Os restos mortais de vítimas do prédio que desabou há uma semana no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo, foram encontrados com a ajuda de cinco cães farejadores do Corpo de Bombeiros: Vasty, Sarah, Hope, Moli e Wiki.

Segundo o sargento Clovis Benedito Souza, a cadela da raça pastor belga de malinois Vasty, de 5 anos, e a labradora Sarah apontaram dois locais onde estavam soterrados ossos de moradores do prédio incendiado que ruiu na madrugada de 1º de maio.

“Geralmente, quando os cães farejam e encontram algo embaixo da terra, como um corpo, eles dão voltas ou sentam no local”, disse nesta terça-feira (8) Souza. “Se acham alguém com vida, eles latem.”

 

Na última quinta-feira (3), Vasty sentiu o cheiro de alguém sob os destroços. Era o cadáver de Ricardo Pinheiro, o Tatuagem.

Segundo o sargento, Sarah localizou na segunda-feira (7) o ponto onde nesta terça foram retirados ossos que podem ser de um adulto e de crianças. Uma análise do Instituto Médico-Legal (IML) irá apontar quem são as vítimas.

Ao todo, cinco cães estão sendo usados nas buscas por desaparecidos. Há ainda as pastoras de malinois Hope, de 3 anos, e Moli, de 5 meses, além do labrador Wiki, de 9 meses.

Treinamento

Para fazer parte dos bombeiros, não basta ter o faro apurado: os cachorros precisam ser curiosos, dóceis e brincalhões. Para verificar se os bichos têm essas características, quando filhotes eles são submetidos a provas que testam suas capacidades.

Os cães não podem ter medo de barulhos nem podem se estressar em ambientes movimentados. Durante os testes, os "candidatos" são apresentados a objetos que serão rotineiros no seu dia-a-dia, como sirenes e caminhões de resgate.

A corporação tem acordo com alguns canis para fazer esses testes. Os filhotes que se assustam com a barulheira logo são reprovados e devolvidos ao criador. Apenas os aprovados são comprados.

Algumas raças são preferidas pelos bombeiros por conta de sua disposição e facilidade no trato -caso dos labradores e dos pastores belgas de malinois.

 

Após a seleção, os filhotes são designados, cada um, ao seu próprio cinotécnico –nome dado aos bombeiros treinadores. O cinotécnico será responsável pelo adestramento e acompanhamento do cão até sua aposentadoria.

“É um trabalho muito difícil devido às condições de fogo, poeira que podem ocorrer, mas elas são treinadas desde filhote para isso”, disse Souza, adestrador da cadela Hope.

Nos primeiros dois anos, o cachorro é treinado pelo bombeiro para obedecer a comandos básicos e para aprender a procurar pessoas. A prova básica consiste em esconder uma pessoa em caixotes ou em um local de difícil acesso e pedir ao cão que o localize.

“Quando encontraram algo ou alguém, os cães recebem algo em troca, como brinquedos”, disse o sargento, mostrando um pedaço de bola amarrado num barbante para Hope.

Para não condicionar o cão ao mesmo ambiente, os bombeiros constantemente mudam o cenário do treinamento, incluindo terrenos e prédios em demolição. Entre o 1 ano e meio e os dois anos de idade, o cachorro está pronto para o trabalho.

Em média, os animais são aposentados quando atingem 8 anos de vida. Na maioria das vezes, vão morar com seus treinadores. “Já levei duas cadelas para casa depois”, disse Souza. “É natural, já que cada animal tem seu tratador.”

Local onde foram encontrados os corpos (Foto: Juliane Souza/G1)

Fonte: Kleber Tomaz e Paulo Toledo Piza, G1 SP, São Paulo