Igor Natusch

Foram apresentados ontem pelo governo gaúcho 522 novos alunos-soldados que devem reforçar o contingente da segurança pública do Estado. São 421 recrutas da Brigada Militar (BM) e 101 destinados ao Corpo de Bombeiros. Os novos soldados devem concluir as 1.600 horas-aula de treinamento em um prazo de até sete meses, estando liberados para atuar nas ruas a partir de fevereiro de 2018.

Chamados em abril, os novos convocados são a terceira e última leva do concurso realizado em 2014. A primeira turma, de 205 bombeiros e policiais militares, passou pela formatura em dezembro do ano passado. Para o mês de julho, outros 1.260 homens e mulheres serão incorporados, sendo 1.060 policiais e 200 bombeiros. Com a nova turma, esgota-se a disponibilidade para chamamento, sendo necessário um novo concurso para eventual ampliação do contingente.

Segundo o secretário adjunto da Secretaria da Segurança Pública (SSP), coronel Everton Oltramari, a abertura de novos certames fica condicionada à aprovação de projetos, em tramitação na Assembleia gaúcha, que mudam o regime jurídico e alteram regras de aposentadoria para integrantes da BM. O objetivo das propostas, afirma, é que os policiais fiquem mais tempo no serviço ativo.

"Para nós, (o chamamento) é um momento a ser celebrado", diz Oltramari. "Apesar de todas as dificuldades financeiras, estamos conseguindo enfrentar as carências e prestar serviços essenciais, tudo dentro de um orçamento realista. Essa é uma demonstração."

O tenente-coronel Ronaldo Buss, diretor de Ensino da BM, explica que, mesmo antes da formatura, os novatos estão liberados para estágio supervisionado em um prazo entre 40 e 60 dias. A partir daí, poderão reforçar o efetivo em eventos como a Fenadoce e a Oktoberfest, sempre acompanhados por policiais mais experientes.

Reforço no efetivo terá efeito no Interior, afirma comandante

A chegada de novos soldados da BM e do Corpo de Bombeiros deve ter efeitos acentuados sobre o policiamento no Interior do Estado. O comandante-geral da BM, coronel Andreis Dal'Lago, garante que, mesmo que o eixo entre Porto Alegre e Caxias do Sul concentre 83% das ocorrências de maior impacto social, a situação das cidades menores, fragilizadas a partir do deslocamento de efetivo para a Região Metropolitana, deve melhorar.

"Municípios pequenos, que tinham oito ou dez PMs, foram perdendo efetivo. Alguns foram saindo, se aposentando, e não foi ocorrendo reposição", diz.

Ao todo, 52 municípios estariam, no começo do ano, com apenas um ou dois policiais, ou mesmo sem efetivo específico. Segundo Dal'Lago, 45 dessas cidades já estariam com efetivo reposto, com o objetivo de chegar a pelo menos cinco PMs em cada município até o final do ano que vem.

O comandante também tratou como "uma atitude histórica" o projeto de emenda constitucional que retira o efetivo da Brigada da guarda externa dos presídios no Estado. Aprovada em primeiro turno, a iniciativa deve voltar a ser apreciada pela Assembleia no mês que vem. "Temos hoje cerca de mil homens envolvidos com a guarda externa. São soldados preparados de forma extremamente qualificada, que acabam comprometidos com algo que pode ser feito por outro profissional."

Governo federal deve diárias de PMs gaúchos desde março

Isabella Sander

O governo do Estado tem pago do próprio bolso, desde março, as diárias dos PMs vindos do Interior. O trato, contudo, não era esse, segundo o secretário estadual de Segurança Pública, Cezar Schirmer. "Para cada integrante da Força Nacional, era preciso colocar dois policiais da Brigada Militar junto. Foi nos dito que a União pagaria pelas horas extras deles. Aí, quando eles vieram, o discurso é que já não dava mais para pagar a hora extra, e sim diárias."

Como diárias só podem ser pagas para o efetivo que não se encontra em sua cidade de origem, foram deslocados para Porto Alegre 400 PMs do Interior. "Mudamos todo o nosso planejamento e os trouxemos. Esse recurso que nos foi prometido, porém, não foi pago até agora", lamenta Schirmer.

Na opinião do secretário, o fato de o ministro da Justiça e o secretário nacional de Segurança Pública terem sido trocados três vezes em um ano facilita que "as instituições se valham das decisões das pessoas que as estejam presidindo circunstancialmente". Schirmer tem audiência no Ministério da Justiça na terça-feira, em Brasília, para tratar dessa e de outras questões. 

Fonte: Jornal do Comércio

Foto: MARCO QUINTANA/MARCO QUINTANA/JC