Dedicação e coragem estão entre a as marcas do trabalho dos policiais e bombeiros gaúchos em operações relacionadas a perdas humanas e materiais decorrentes do ciclone extratropical que atingiu o Estado neste mês, deixando um saldo de 16 mortes, devastação e prejuízos. Diversas equipes foram destacadas para auxiliar em missões de busca e resgate em dezenas de cidades afetadas.

O Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBM-RS) realizou mais de 2,4 mil salvamentos. A corporação também enviou agentes da Força de Resposta Rápida (FR), grupo especial preparado para agir rapidamente em situações críticas.

Em Sapiranga, bombeiros da FR utilizaram um barco para conseguir acessar a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) que estava ilhada e salvaram 29 pessoas, incluindo pacientes e profissionais da equipe médica. Dentre os pacientes, havia idosos e cinco pessoas acamadas.

Natural da cidade, o bombeiro Guilherme Olkoski já havia atuado em diversas situações críticas, mas ficou impactado ao ver o lugar onde nasceu devastado pelas enxurrada:

“Como cidadão sapiranguense, é um misto de sentimentos ver a cidade nessa situação. Nós vimos, no semblante de muitas pessoas, gratidão pelo nosso auxílio e, ao mesmo tempo, luto pela perda de suas histórias. Muitos construíram suas vidas ali e tiveram que deixar tudo para trás e sair apenas com a roupa do corpo”.

Cadelinha

Dentre tantas histórias comoventes contadas pelos bombeiros, uma das mais impactantes é a da cadela Laila, a única sobrevivente na casa de uma família que vivia em Maquiné. A residência veio abaixo na noite de quinta-feira (15/6) devido a um deslizamento de terra. Faleceram as três pessoas que moravam na casa: uma idosa, a filha e o genro. O animal foi encontrado sob os escombros.

De acordo com o CBM-RS, a tarefa foi árdua, tanto para conseguir acessar a casa, quanto na remoção dos escombros, porque as estruturas ficaram colapsadas, exigindo muita cautela a cada movimento. Foram horas a fio removendo destroços. Após localizarem a primeira vítima, era necessário encontrar as outras duas.

“A gente busca sempre salvar pessoas, mas foi emocionante ter retirado daqueles escombros um bichinho que simboliza o que restou da família”, relatou o primeiro-tenente Fabrício de Freitas de Oliveira, que atuou na operação.

Consternado, o soldado Eder Oliveira, que também trabalhou nesse resgate, afirmou que é extremamente doloroso localizar as vítimas já sem vida, mas o resgate da cadela trouxe algum conforto aos parentes e à equipe que participou da missão:

Ao ser resgatada, Laila tinha apenas pequenos machucados na região dos olhos, o que parecia inacreditável após 40 horas presa aos escombros. O ‘pet’ permaneceu próximo das vítimas e havia encontrado um local embaixo da pia da cozinha para se proteger.

Reforço aéreo

A ajuda também chegou pelo ar. Em regiões inacessíveis, houve necessidade de utilizar aeronaves nas missões de busca. O soldado Junior Muniz, do Batalhão de Aviação da Brigada Militar, integrou uma equipe que realizou vários salvamentos na cidade de Lindolfo Collor.

Em uma dessas situações, uma família buscou como refúgio um campo de futebol. Para não submergir, ficaram à espera de socorro em cima de arquibancadas. Um helicóptero da Polícia Civil resgatou duas pessoas, restando no local apenas um homem e seu cão. Na sequência, eles foram salvos por um helicóptero da Brigada Militar. O soldado também descreveu a gravidade das imagens que viu do alto:

“Só aparecia o topo das casas, e as pessoas estavam subindo para partes mais altas para tentar se salvar ou salvar o que tinham. É uma situação muito triste”, resume. “Não se via muita coisa a não ser água. Começamos a fazer o patrulhamento em busca de sobreviventes porque tínhamos informações de que havia pessoas em cima dos telhados para serem resgatadas. Além daquele senhor e seu cão, salvamos uma mulher e duas crianças, que estavam ilhadas”.