atendimento a múltiplas vítimas. "Nele, atores são contratados e maquiados (simulando ferimentos) e atuam como as vítimas para que toda cadeia de atendimento seja realizada e treinada para situação de grandes proporções", conclui a nota.
Antigas, unidades municipais serão adaptadas
A Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Niterói, responsável pelos quatro hospitais municipais citados, informa que todos eles têm extintores de incêndio e que há um processo aberto para a contratação de empresa, por meio de licitação, para a regularização das unidades junto ao Corpo de Bombeiros, já que muitas são antigas e têm especificidades arquitetônicas. Segundo a FMS, a empresa ficará responsável por realizar o projeto de prevenção a incêndio de todas as unidades de saúde do município para que se adaptem às normas.
A FMS explica também que está realizando a contração de bombeiros civis para atuar nas unidades de emergência (serão oito bombeiros para cada) e que a Defesa Civil está cooperando ativamente com a FMS para execução imediata dessa reestruturação.
O governo do estado não se posicionou sobre a situação do Azevedo Lima. Os outros cinco hospitais particulares citados também não responderam.
Fonte: O Globo