O bombeiro que tentou resgatar um morador do prédio que desabou no Centro de São Paulo disse que se tivesse mais 30 ou 40 segundos teria conseguido salvá-lo. Veja acima a entrevista.
O Sargento Diego orientava o rapaz, chamado Ricardo, a colocar o equipamento de segurança para ser içado quando o prédio desabou. O homem é dado como desaparecido.
"Ele dizia: 'Me tira daqui por favor', e eu respondi: 'Calma, confia em mim'", lembra o bombeiro. "A gente acreditava a todo momento que ia conseguir retirar ele de lá", disse.
"Fui orientando ele para ir se amarrando. A ideia era que passasse uma fita em volta do tórax dele. E depois ficaria preso. E depois a gente tiraria ele dessa situação”, disse o sargento.
“O problema maior foi que na hora que a gente ia retirar, o prédio caiu, tensionou a corda e ela não aguentou o peso, estourou. Não daria 30, 40 segundos, pra gente finalizar”, contou.
"Era o tempo de proteger o canto vivo e eu dar a ordem para ele sair com calma." Veja o vídeo abaixo da momento da queda clicando AQUI
Os bombeiros fizeram um buraco em outro prédio para chegar até a laje de um prédio vizinho ao que foi incendiado. "Perguntei o nome dele, parece que era Ricardo. Não deu para ouvir, tinha muito barulho", explicou.
Os moradores da ocupação também disseram que ele se chama Ricardo, com cerca de 30 anos.
Ele contou que começou a visualizar o homem da altura do 15º andar, da janela da cozinha. O sargento também contou que não visualizou outras pessoas no local e que o homem também não falou sobre outras vítimas.
"A gente fica chateado, com certeza. A gente queria ter tirado aquela pessoa de lá. Era uma vítima, uma pessoa que precisava de ajuda, que gritava por socorro. Mas a gente tem que entender que a equipe deu o melhor", disse o sargento. "Não tem como não se emocionar."
O sargento explicou que não tinha, no momento da operação, o equipamento para resgates em grandes alturas. "Eu não tinha equipamento de salvamento em altura, que seria a parte técnica do Corpo de Bombeiros trabalhar", disse.
Ele tentou montar algo simples para o resgate usando um cinto de segurança chamado de "cinto alemão" preso a uma corda. "É uma cadeira. É um cinto que a gente usa em ocorrência."
"A ideia era ele passar o cinto pela perna, para ficar preso, e a fita tubular ele passou em volta do corpo, passou por baixo do braço e passar uma segunda vez. Deu um nó e ele já estava travado. Colocou a perna por dentro. Conseguimos fazer uma ancoragem usando outro cinto, que estava com outro bombeiro", ele descreveu.
Morador tentava ajudar
Os moradores contaram que Ricardo já tinha saído do edifício, mas voltou para tentar ajudar os moradores dos andares mais altos, que estavam com dificuldade para sair.
"Muitas mulheres moravam sozinhas e tinha crianças. Ele voltou para ajudar no resgate dessas famílias", diz Gerivaldo Araújo, de 42 anos, morador e antigo porteiro do prédio.
Há quatro anos, Ricardo vivia na ocupação do prédio de 24 andares na região do Largo do Paissandu. Imagens do cinegrafista da TV Globo Abiatar Arruda mostram o momento em que um bombeiro tenta salvar Ricardo, e o prédio vem abaixo por volta das 2h50 da manhã.
Ricardo morava sozinho e trabalhava no centro de São Paulo descarregando produtos importados chineses. Por dia, é possível ganhar R$ 50, contam seus vizinhos e colegas de trabalho. "No seu apartamento, tinha mais planta do que móveis", afirma Gerivaldo.
Ele também era conhecido como "tatuagem" porque tinha várias imagens desenhadas pelo corpo. A mais famosa era o símbolo do super-herói Batman no pescoço. "As tatuagens não eram exageradas. Elas eram harmônicas", diz o autônomo Osires Palma Filho, de 36 anos, morador da ocupação.
Ricardo morava e coordenava o nono andar – cada andar tinha um coordenador. "Foi ele que autorizou uma limpeza no andar quando eu cheguei", afirma Osires, que morou na ocupação por cinco meses.
Segundo Osires, Ricardo é brigado com a ex-mulher e não tem um bom relacionamento com as filhas. Osires não soube especificar quantas filhas Ricardo têm.
O homem é considerado desaparecido pelos bombeiros, mas a corporação afirma que as chances de Ricardo ser encontrado vivo são pequenas. A corda e o cinto usados pela vítima foram achados nos escombros do prédio nesta manhã e são realizadas buscas com cães farejadores.
Fonte: Paula Paiva Paulo e Luiz Gerbelli, G1 SP, São Paulo