No 14º dia de buscas ao menino Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, desaparecido em Imbé, no Litoral Norte, os bombeiros seguem com foco na orla. Com viaturas e binóculos, equipes percorrem as praias na tentativa de localizar algum vestígio sobre onde possa estar o corpo do garoto. Os pescadores da região também estão em alerta.

Na noite de 29 de julho, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26 anos, confessou ter espancado e dopado com medicamentos o filho e, depois, o arremessado no Rio Tramandaí. Ela e a companheira, Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23 anos, foram indiciadas no último sábado pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, ocultação de cadáver e tortura.

Como o rio é ligado ao mar, a principal hipótese dos bombeiros é de que o corpo do menino tenha sido arrastado pela correnteza. Equipes de diferentes municípios percorrem as praias em direção ao Norte e ao Sul.

Na manhã desta quarta-feira (11), os bombeiros inicialmente vasculharam a orla em Imbé e depois partiram em direção a Cidreira. O mar continua com água turva, o que dificulta a visualização na beira da praia.

Na terça (10), a corrente — que nos últimos dias estava puxando para o Sul — mudou e durante a tarde inverteu para o Norte. Durante as buscas, além de tentar avistar algo na água, os bombeiros ficam atentos para possíveis pistas na areia, como peças de roupas. A operação não tem prazo para ser encerrada.

Além da varredura que vem sendo realizada diariamente pelos bombeiros, a Marinha emitiu alerta aos navegantes para que fiquem atentos em alto-mar. Na beira da praia, os pescadores também são considerados fundamentais para ampliar o perímetro das buscas.

Ao saber que o menino estava desaparecido, José Carlos da Silva, 66 anos, decidiu percorrer os arredores da Lagoa do Armazém, onde costuma pescar de barco. O local foi um dos pontos que os bombeiros vasculharam, na semana passada, com emprego de embarcações e mergulhadores.

— Procurei nas beiradas. Queria ajudar. Mas já se passou tanto tempo, acho muito difícil agora — diz o aposentado, que na manhã desta quarta-feira pescava na orla de Imbé.

Perto dali, na semana passada, outro pescador localizou um par de chinelos, que a polícia acredita que possa ser do menino. O calçado ficou preso a uma rede usada para pescar tainha. Avô de uma menina de sete anos e de um garoto de 11, Silva, assim como outros moradores, conta estar chocado com o caso.

Miguel vivia com a mãe e a madrasta em uma pousada na área central de Imbé. A polícia apurou que o menino era mantido trancado em locais como um armário e uma peça de um metro quadrado. Corrente e cadeados que seriam usados para prender a criança foram apreendidos. O menino também estaria subnutrido, pela falta de alimentos.

— Vi uma foto dele, e os olhinhos tristes, com olheiras, me chamaram muita atenção. Dá para ver que era um menino mal tratado. Não sei como alguém pode fazer isso com uma criança. É terrível, desolador — lamenta o aposentado. 

Na noite de 29 de julho, Yasmin buscou a polícia com intuito de registrar o desaparecimento do único filho. Depois, confessou ter arremessado a criança nas águas do Rio Tramandaí, a cerca de dois quilômetros de onde viviam. Bruna, em depoimento, relatou que Yasmin cometeu o crime sozinha. Mas as duas teriam transportado o corpo de Miguel até o rio.

Yasmin está presa na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba. A defesa informou que ela só deve falar novamente à Justiça. Bruna está detida no Instituto Psiquiátrico Forense. A polícia pretende encaminhar até o fim desta semana uma nova parte do inquérito ao Judiciário.

Contrapontos

O que diz a defesa de Yasmin

Uma nova equipe assumiu a defesa de Yasmin na quarta-feira passada (4). O advogado Jean Severo, que passou a atuar no caso, afirmou que na sexta-feira esteve em contato com a cliente e que ela nega ter cometido o crime.

— Ela se declara inocente. Que ela foi coagida na delegacia a falar aquilo. Ela não vai participar de nenhuma simulação do caso (reprodução simulada dos fatos) e de nenhum outro interrogatório. Ela só vai falar o que realmente aconteceu na frente do magistrado.

O que diz a defesa de Bruna

Os advogados Josiane Silvano e Luiz Paulo Cardoso enviaram nota na qual informam que Bruna permanece no Instituto Psiquiátrico Forense e que "a defesa recebe com naturalidade a conclusão da autoridade policial pelo indiciamento das suspeitas, sobretudo por tratar-se de ato formal e necessário ao devido processo legal".

"Atendendo à Vossa solicitação, a defesa técnica da Acusada Bruna informa que a mesma permanece no Instituto Psiquiátrico Forense aguardando a realização da perícia/avaliação médica/psiquiátrica. Outrossim, a defesa recebe com naturalidade a conclusão da autoridade policial pelo indiciamento das suspeitas, sobretudo por tratar-se de ato formal e necessário ao devido processo legal."